terça-feira, 21 de março de 2023

O MÉDIO-ORIENTE LIBERTA-SE DO OCIDENTE

Thierry Meyssan*

A reconciliação entre a Arábia Saudita, líder do mundo muçulmano sunita, e o Irão, líder do mundo muçulmano xiita, torna por fim possível uma era de paz no Médio-Oriente. Isto tornou-se possível graças à Rússia, aliada dos dois irmãos inimigos, e foi negociada primeiro no Iraque e em Omã antes de ser concluída pela China, que embora aliada milenar do Irão, agiu com total imparcialidade. Este acordo encerra onze anos de guerras e de influência ocidental.

É um acontecimento capital cuja importância não é percebida fora do Médio-Oriente : a Arábia Saudita e o Irão se reconciliaram... na China. Três assinaturas na parte inferior de um documento que baralham todas as cartas desta região.

Desde o século XIX, o Mundo árabe viu.se dominado primeiro pelo Reino Unido e pela França sobre as ruínas do Império Otomano, depois pelos Estados Unidos. Estas potências trouxeram tanto a liberdade como a opressão. O Reino Unido salientou-se a dividir os actores da região, manipulando-os uns contra os outros de forma a explorar as riquezas da região implicando-se militarmente o menos possível. A França, entretanto, dividiu-se entre os colonizadores da pior espécie e os “descolonizadores” esclarecidos. Os Estados Unidos sempre tiveram uma visão imperial da região, à excepção de alguns anos no fim da Segunda Guerra Mundial em que apoiaram os nacionalistas.

Este período acaba de terminar com a chegada da China. Como sempre, esta durante longo tempo observou e depois lentamente agiu, com uma perseverança sem falha.

Estes acordos foram precedidos por longas negociações levadas a cabo primeiro no Iraque e depois em Omã. O Iraque tem uma população muçulmana composta por um terço de sunitas e dois terços de xiitas. Durante a guerra contra o Irão, os xiitas iraquianos lutaram incansavelmente contra os xiitas iranianos. Hoje, o líder xiita Muqtada al-Sadr acabou por ir a Riade para mostrar aos seus compatriotas sunitas que não está enfeudado ao Irão. O Iraque, mais do que ninguém, necessita dessa paz para sobreviver. Omã, pelo contrário, não é propriamente falando nem xiita, nem sunita. O Sultanato diz-se de uma terceira corrente, o ibadismo. Ele pode, pois, legitimamente reivindicar uma posição de mediador entre sunitas e xiitas.

Durante a sua viagem a Riade, em Dezembro de 2022, o Presidente chinês, Xi Jinping, não procurou elogiar os seus interlocutores para obter deles preços preferenciais de petróleo. Pelo contrário, ele gentilmente chamou os bois pelo nome : enquanto a região fosse palco de confrontos incessantes, não seria possível construir aí as Rotas da Seda e desenvolver o comércio. Tampouco procurou defender os interesses mal compreendidos dos seus aliados iranianos. Enquanto estes reivindicam as ilhotas no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz, a Pequena e a Grande Tunb, bem como Abu Musa, o Presidente Xi expressou o seu apoio aos Emirados Árabes Unidos no comunicado conjunto que assinou com o Conselho de Cooperação do Golfo [1]. Foi esta autoridade que lhe permitiu garantir que velaria para que o Irão nunca se dotasse da Bomba Atómica. Os Chineses são aliados do Irão desde há milénios. Estátuas chinesas são visíveis na antiga cidade de Persépolis e na antiga Rota da Seda, não se falava mandarim, mas sim o farsi (persa). Pequim, que participou nas negociações 4+1 sobre a energia nuclear iraniana, sabe, com certeza, que as acusações ocidentais sobre as ambições nucleares iranianas são falsas.

O Congresso dos EUA intima a papisa da censura, Nina Jankowicz, a comparecer

Jim Jordan, Presidente do Comissão de Leis da Câmara dos Representantes dos EUA, intimou Nina Jankowicz a comparecer depois desta ter recusado vir depor sob juramento durante mais de 10 meses.

Antiga conselheira do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Nina Jankowicz foi contratada pelo Presidente Joe Biden para dirigir um grupo secreto no seio da Secretaria de Segurança da Pátria, o Conselho de Governança da Desinformação (Disinformation Governance Board). Ela ficou encarregada de censurar os factos (fatos-br) e opiniões contrárias à versão oficial da guerra na Ucrânia. Perante o clamor provocado pela sua nomeação, o seu grupo foi oficialmente dissolvido.

Depois, Nina Jankowicz ingressou no Centre for Information Resilience de Londres e foi a guest star (estrela convidada -ndT) do Colóquio da União Europeia, « Para lá da desinformação : a resposta da U. E. à ameaça das manipulações estrangeiras da informação ».

Voltairenet.org | Tradução Alva

EXÉRCITO DOS EUA ESTABELECE PRIMEIRA GUARNIÇÃO PERMANENTE NA POLÓNIA

Existem mais de 10.000 soldados dos EUA estacionados na Polónia agora

# Traduzido em português do Brasil

VARSÓVIA, 21 de março. /TASS/. O Exército dos EUA montou sua primeira guarnição permanente na Polônia, disse o ministro da Defesa polonês, Mariusz Blaszczak, em uma cerimônia em Camp Kosciuszko, na cidade de Poznan, na terça-feira.

"A guarnição em Poznan está ativa a partir de hoje", disse ele, acrescentando que a Polônia vem pressionando por uma presença permanente de tropas americanas há anos.

A nova guarnição do Exército dos EUA é a oitava guarnição permanente das forças armadas dos EUA na Europa. A unidade fornecerá suporte de infraestrutura para soldados americanos estacionados na Polônia. A guarnição também dirigirá e administrará postos militares avançados dos EUA na Polônia.

O comando V Corps das Forças Terrestres dos EUA opera em Camp Kosciuszko desde 2020.

"Sua principal tarefa é coordenar as atividades e supervisionar as forças terrestres dos EUA na Europa e a cooperação e sincronização das forças americanas com as tropas da OTAN", disse o Ministério da Defesa polonês em um comunicado.

Existem mais de 10.000 soldados dos EUA estacionados na Polônia agora.

Imagem: © EPA-EFE/Jakub Kaczmarczyk

Rússia – China | PUTIN E XI JINPING ENCERRAM NEGOCIAÇÕES NO KREMLIN

Os dois países planeiam assinar documentos conjuntos e fazer declarações para a mídia

# Traduzido em português do Brasil

MOSCOU, 21 de março. /TASS/. As conversações entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder chinês, Xi Jinping, terminaram no Kremlin, durando quase três horas.

A princípio, os dois líderes se reuniram por mais de uma hora e meia com um círculo limitado de delegados e depois continuaram as negociações com o círculo ampliado de delegados.

As negociações foram realizadas no Grande Palácio do Kremlin. Mais tarde, as partes planejam assinar documentos conjuntos e fazer declarações à mídia. O programa da visita de terça-feira termina com um jantar de Estado no Palácio das Facetas.

Imagem: O presidente chinês Xi Jinping e o presidente russo Vladimir Putin © Alexei Maishev/POOL/TASS

Rússia e China prontas a cooperar no desenvolvimento da Rota do Mar do Norte - Putin

"Estamos prontos para criar um corpo de trabalho conjunto para o desenvolvimento da Rota do Mar do Norte", disse o presidente russo

# Traduzido em português do Brasil

MOSCOU, 21 de março. /TASS/. A Rússia e a China estão prontas para criar um corpo de trabalho conjunto para o desenvolvimento da Rota do Mar do Norte, disse o presidente russo, Vladimir Putin, em conversas com o presidente chinês, Xi Jinping, na terça-feira.

"Vemos a cooperação com parceiros chineses no desenvolvimento do potencial de trânsito da Rota do Mar do Norte como promissora. Estamos prontos para criar um corpo de trabalho conjunto para o desenvolvimento da Rota do Mar do Norte", disse Putin.

Segundo ele, de maneira geral, a infraestrutura de transporte e logística está sendo melhorada.

"Nossos países estão unidos por uma longa fronteira terrestre, então a formação de corredores ferroviários e rodoviários na direção da China-Europa e de volta pelo território russo continua sendo uma prioridade absoluta para atender às necessidades do crescente tráfego de cargas e passageiros", disse o presidente russo observado.

Ele também lembrou as instalações de infraestrutura de transporte que foram lançadas no ano passado.

"O lançamento do tráfego nas pontes reduzirá o custo e o tempo de transporte de mercadorias entre a Rússia e a China, expandirá a geografia do comércio e aumentará o volume de trânsito com os países da região Ásia-Pacífico", enfatizou Putin.

A Rota Marítima do Norte é uma rota marítima e a principal linha marítima no setor ártico russo. Estende-se ao longo da costa norte da Rússia através dos mares do Oceano Ártico (mares de Barents, Kara, Laptev, Sibéria Oriental, Chukchi e Bering). A rota consolida os portos europeus e do Extremo Oriente da Rússia e as fozes de rios navegáveis ​​na Sibéria em um único sistema de transporte. A extensão da rota é de 5.600 km do Estreito de Kara até a Baía de Providence.

Imagem: O presidente chinês Xi Jinping e o presidente russo Vladimir Putin © Vladimir Astapkovich/POOL/TASS

A MORTE DA UCRÂNIA POR PROCURAÇÃO -- Chris Hedges

Chris Hedges [*]

Há muitas maneiras de um Estado projetar o poder e enfraquecer os adversários, mas as guerras por procuração são uma das mais cínicas. As guerras por procuração devoram os países que pretendem defender. Elas seduzem nações ou insurretos a lutar por objetivos geopolíticos que, em última análise, não são do seu interesse. A guerra na Ucrânia tem pouco a ver com a liberdade ucraniana e muito a ver com a degradação do exército russo e o enfraquecimento do poder de Vladimir Putin. E, quando a Ucrânia caminhar para a derrota, ou quando a guerra chegar a um impasse, a Ucrânia será sacrificada como muitos outros Estados, mencionado por um dos membros fundadores da CIA, Miles Copeland Jr., como o "Jogo das Nações" e "a amoralidade da política de poder".

Nas minhas duas décadas como correspondente estrangeiro cobri guerras por procuração, nomeadamente na América Central, onde os EUA armaram os regimes militares em El Salvador e Guatemala e os rebeldes Contra, tentando derrubar o governo sandinista da Nicarágua. Informei sobre a insurreição no Punjab, uma guerra por procuração fomentada pelo Paquistão. Cobri os curdos no norte do Iraque, apoiado e depois traído mais de uma vez pelo Irão e Washington. Durante a minha estadia no Médio Oriente, o Iraque forneceu armas e apoio aos Mujahedeen-e-Khalq (MEK) para desestabilizar o Irão. Quando estive na ex-Jugoslávia, Belgrado pensava que ao armar sérvios bósnios e croatas, poderia absorver a Bósnia e partes da Croácia para uma Grande Sérvia.

As guerras por procuração são notoriamente difíceis de controlar, especialmente quando as aspirações dos que combatem e dos que enviam as armas divergem. Têm também o mau hábito de atrair diretamente para o conflito patrocinadores de guerras por procuração, como aconteceu com os EUA no Vietname e com Israel no Líbano. Há pouca responsabilidade na distribuição de armas aos exércitos por procuração, quantidades significativas das quais acabam no mercado negro ou nas mãos de senhores da guerra ou de terroristas. A CBS News relatou no ano passado que cerca de 30% das armas enviadas para a Ucrânia conseguem chegar à linha da frente, um relatório que preferiu desdizer-se parcialmente sob forte pressão de Kyiv e Washington. O desvio generalizado para o mercado negro de equipamento militar e médico doado à Ucrânia foi também documentado pela jornalista norte-americana Lindsey Snell. As armas nas zonas de guerra são mercadorias lucrativas. Havia sempre grandes quantidades para venda nas guerras que cobri.

Senhores da guerra, gangsters e bandidos – a Ucrânia há muito que é considerada um dos países mais corruptos da Europa – são transformados pelos Estados patrocinadores em heroicos combatentes da liberdade. O apoio aos que combatem estas guerras por procuração é uma celebração da nossa alegada virtude nacional, especialmente sedutora após duas décadas de fiascos militares no Médio Oriente. Joe Biden, com números sombrios nas sondagens, pretende candidatar-se a um segundo mandato como presidente "em tempo de guerra" que apoia a Ucrânia, à qual os EUA já se comprometeram com 113 mil milhões de dólares em assistência militar, económica e humanitária.

Iniciativa de Civilização Global da China é sua resposta ao liberal-globalismo do Ocidente

A China agora decidiu entrar em uma entente com a Rússia com o objetivo de formar um pólo duplo de influência em meio à trifurcação iminente das Relações Internacionais, para que os dois possam competir de forma mais eficaz com o Bilhão de Ouro do Ocidente liderado pelos EUA. É claro que isso também inclui o domínio ideacional, explicando assim o momento preciso por trás da explicação estendida da China de sua visão de mundo conservadora-soberanista multipolar, que previsivelmente se alinha com o Manifesto Revolucionário Global da Rússia do ano passado.

Andrew Korybko* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

A Nova Guerra Fria sobre a transição sistêmica global é altamente caótica e cheia de complexidade, mas pode ser simplificada em dois eixos, o geopolítico e o ideacional. O primeiro refere-se à trifurcação iminente das Relações Internacionais entre o Bilhão de Ouro do Ocidente liderado pelos EUA, a Entente Sino-Russo e o Sul Global informalmente liderado pela Índia, enquanto o último diz respeito ao liberal-globalista unipolar (ULG) e ao conservador multipolar. visões de mundo soberanas (MCS).

É o eixo ideacional que constitui o foco da presente análise, particularmente os detalhes da recém-articulada visão MCS da China, conforme incorporada na Iniciativa de Civilização Global (GCI) que o Presidente Xi revelou na semana passada durante o Diálogo com a Reunião de Alto Nível dos Partidos Políticos Mundiais . Para entender melhor esse conceito, é importante revisar brevemente exatamente o que são ULG e MCS, pois ainda existem alguns mal-entendidos sobre seus pilares principais.

A ULG quer reverter a hegemonia em declínio do Ocidente (unipolaridade), considera imoral impor restrições sociais de qualquer tipo ou seguir um sistema político diferente (liberalismo) e acredita na inevitabilidade de todos os outros abraçarem o mencionado acima, seja por atração, coerção ou força (globalismo). Forma a ideologia não oficial da maioria dos países que compõem o Golden Billion, que também financia agentes de influência sob o disfarce de “ONGs” para empurrar a ULG para sociedades estrangeiras.

Portugal | ANTES FOSSE...

Gustavo Carneiro*

As propostas do governo para a habitação suscitaram grande celeuma na direita, sem que nada o justificasse (antes pelo contrário…). Agitaram até o papão “do comunismo”, e clamaram que “Portugal não é a Venezuela”. O preconceito aconselhou-os mal. Esqueceram-se que a ONU, em 2019, colocava esse país nos primeiros lugares em termos de garantia do direito à habitação. E que em 2022 a ordem de grandeza da promoção de habitação pelo governo bolivariano atingia os 4,4 milhões de casas entregues.

O anúncio das propostas do Governo para a habitação deu aos partidos mais à direita um pretexto para recolocarem em cena uma das suas actuações favoritas (embora, reconheça-se, já um pouco gasta, de tão vista). O guião é simples: caricatura-se uma dada medida, apelidando-a de radical, mesmo que – e é o caso – nada nela o justifique; faz-se a defesa intransigente da liberdade e da iniciativa privada, como se alguma vez tivessem sido ameaçadas; agita-se o papão do comunismo e, inevitavelmente, recorda-se – com voz grossa e pose de cruzado – que Portugal não é a Venezuela…

O êxito desta encenação é garantido e os proveitos repartidos: ganham os seus intérpretes, que sempre têm alguma audiência, mesmo com tão pobre enredo e tão sofridas actuações, mas ganha também o visado, que de um dia para o outro renova em certa medida os pergaminhos de esquerda que tanto apregoa. E se dá tanto jeito, pensarão uns e outros, porque não insistir na cena, uma e outra vez?

Mas deixemos o palco político-mediático (talvez mediático-político seja mais apropriado) e passemos à vida real, concreta. Nela, há mais de um milhão de pessoas com crédito à habitação, muitas delas sem saber como hão-de fazer face à brutal subida das prestações bancárias; há milhares de famílias expulsas para periferias cada vez mais distantes por não conseguirem pagar o que lhes é pedido para continuarem a viver nas suas terras, junto dos seus; há filhos adiados (ou que nunca chegam a nascer) porque os seus pais não conseguiram encontrar uma habitação digna e a custos comportáveis para nela iniciarem uma nova família; há 1300 despejos aprovados a aguardar execução e mais de 720 mil casas vazias; e há, também, bancos e fundos imobiliários a acumular lucros obscenos (e crescentes) à custa de tudo isto…

Portugal | NA ESPLANADA


Henrique Monteiro | Henricartoon

Portugal | O HEMISFÉRIO QUE MARCELO ADIA

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

Até porque nunca navegaram à vista, nem um pingo de compaixão, nem auspícios de fim de romance. No primeiro ano de maioria absoluta de António Costa, a antipatia e, sobretudo, a impressão digital de descrédito que Marcelo Rebelo de Sousa faz questão de transmitir sobre o actual hemisfério político a que pertence, com Luís Montenegro à cabeça, é o grande denominador comum das relações entre o presidente da República e a oposição, varrimento horizontal à direita. Talvez porque sejam gravosas as histórias passadas, seja porque não acredita na reabilitação do-que-não-pega-de-estaca, Marcelo não é mero coleccionador de casos para contar. Não perde uma semana sem deixar claro que não fará cair o Governo enquanto não se trocarem as peças na liderança do PSD. Mais do que à espera de um Messias, Marcelo segue os seus Passos. É da sua profunda convicção que, mal por mal, fica como está. Adiamento.

Livre como nunca, sem um processo de reeleição à vista, o papel de Marcelo é o de um conciliador que prefere escolher a data do terramoto. A forma como não perde uma oportunidade para elevar e promover o futuro de Passos Coelho, processo indesmentível, é a qualificação de um juízo de valor sobre o que existe e sobre o que antecipa.

Podendo guardar silêncio sobre a reacção da Direita, seu hemisfério, ao convite dirigido ao presidente do Brasil, Lula da Silva, para discursar na cerimónia comemorativa do 25 de Abril no Parlamento, o presidente da República assume, uma vez mais, a farpa e o alvo: o PSD, único partido da Direita parlamentar fundador da democracia, preferiu arregimentar a liberdade, cedendo-a à táctica da espuma dos dias, alinhando com aqueles que ainda hoje não aceitam o processo de descolonização como elemento fundador, marco de liberdade, logo essência, do que somos enquanto país.

Reforçando que é oriundo desse hemisfério, esse que agora descobre ter "dificuldade em compreender a plenitude do 25 de Abril, a ligação do 25 de Abril à descolonização e à ligação do 25 de Abril àqueles que são os legítimos representantes dos povos", dificilmente encontramos tão forte posicionamento quanto a matérias de liberdade na sua ala. Marcelo mostrou que está na origem do convite a Lula. Eis uma vírgula presidencial na construção da "História neo-oficial", como lhe chama. E bem, mais um capítulo no seu hemisfério.

O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

*Músico e jurista

CRÓNICA DE UMA PRISÃO ANUNCIADA, OU ENTÃO NÃO

Rui Gustavo, jornalista | Expresso (curto)

Antes que me esqueça: se é assinante do Expresso (se não for, este é um excelente pretexto para passar a sê-lo), não deve perder o “Junte-se à Conversa” de amanhã, 22 de março. Às 14h, o diretor-adjunto David Dinis e o editor de Economia João Silvestre conversam sobre “Apoios às famílias: as medidas temporárias chegam?”. Pode participar clicando nestas letras azuis.

Bom dia da poesia,

Num dos inícios mais reconhecíveis da história da literatura, Gabriel García Márquez avisa: “No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo.” Donald Trump nunca será comparável ao imaginativo autor de “Crónica de uma Morte Anunciada”, mas predisse no último fim de semana que seria preso hoje por causa de uma investigação da procuradoria-distrital de Manhattan a um alegado pagamento secreto a Stormy Daniels, uma atriz pornográfica que se terá envolvido romanticamente com o ex-presidente dos Estados Unidos da América dez anos antes das eleições presidenciais de 2016 que o colocariam, algo chocantemente, na Casa Branca.

De acordo com o que escreveu na sua rede social Truth Social (este nome é mesmo verdade), Trump terá tido acesso a uma “fuga de informação ilegal” do gabinete do procurador de Manhattan que referia a prisão iminente de um “ex-presidente” e “candidato” à liderança do país. Ou seja, ele.

Mais do que adivinhar o que seria a sua morte política – se for mesmo detido, será o primeiro ex-presidente americano a passar por esta experiência sempre desagradável – Trump apelava a uma espécie de levantamento dos seus apoiantes: “Protestem, tragam de volta a nossa nação.” A retórica é semelhante à que precedeu a invasão do Capitólio a seguir às últimas eleições que o magnata perdeu para o atual presidente americano, Joe Biden. Ainda ontem, um tribunal americano condenou seis participantes nessa invasão. É a quarta vez que apoiantes de Trump são condenados em tribunal por causa dos acontecimentos que provocaram a morte a cinco pessoas, entre polícias e manifestantes.

Alvin Bragg, o procurador que dirige a investigação a Trump, não confirmou nem negou a prisão anunciada pelo suposto alvo, mas segundo o jornal Politico, garantiu ao próprio staff que “não” irá “tolerar” qualquer “intimidação” por parte dos apoiantes do ex-presidente americano que lidera as sondagens para ser o candidato republicano nas próximas presidenciais.

A GUERRA DO IRAQUE: MENTIRA, MORTE E DESTRUIÇÃO

Vinte anos depois, importa relembrar a encenação do então secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, no Conselho de Segurança da ONU, através de um rol de falsidades sobre as alegadas «armas de destruição maciça».

AbrilAbril, editorial

O resultado da agressão ao Iraque em 2003 e a espiral de guerra que desencadeou, na sequência da «Guerra do Golfo» de 1991 e de dez anos de imposição de criminosas sanções e ataques à soberania do Iraque, foram milhões de mortos, feridos, desalojados e refugiados.

Um dos países mais desenvolvidos no Médio Oriente, que ao longo de décadas vinha consolidando um regime não confessional, viu a guerra e as sanções destruírem as suas infra-estruturas e economia, com consequências devastadoras para a sua população.

Entretanto, nenhum dos responsáveis pela destruição e ocupação do Iraque ou pelos crimes associados, nomeadamente as torturas nas prisões dos EUA, foi chamado a responder pelos seus crimes. A propósito, importa recordar as declarações da ex-secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, quando afirmou que a morte de meio milhão de crianças iraquianas como resultado das sanções, então em vigor, «valeu a pena».

A verdade é que os colaboracionistas com esta guerra de mentira foram premiados. Por exemplo, Durão Barroso, à época primeiro-ministro e chefe do governo PSD-CDS, que acolheu em Portugal, na Cimeira das Lajes, Bush, Blair e Aznar, foi promovido a presidente da Comissão Europeia no ano seguinte.

Nesta guerra contra o Iraque participaram não só forças militares dos EUA, mas também do Reino Unido, da Austrália e da Polónia, para além de outros países, como Portugal, terem participado na consolidação da ocupação. Aliás, apesar da exigência do Parlamento iraquiano da total retirada de tropas estrangeiras, permanecem no Iraque mais de 2500 soldados norte-americanos, que alimentam a desestabilização no país e na região.

Esta guerra é apenas um dos muitos exemplos da estratégia de confrontação promovida pelos EUA e os seus aliados. Basta recordar que, este domingo, 19 de Março, passaram 12 anos sobre o início dos bombardeamentos da NATO contra a Líbia, num momento em que os EUA e os seus aliados punham igualmente em marcha o plano de ingerência e agressão contra a Síria, armando e financiando organizações terroristas e abrindo caminho para a guerra contra mais um país no Médio Oriente. Na próxima sexta-feira, 24 de Março, assinalam-se 24 anos sobre o início dos bombardeamentos da NATO contra a Jugoslávia, na sequência do primeiro de vários alargamentos da NATO ao Leste da Europa. Em qualquer dos casos, sempre ao arrepio do direito internacional, violando a Carta da ONU e os direitos dos povos.

A guerra do Iraque em 2003 mostrou, de forma inequívoca, que a estratégia agressiva dos EUA e dos seus aliados visa todos os países que afirmem a sua soberania e independência, independentemente dos seus sistemas sociais e económicos.

Na realidade, independentemente das crises financeiras mais profundas, nunca faltam os milhões para financiar e promover a guerra, aumentar a exploração, o empobrecimento e a miséria, e o ataque aos direitos dos trabalhadores e dos povos.

Imagens: 1 (em cima) - Durão Barroso, Tony Blair, George W. Bush, José Maria Aznar na Cimeira dos Açores / DW; 2 (em baixo) - Em 16 de Março de 2003 Durão Barroso recebia nos Açores os seus pares e cúmplices da propalação de mentiras que “desenharam” a desgraça do Iraque e seu povo / Larry Downing/Reuters

OLHEM QUE QUATRO VIGARISTAS! - para sermos “diplomáticos”

Durão Barroso era primeiro-ministro de Portugal, foi à babuja de fazer subir o seu currículo e as contas bancárias. Por troca de colaborar nas mentiras sobre Saddam Hussein e o Iraque. Demitiu-se do cargo de primeiro-ministro e foi nomeado para presidente da Comissão Europeia. Cumprido o mandato na UE integrou e integra “altos-voos”. Saliente-se: Presidente não-executivo do Banco Goldman Sachs International (ninho de vigaristas infame como reza a história). A “paga” dos EUA por Barroso colaborar nas mentiras sobre o Iraque e dar corpo e apoio na Cimeira dos Açores catapultou-o para onde está, independente de ser considerado por muitos como um asqueroso oportunista portador de mau-carácter, “mimado” em Portugal e no estrangeiro por vários epítetos depreciativos de que é merecedor.

Os quatro capturados na fotografia estão muitíssimo bem na vida… Nem lhes pesa a consciência por contribuírem para dezenas de milhares de mortos e de feridos com as suas políticas do engano e de energúmenos. Afinal quatro geradores de graves crimes de guerra e contra a humanidade.

PG / Redação

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