domingo, 10 de dezembro de 2023

Amigo Americano É Matador de Gazanos e Angolanos -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Cada um tem os amigos que merece. Joe Biden, a múmia assassina, tem um grande e estremecido amigo, João Lourenço. Esta amizade espúria é regada de sangue, desde o primeiro vagido. Sangue de crianças vietnamitas, angolanas, iraquianas, afegãs, sírias, líbias e agora gazanas. Quem são as últimas vítimas? O embaixador de Israel na ONU diz que são as mais de 4.000 crianças assassinadas pelos nazis de Telavive na Faixa de Gaza. 

Na missão messiânica de apresentar Israel como a terra prometida e os judeus povo escolhido por Jeová, o diplomata israelita chama gazanos aos palestinos. Porque isso de Palestina, segundo Jeová, não existe. Logo não existem palestinos. Quem está em Gaza é gazano. Quem está na Cisjordânia é alvo das milícias sionistas, fixo ou móvel, esteja em movimento ou parado. Os colonialistas portugueses também negavam a existência de Angola. Do Minho a Timor era tudo Portugal. Angolanos não existiam para além de escravos. O máximo que conseguiam era o estatuto de assimilados, se fossem capazes de imitar os ocupantes.

Os gazanos não são um delírio do embaixador de Israel na ONU. São a expressão da nova doutrina sionista. O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, líder do partido Sionismo Religioso (assumidamente nazi) revelou que Jeová falou com ele, conversa de pé de orelha e lhe disse que palestinos não existem. Palestina não existe. É tudo Israel! O ministro da Segurança, Ben-Gvir, é líder do partido nazi Otzma Yehudit. Foi condenado por terrorismo num Tribunal de Israel nos bons velhos tempos da democracia. Os palestinos são todos gazanos e devem partir imediatamente para outras paragens. Gaza e Cisjordânia são Israel!

Senhor Presidente João Lourenço, os gazanos estão a ser assassinados deliberadamente. As crianças gazanas são mortas às ordens do seu amigo Joe Biden. Ele é o assassino. Os israelitas que matam, são apenas os sargentos do estado terrorista mais perigoso do mundo no Médio Oriente. Em 2017 mostrou logo ao que vinha. Declarou o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, como inimigo público número um. O MPLA é o seu inimigo figadal. A Angola construída a ferro e fogo entre 1975 e 2017 tem de ser desmantelada. Apostou abrir caminho, a torto e a direito, ao seu amigo Joe Biden. Aos seus amigos assassinos. 

Quando falou com Joe Biden na sala oval, o bafo dele era de sangue das crianças gazanas, Das Mamãs gazanas. Dos civis gazanos destroçados à bomba. As mãos do seu amigo Biden ainda respigavam sangue dos gazanos. Até ontem eu pensava que o Presidente João Lourenço foi manchado com esse sangue inocente. Hoje sei que afinal estava sequioso desse sangue. Quer que corra esse sangue. Implora aos seus amigos do estado terrorista mais perigoso do mundo que faça correr cada vez mais sangue dos gazanos. 

Senhor Presidente João Lourenço, a guerra da CIA, do Pentágono, da Casa Branca, do Congresso, do Senado contra Angola, teve o dedo assassino do seu amigo Joe Biden. Eles mataram milhares de crianças e Mamãs angolanas. Até ontem eu acreditava que essas vítimas inocentes eram suas filhas e filhos. Suas Mamãs. Hoje sei que eram pasto para saciar os assassinos seus amigos do estado terrorista mais perigoso do mundo.

Em 1975, fui com o repórter Ryszard Kapuściński (Mais um Dia de Vida).i à frente norte. Os combates estavam duros e os seus amigos da CIA, do Pentágono, da Casa Branca, já tinham rompido as defesas das FAPLA em Samba Caju. Os nossos combatentes, reforçados pelos internacionalistas cubanos, conseguiram desalojar os invasores, do Lucala. Foram recuando até para lá dos Pambos. Entre Lucala e Samba Caju a estrada estava juncada de cadáveres. Os seus amigos mataram friamente as populações que procuravam lugares seguros em Dala Tando.

Uma Mamã estava enroscada no chão e tinha às costas o seu bebé. A bala que matou a mãe também matou a criança. Tantas crianças e Mamãs mortas pelos seus novos amigos, senhor Presidente João Lourenço. De repente ouvi gemidos. Fomos a correr para o local donde veio o som. Eram macacos chorando tantas mortes. O seu amigo Joe Biden nunca chorou essas mortes. E agora sei que o senhor Presidente João Lourenço também não.

Já passaram 48 anos e eu ainda vejo aqueles mortos amontoados nas bermas da estrada entre Lucala e Samba Caju. As suas imbambas espalhadas pelo chão. Os macacos chorando. E aquela Mamã com o seu bebé às costas. Nunca mais tive paz, senhor Presidente João Lourenço. Em 1974 os Capitães do MFA e depois o Homem Novo do MPLA, vindo da mata, fizeram-me esquecer os mortos de 1961. Por pouco tempo. Os seus amigos da CIA, do Pentágono, da Casa Branca logo armaram e financiaram os esquadrões da morte dos independentistas brancos. Centenas de mortos nos musseques das grandes cidades.

Os Comandantes Xiyetu e Iko decidiram que os repórteres tinham de contar ao mundo a guerra da CIA, do Pentágono e da Casa Branca contra Angola. Nós cumprimos. Os Manos Henriques do Grupo Zero. Artur Neves e Óscar Gil. Eu e o Bernardo. Todos os dias os jornais portugueses Diário de Notícias e Diário de Lisboa publicavam as notícias e reportagens das frentes de combate.

Também colocámos a informação nos grandes rotativos do mundo graças ao apoio do Alberto Miguez (El País, acabado de nascer e Vanguardia de Barcelona) Neiva Moreira (os grandes rotativos da América Latina), Ryszard Kapuścińsk, da agência polaca de notícias, Augusta Conciglia, África, Europa e resto do mundo, Miguelito Roa, Eloy Concepcion Perez, Muñoa, El Flaco (de Cuba) e repórteres, cujos nomes me escaparam, da Argélia, Jugoslávia e União Soviética. Os seus amigos da CIA, Pentágono e Casa Branca fizeram milhares de mortos no solo sagrado da Pátria Angolana. Soltaram os mercenários, os karkamanos, as tropas regulares do Zaire de Mobutu.

Para cumprirmos a nossa missão perdi a paz. Por isso, o dia 11 de Novembro de 1975 não foi de festa. Foi de recordar todos esses mortos, civis e “Faplinhas”. Mais aquela Mamã e seu bebé às costas, mortos pela mesma bala e abandonados às moscas na berma da estrada entre Samba Caju e Lucala.

Ontem o mundo ficou a saber que o seu amigo Joe Biden é um assassino cruel. O secretário-geral da ONU accionou o Artigo 99 para convocar uma reunião do Conselho de Segurança. A Arábia Saudita apresentou uma proposta para o cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. O embaixador de Israel disse que os gazanos têm de partir imediatamente. O cessar-fogo só acontece quando já não existir o HAMAS. O representante dos EUA, voz do seu amigo Joe Biden, falou grosso e alto: Estamos contra o cessar-fogo! 

Os cristãos só deixariam de ser pasto dos leões quando o cristianismo fosse extirpado da Terra. Ainda existe. A Palestina também não vai ser riscada do mapa. Os palestinos não vão ser exterminados pelo seu amigo Joe Biden. Ainda há Humanidade que chegue para travar os nazis de Telavive. Os seus amigos do peito, senhor Presidente João Lourenço, vão ser derrotados. O veto dos EUA à proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza mostrou ao mundo quem são os verdadeiros terroristas. Quem são os genocidas. Agora ninguém tem dúvidas. E mais ninguém me vai criticar por chamar aos EUA o estado terrorista mais perigoso do mundo,

África percebeu, antes do veto de ontem no Conselho de Segurança, que o seu amigo Joe Biden é um assassino e um genocida. Os africanos sabem, desde Lumumba, que os seus amigos do estado terrorista mais perigoso do mundo se alimentam do sangue de milhões de vítimas em África. Nem que fosse só aquela Mamã com o seu bebé às costas, assassinados na estrada entre Lucala e Samba Caju. Não me saem da memória. Povoam os meus pesadelos. 

Ontem o veto dos EUA à proposta de cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza mostrou à saciedade quem são os amigos do senhor Presidente João Lourenço. Se ainda lhe resta um átomo de respeito por Angola e o Povo Angolano, chame o embaixador de Angola em Washington e mande o mobutista Mushingi para o Leste da RDC. É o mínimo que pode fazer para honrar os milhares de mortos que os seus amigos fizeram nas guerras de Angola, entre 1961 e 2002. 

Nixon deu ordens a Spínola na Ilha Terceira, Açores, para afastar o MPLA do processo da Independência de Angola. E ele obedeceu. Pouco tempo depois, Spínola encontrou-se com Mobutu na Ilha do Sal. Ordens de Washington: O MPLA tem de ser afastado do processo de independência. A CIA e o Pentágono já estão a preparar tudo para os esmagarmos! O senhor Presidente João Lourenço sabe como foi. Grande Batalha do Ntó. Os bandoleiros da Cabinda Gulf abriram as torneiras do petróleo antes de partir. Causaram um desastre ambiental. Grande Batalha de Kifangondo. Grande Batalha do Luena. Grande Batalha do Ebo. As Grandes Batalhas pela Independência Nacional contra os seus amigos dos EUA.

E depois a terrível Guerra pela Soberania Nacional e Integridade Territorial. Milhares de mortos. Nem todos são generais foge a tempo. Nem todos são combatentes de conversa e mordomias de favor. Os que lutaram mesmo, os que viram os camaradas mortos, os que viram Mamãs mortas na berma da estrada com os filhos nas costas, não são e jamais serão amigos dos assassinos de gazanos e angolanos.

* Jornalista

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