quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

É QUASE NATAL... Mas isso existe?


Natal, novo ano, festas natalícias, hipocrisia exponencial, a família reunida, a noite solitária e triste dos que quase nada possuem, nem vislumbres de futuro que seja diferente. Só a pobreza num dia e o recheio de misérias nos outros sois raiados. Em Portugal tantos e tantas vezes vítimas de agora e antes da lei Cristas do governo Passos Coelho/Paulo Portas. Não existem prendas no sapatinho nem o menino Jesus aparece. Para o quê? Se aparecesse, as conversas seriam só acerca de misérias das atualidades e de passados iguais, paupérrimos, atolados de indignidades distribuídas com carregos de esclavagismos globais. A exploração de autoria de uns quantos humanos por milhares de milhões de outros humanos. 

É o Natal da humanidade que nos impingem numa religião de 'cunhas' e de expedientes, de pedofilias e de credos descredibilizados. Natal, o auge para alguns, uns poucos, a merda natalícia para milhares de milhões explorados e oprimidos, roubados, enganados, vilipendiados, iludidos (ou talvez não) e contidos. É o Natal. A quadra do ano da hipocrisia exponencial, sem limites, sem considerações de humanidades devidas desde sempre a essa mesma humanidade global que todos os dias tem por sobrevivência e presente um farto repasto de desumanidades...

Bom dia, se conseguirem. Vem aí o Expresso Curto que nos fala de quase tudo e que até inclui "histórias de encantar" papalvos. E que estão nessa condição por que não se revoltam. Antes pelo contrário, soçobram, aquiescem. De nada nada esperam e a tudo se sujeitam na tentativa de sobreviverem. É humano, dizem portadores de estolas beatificadas para manterem a ilusão e a esperança adornadas por estrelinhas piscantes e coloridas. Logo a seguir vêm no desfile untuoso os políticos, os gestores, os presidentes e os ministros, os grandes empresários multinacionais que mandam nisto tudo para contrariar as teses das existências de deuses e de meninos que nascem nas palhinhas e nos charcos mal cheirosos destinados para os povos sempre maltratados e de futuros iguais e brumosos... É a vida.

É isto que é vida? Não. Vida seria presentearem os plebeus, nos seus sapatinhos, com altas dozes de consciência/indignação e revolta incontidas para todo o sempre, em vez de sistemáticas loas.

O Curto a seguir. Um presente de Christiana Martins, jornalista da chafarica do tio Balsemão Bilderberg: “Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada, E os ruídos que há no silêncio são o próprio silêncio” (Álvaro de Campos)

Acrescentaríamos a sugestão a Álvaro de Campos de uma palavra: COBARDIA.

Bom dia. Abram os olhos... e pensem. Não dói nada.

AV | Redação PG


É quase Natal

Christiana Martins, jornalista | Expresso (curto)

“Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada,

E os ruídos que há no silêncio são o próprio silêncio” (Álvaro de Campos)

É quase Natal e lá fora há guerra. São quase dois anos de Ucrânia invadida, já passaram dez semanas do ataque terrorista do Hamas a Israel e já morreram cerca de 20 mil pessoas desde a ofensiva militar de Israel em Gaza. É quase Natal, faltam cinco dias apenas, e nestes locais, e não só, continuam a morrer crianças, mulheres e idosos, morrem reféns e morrem trabalhadores de organizações humanitárias, morrem médicos e jornalistas. Morrem de fome em consequência da violência. Morrem-nos muitas ideias e esperanças. E é quase Natal.

A morte continua à solta e é impossível fechar os olhos ao que se passa no Médio Oriente, nem esquecer que, como afirmou Catherine Russell, diretora executiva do UNICEF, citada por Nicolau Kristof no “New York Times”, “o lugar mais perigoso para ser criança no mundo hoje é Gaza”. E como a dor das ausências não tem credo, é preciso não nos esquecermos de quem também faltará em Israel, ferida que, como explicamos neste texto do Expresso, o regresso é a única forma de aplacar. E morremos todos um pouco, quando o trabalho é lutar para preservar a vida e os números só servem para tornar visível o que não devia de ser aceitável.

Em tempo de guerra e de conflito aberto, as ausências são tantas, que nos parecem impossíveis de contar, mas algumas têm de ser publicamente sublinhadas pelo exemplo que deixam e pelos regimes que espelham, como a ausência de Alexey Navalny, o opositor-mor de Putin, que não dá sinais de vida há duas semanas, no que as Nações Unidas chamaram de um “desaparecimento forçado”. O britânico “Guardian” apanhou o tema.

Na fronteira da guerra ucraniana, Volodymyr Zelensky tenta dar a volta ao medo de ainda mais ausências e perdas, continua a tentar dar força às suas tropas e manter a moral, mas o inverno está a ser duro e não há cânticos natalícios no ar. São necessárias mais armas e mais homens e como consequência em breve poderão ser 500 mil a menos nas suas casas.

As ameaças são muitas e de vários tipos as mulheres têm de estar atentas, porque nem tudo o que é perigoso acontece no território da guerra aberta. A ideia está a crescer entre os ditadores - Putin também já veio defender o mesmo ponto de vista e nem Elon Musk ficou de fora deste abusivo pedido de um esforço feminino em nome do reforço da natalidade. Este artigo do “New York Times” é um exemplo de que é necessário ficar alerta, afinal, o lugar das mulheres é onde elas quiserem e só a elas cabe decidir. E onde não estiverem, elas deixarão um vazio.

Como é quase Natal, e este Expresso Curto quer recordar o que falta e o que não nos pode faltar, invoco na abertura de Expresso Curto a imagem da Capela Rothko, um santuário inter-religioso e um centro de direitos humanos, com 14 pinturas monumentais de Mark Rothko, pintor norte-americano de origem letã e judaica, alvo de uma grande exposição em Paris até abril do próximo ano.

Sinal de, como nos recordou o mais recente Prémio Pessoa, o cardeal José Tolentino de Mendonça, é preciso parar, sentir o que nos falta e ouvir o silêncio. “O silêncio é um vínculo que une”.
 

Outras notícias

A outra pessoa do ano O Natal é, sobretudo, tempo de se procurar a luz, como nos conta o “Financial Times”, que teve a coragem de romper com o previsível e escolheu como figura no ano Lars Fruergaard Jorgensen, CEO da Novo Nordisk, a empresa que criou o medicamento do momento, que combate a obesidade e impulsiona a economia dinamarquesa. Aqui deixo um cheirinho: “Enquanto a maioria de seus rivais leva jatos particulares para seus compromissos, ele espera por conexões comerciais. Alto, magro e atencioso, Jørgensen está longe da imagem convencional de um CEO fanfarrão e negociador: começou a sua carreira como economista no departamento de saúde e planeamento. Mas, à sua maneira discreta, Jørgensen é pioneiro numa inovação comercial que poderá ter um impacto profundo não apenas nos cuidados de saúde, mas nas sociedades, nas finanças públicas e na nossa relação com os alimentos. ”Nós por aqui nos antecipámos e fizemos capa da revista com o tema, vale a pena reler, assim como este outro texto sobre o impacto do medicamento na economia.

Sempre a covid Ao lado da luz há sempre sombra e temos de estar atentos ao que não se quer ver, como o vírus que não desaparece. Há uma variante a dominar o planeta e a exigir atenção

E por falar em Saúde ou na falta dela, esta quarta-feira há audição do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, em resposta ao requerimento do PS e ao requerimento potestativo da Iniciativa Liberal, sobre o "alegado favorecimento de duas bebés gémeas, que sofrem de Atrofia Muscular Espinhal, no acesso ao tratamento com o medicamento Zolgensma”.

A economia não perdoa nem na época natalícia e a Farfetch é um caso de estudo, como explica a Margarida Cardoso. E em Espanha o governo fez um movimento interessante de regresso ao capital da Telefónica para impedir apetites sauditas. Será um precedente?

Enquanto lá fora o conflito armado insiste em criar ausentes independentemente das crenças, em Portugal, as atenções focam-se na política. Depois da sucessão no Partido Socialista, os ânimos assanharam-se e até 10 de março, dia das eleições, não vamos ter descanso. A Rita Dinis conta-nos um bocadinho do que aconteceu no jantar de Natal do grupo parlamentar do PS.

Lá fora é no terreno legislativo que importantes decisões se tomam. Nos Estados Unidos, o Tribunal do Colorado torna Trump inelegível nas eleições do próximo ano e em França, o Parlamento aprova um polémico projeto de lei de imigração em meio a profunda divisão no partido de Macron.

Frases:

"Espero que o país saiba identificar no atual governo que está a cessar funções responsabilidades graves na situação a que o país chegou. Suficientemente graves para que o primeiro-ministro tenha sido o único que eu tenho memória que se tenha sentido na necessidade de apresentar a demissão por indecente e má figura", Pedro Passos Coelho, antigo presidente do PSD, à saída do tribunal aonde compareceu como testemunha do ex-ministro Manuel Pinho

"Estamos para ver se quem fez má figura foi primeiro-ministro, Ministério Público ou oposição”, o ex-primeiro-ministro José Sócrates em resposta a Passos Coelho, na mesma ocasião

“Deve ser muito cansativo estar oito anos, dia após dia, à espera que o Diabo chegue e [o diabo] nunca mais chega”, o ainda primeiro-ministro António Costa no jantar de Natal do grupo parlamentar dos socialistas

"Estamos disponíveis para consensos", Luís Montenegro, líder do PSD, a candidatar-se ao Bloco Central

E ainda:

"Cunhas que salvam crianças não fazem mal a ninguém”, D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, sobre o caso das gémeas luso-brasileiras

O que eu ando a ler

Este é um espaço militante de defesa do bom jornalismo e de divulgação do que há de bom na profissão. E há muito, daí este incentivo à leitura da imprensa, espécie tão ameaçada.

Como a partida de Mario Vargas Llosa, 87 anos, que este fim de semana despediu-se das colunas jornalísticas. O Prémio Nobel da Literatura de 2010 corta a sua ligação de 33 anos ao “El País”: “O único conselho que dou aos jovens que se iniciam como escritores na imprensa diária: digam e defendam a vossa verdade, quer ela coincida ou não com aquilo que o jornal defende editorialmente.” E ainda “contar mentiras, manipular, é fácil, mas mais cedo ou mais tarde fica evidente. Quem diz a verdade e a defende presta um serviço aos seus leitores e ao seu tempo. É isso que timidamente almejei com o nome — ‘Piedra de Toque’ — da minha coluna no ‘El País’.”

Por falar em ameaças, aconselho a leitura do longuíssimo artigo de James Bennet, na “Economist”. Um olhar do que se passa dentro de um jornal de alcance mundial, o “New York Times”, e as dores de adaptação a um mundo de ferozes críticas internas em que a busca do equilíbrio fica em risco. “É da natureza humana querer ver confirmado o seu preconceito; no entanto, também é da natureza humana querer ter a certeza de que o seu preconceito não é apenas um preconceito, mas é endossado por um jornalismo que é ‘justo e equilibrado’.” Vale a pena ler, com o distanciamento com que se lê um acerto de contas porque, o jornalismo, como a democracia, funciona melhor quando as pessoas recusam a render-se ao medo.

E porque a imprensa mudou e a pensar nestas mudanças, aconselho que ouçam este nosso podcast: “O Liberdade para Pensar está a chegar ao fim. A viagem pelos 50 anos do Expresso termina na próxima semana e neste penúltimo episódio vamos até 1997, o ano em que o Expresso lançou a sua primeira edição online. Vinte e seis anos depois e com o jornal a lançar uma nova fase da sua vida, em que se assume que ‘Digital First’, conversámos sobre o que mudou nestas quase três décadas, o que persiste na marca Expresso e o desafio do que está para vir, com Henrique Monteiro, diretor-adjunto em 1997, João Vieira Pereira, atual diretor do Expresso, e Joana Beleza, subdiretora de áudio e multimédia do Grupo Impresa.”

Além do que se lê e do que se ouve, também muito bom jornalismo que se vê como nestes dois trabalhos de excelência. O primeiro sobre o conflito israelo-palestiniano e o segundo sobre um mundo sem fronteiras e ocupado por animais. Um deslumbre.

E, apesar de mais um adiamento da votação nas Nações Unidas de um cessar-fogo na guerra israelo-palestiniana, sintam-se felizes com tantas prendas aqui deixadas. A vossa prenda para nós é lerem-nos, ouvirem-nos e verem-nos e, com base no nosso trabalho, decidirem de forma informada e consciente. Bom Natal e até 2024.

LER O EXPRESSO

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