Joana Pereira Bastos, jornalista | Expresso (curto)
Em primeiro lugar, deixo-lhe um
convite para assistir à nossa conversa com assinantes na quarta-feira, às
14h00, com David Dinis e Pedro Magalhães a analisar os resultados e incertezas
da sondagem publicada pelo Expresso. Pode inscrever-se aqui.
Bom dia,
Assinalaram-se ontem 75 anos sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
tida como uma das primeiras grandes conquistas das Nações Unidas. Por ironia,
foi exatamente no dia em que se celebrava a efeméride que o secretário-geral da
ONU admitiu o cada vez mais evidente fracasso da organização.
Num discurso realizado no Fórum de Doha, no Qatar, António Guterres lamentou a
“paralisia” das Nações Unidas para pôr fim ao desastre humanitário sem
precedentes que está a acontecer, à vista de todos, na Faixa de Gaza. Em apenas
dois meses, a ofensiva militar israelita já provocou cerca de 18 mil mortos, 70%
dos quais mulheres e crianças. A proporção de vítimas civis é maior do que a média de todas as
guerras do mundo ao longo do século XX. Sem terem para onde fugir, os 2,4
milhões de palestinianos que vivem naquele estreito território, diariamente
sujeito a bombardeamentos, foram espoliados de Direitos Humanos, condenados à fome e a enfrentar a morte, perante o
olhar impotente do resto do mundo.
Depois de múltiplos discursos emotivos sobre a urgência de parar a guerra, na
semana passada Guterres invocou o Artigo 99.º da Carta das Nações Unidas, “uma das ferramentas
mais poderosas” ao alcance do secretário-geral, que só por três vezes na
história tinha sido usada e que funciona como uma espécie de último recurso
para recomendar uma tomada de ação por parte do Conselho de Segurança. Mas o
apelo desesperado não surtiu qualquer efeito. A resolução que exigia um cessar-fogo imediato foi vetada
sexta-feira à noite pelos EUA, histórico aliado de Israel. Um veto à paz,
que torna a administração norte-americana cúmplice do massacre.
"A autoridade e a credibilidade do Conselho de Segurança foram seriamente
comprometidas", reconheceu ontem Guterres, assumindo o dano que isso
acarreta para a reputação das Nações Unidas. Na verdade, perante a incapacidade
da ONU para travar uma “catástrofe com implicações potencialmente irreversíveis
para os palestinianos” e para a segurança em toda a região é impossível não
questionar a eficiência da organização e a sua própria existência, nos moldes
atuais.
Sem nenhum travão, este fim de semana Israel intensificou os bombardeamentos, com ataques aéreos
violentos no sul do território, para onde centenas de milhares de palestinianos
tinham fugido, na tentativa desesperada de se proteger. E, indiferente aos
apelos humanitários, Netanyahu já avisou que a guerra é para continuar. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos está soterrada entre os escombros de
Gaza.
OUTRAS NOTÍCIAS
A Iniciativa Liberal vai pedir a audição parlamentar do filho do Presidente da República,
Nuno Rebelo de Sousa, para prestar esclarecimentos sobre o caso das gémeas
luso-brasileiras que alegadamente beneficiaram de uma cunha para ter acesso, no
Serviço Nacional de Saúde, ao medicamento mais caro do mundo. Na semana
passada, Marcelo Rebelo de Sousa confirmou que o filho lhe enviou um email
sobre a situação das duas crianças, que mais tarde vieram a receber o fármaco
no Hospital de Santa Maria. O caso está já a ser investigado pelo Ministério
Público, pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde e pelo próprio hospital.
As barragens atingiram um novo máximo histórico na semana passada, reforçando
a energia hídrica como principal fonte de eletricidade do país este mês. Os
últimos meses têm sido ricos em sucessivos recordes nas energias renováveis em Portugal.
Este ano já houve seis dias seguidos em que a produção renovável foi maior do
que o consumo de eletricidade dos portugueses.
Presa em Teerão, a “líder indiscutível” do movimento contra a opressão das
mulheres iranianas foi distinguida este domingo com o Prémio Nobel da Paz. Narges Mohammadi já foi detida 13 vezes, enfrenta cinco penas
de 31 anos de prisão e recebeu 154 chicotadas. Numa cerimónia que decorreu
em Oslo, o galardão foi entregue aos dois filhos gémeos de Mohammadi, a quem
coube transmitir o discurso da mãe, que não veem há oito anos. “O hijab imposto
pelo Governo não é nem uma obrigação religiosa nem um modelo cultural, mas um
meio de controlar e subjugar toda a sociedade”, declarou, pela voz dos filhos,
a vencedora do Prémio Nobel da Paz.
O ultraliberal Javier Milei tomou posse ontem como novo Presidente da
Argentina, anunciando o começo de uma “nova era” na história do país.
Avisando que “não há dinheiro”, Milei garantiu não haver alternativa ao
“choque” económico que vai pôr em prática e que admite que terá um impacto
negativo no emprego, nos salários e na pobreza. Segundo o novo Presidente,
haverá, pelo menos, seis meses de uma recessão combinada com alta inflação,
antes de começarem a aparecer os primeiros resultados da sua política de
“severo ajuste orçamental”.
A 24 horas de terminar, a Cimeira do Clima (COP28), que decorre no Dubai,
continua num limbo entre a vontade de um “feito histórico” e o receio de
mais uma deceção no que diz respeito a um acordo para a eliminação dos
combustíveis fósseis dentro de um prazo determinado. A União Europeia propõe
que se reduza as emissões em 43% até 2030 e que se eliminem os combustíveis
fósseis até 2050, mas está longe de haver consenso entre os 197 países
participantes.
FRASES
“O filho do Presidente da República teve um comportamento inaceitável. Sendo
filho do Presidente da República, devia ter-se abstido de qualquer intervenção.
Não podia nem devia comprometer a imagem do Presidente da República”,
Luís Marques Mendes, sobre o caso das gémeas luso-brasileiras
“Um ministro esteve sob escuta das autoridades durante quatro anos. Quatro
anos. A violência estatal é completamente obscena, não apenas no sentido de
alguma coisa suja e indecente, mas também no sentido de ob-scaena, algo
fora de cena, algo de inconcebível em democracia”
José Sócrates, num artigo de opinião no DN sobre a Operação Influencer e o
silêncio do PS em torno das escutas
“Não há um sportinguista que não esteja traumatizado quando vê João Pinheiro”,
Frederico Varandas, presidente do Sporting, referindo-se ao árbitro que apitou
o jogo de sábado contra o Vitória de Guimarães e que terminou com a derrota dos
leões por 3-2, marcado por um penálti polémico a favor dos vimaranenses
O QUE ANDO A LER
“Contra a Interpretação e outros ensaios” reúne artigos e críticas escritas
entre 1962 e 1965 por Susan Sontag, uma das mais importantes intelectuais
norte-americanas da segunda metade do século XX. Assumindo uma “fervorosa
parcialidade”, Sontag escreve sobre várias obras de arte contemporâneas de
diferentes géneros, da literatura ao cinema, sempre na “qualidade de
entusiasta” e não de crítica – daí que se tenha negado a escrever sobre obras
que não merecessem a sua admiração. Em “Contra a Interpretação”, artigo que dá
o título a esta compilação, editada pela Quetzal, insurge-se contra a tentação
clássica de atribuir um significado à arte e de questionar ou tentar
interpretar o que determinado escritor, poeta, pintor ou cineasta “quer dizer”
com determinada peça. “O mérito das obras não reside certamente nos seus
‘significados’”, defende a ensaísta. O mais importante “é o imediatismo
sensorial, puro e intraduzível” que, ao carregar consigo, cada uma desperta em
nós. “Nos dias de hoje, o que é importante é recuperarmos os sentidos. Temos de
aprender a viver mais, a ouvir mais, a sentir mais”.
Por hoje é tudo. Continue a acompanhar toda a atualidade em expresso.pt e tenha uma ótima segunda-feira.
LER O EXPRESSO -- * adenda de título PG
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