sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Angola | Confusão de Nomes e a Maka dos Ovos -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No primeiro dia de Angola independente todas e todos que deram alguma coisa de si para esse acontecimento ímpar na História, orgulhavam-se da existência de três embaixadas na capital do novo país: Organização de Libertação da Palestina (OLP), Frente Polisário (FP) e FRETILIN, o movimento de libertação de Timor-Leste. Embaixadas dos EUA ou Portugal não existiam. Estes países estavam mais empenhados em impedir a Independência Nacional. Os novos amigos de João Lourenço (Casa Branca, CIA e Pentágono) comandavam as forças invasoras que destruíam e matavam no solo sagrado da pátria. 

O comunicado final da reunião do comité central do MPLA manifesta solidariedade com o Povo da Palestina mas, estranhamente, não condena o genocídio que Israel está a cometer na Faixa de Gaza. É a nova diplomacia. Os dirigentes do partido também manifestam apoio incondicional ao líder. Ninguém estava à espera de outra posição, nem o chefe Miala. Espero que ninguém me leve a mal por recordar este facto indesmentível: Muitos incondicionais manifestaram o mesmo apoio incondicional ao Presidente José Eduardo dos Santos, mas depois entregaram-no aos cães tinhosos da nova guarda pretoriana. Estas inconsistências é que derrubam o MPLA.

Hoje tomei conhecimento da existência de um Artur Queiroz que recebe milhões de Angola, é mercenário, trabalha para António Costa, o Partido Socialista e a UNITA. Tal cão tinhoso só pode ser sócio do Miala. Há alguns anos apareceu no meu caminho um Artur Queiroz dentista. Fez uma dívida num banco e quiseram cobrar-me. Tive que provar que não tenho dívidas aos bancos, só aos amigos. Agora aparece este canalha só para assombrar os meus últimos anos de vida. Logo tinha que ser o contrário de mim. Em Angola há uma instituição que me deve dinheiro. Espero há oito anos que me paguem!

Jamais aceitarei a existência da UNITA porque combateu contra a Independência Nacional ao lado das forças colonialistas. Fez uma aliança com os independentistas brancos no período de transição, até 11 de Novembro de 1975. Foi uma unidade militar especial dos racistas sul-africanos na guerra contra Angola, até à sua derrota na Batalha do Cuito Cuanavale. Tentou tomar o poder pela força quando perdeu as eleições, causando milhares de mortos inocentes. Protagonizou uma rebelião armada até 2002, contra a democracia. 

Nunca tive sócios, corri sempre por contra própria. Se alguma vez me associar a alguém não será seguramente ao chefe Miala. Com quem se serve dos cofres públicos para enriquecer e sustentar clientelas, não me associo. Quem monta cenas canalhas como a das ossadas da Jamba, não merece ocupar cargos públicos. Por falar nisso, aquela história de Wilson dos Santos e Tito Chingunji está muito mal contada. É mesmo uma mialada atroz.

O assassino Jonas Savimbi executou os dois dirigentes da UNITA, isso é certo e seguro. Mas podia dar sempre a desculpa de que eles se rebelaram, traíram, desertaram, espiaram para o governo de Angola. Por isso foram executados.

Matar as esposas e as crianças dos dois é que não tem desculpa, ainda que o chefe Miala as tenha promovido a “vítimas dos conflitos políticos”. Não cola. Não dá. Crianças com idades entre os três e os seis anos não queriam seguramente ocupar o lugar do criminoso de guerra. Duas esposas e mães não queriam seguramente liderar a UNITA. O Savimbi só tinha mesmo que esconder as provas dos crimes contra as duas mulheres e seus filhos para não ser considerado um assassino impiedoso. O chefe Miala tem de prestar contas sobre o fiasco da Jamba. E o tal Artur Queiroz mercenário, que recebe milhões, escusa de se esconder atrás de pseudónimos e “perfis falsos” para salvar a pele ao trambiqueiro. 

Eu acredito que o Presidente João Lourenço lidera o combate à corrupção em Angola. Nem um segundo ponho esse facto em dúvida. As minhas dúvidas residem nos alvos. Por isso espero a abertura de um inquérito sério e a sério ao negócio das ossadas das Jamba levado a cabo pelo chefe Miala. É preciso saber onde e como foi torrado o dinheiro. Não é aceitável que ao fim de tantos anos, o responsável da segurança interna só agora tenha sabido que as ossadas de Wilson dos Santos e Tito Chingunji foram queimadas, trituradas e espalhadas. Aguardo o resultado. Entretanto a senhora da recuperação de activos pode confiscar-lhe os bens.

Um militante do MPLA, Cláudio da Piedade Dias dos Santos, requereu à direcção do partido a realização de um congresso extraordinário. Com todo o respeito lhe faço um pedido: Tenha piedade de nós! O MPLA não é o PRA JA (Servir Angola). Não é o Bloco Democrático. Não é a quadrilha de assassinos da UNITA. Caso haja militantes distraídos, quero recordar-lhes que João Lourenço foi candidato à liderança do partido porque entre os elegíveis ele tinha o melhor currículo. Era o que tinha mais provas dadas. Ninguém trabalhou mais do que ele. Ao afastar-se dos princípios e valores do MPLA, perdeu muito do crédito que tinha.

Fazer um congresso extraordinário para mudar a liderança do MPLA era entregar o ouro ao bandido. Era destruir o MPLA. Até agora João Lourenço provou que é um mau Presidente da República. Mas isso resolve-se nas próximas eleições. No início do seu primeiro mandato não descansou enquanto não se livrou do presidente do partido, José Eduardo dos Santos. Obrigá-lo a uma bicefalia a meio do seu último mandato seria um desastre. Era a derrocada.

Se há alguma maka entre a Kikovo e os ovos de marca branca do vizinho ao lado, resolvam isso a bem, com diálogo, entre amigos e camaradas. Eu sei que nas economias de mercado a sério, a concorrência desleal é crime. Mas não vamos misturar ovos com divergências políticas.  

A  presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Mirjana Spoljaric, disse que o genocídio na Faixa de Gaza “é um fracasso moral do mundo inteiro, por revelar a sua incapacidade de lhe pôr fim”. As crianças continuam a ser trucidadas pelas bombas israelitas. Centenas de civis inocentes morrem todos os dias. Israel tem “bombas inteligentes” que vão directas ao alvo seleccionado. Mas dos milhares de toneladas que lançam sobre a Faixa de Gaza, mais de metade são “bombas burras” que explodem à toa. Sendo um território pequeno com milhões de habitantes, cada bomba mata seguramente muitos civis.

Quem permite esta matança dirigida, armada e financiada pelo estado terrorista mais perigoso do mundo, de facto não tem moral. Nem sequer tem dimensão humana. Todos cúmplices. São todos assassinos de mulheres, crianças e civis inocentes. O Holocausto foi uma brincadeira comparado com o genocídio na Palestina.

* Jornalista

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