Thierry Meyssan*
A reconciliação entre a Arábia Saudita, líder do mundo muçulmano sunita, e o Irão, líder do mundo muçulmano xiita, torna por fim possível uma era de paz no Médio-Oriente. Isto tornou-se possível graças à Rússia, aliada dos dois irmãos inimigos, e foi negociada primeiro no Iraque e em Omã antes de ser concluída pela China, que embora aliada milenar do Irão, agiu com total imparcialidade. Este acordo encerra onze anos de guerras e de influência ocidental.
É um acontecimento capital cuja importância não é percebida fora do Médio-Oriente : a Arábia Saudita e o Irão se reconciliaram... na China. Três assinaturas na parte inferior de um documento que baralham todas as cartas desta região.
Desde o século XIX, o Mundo árabe viu.se dominado primeiro pelo Reino Unido e pela França sobre as ruínas do Império Otomano, depois pelos Estados Unidos. Estas potências trouxeram tanto a liberdade como a opressão. O Reino Unido salientou-se a dividir os actores da região, manipulando-os uns contra os outros de forma a explorar as riquezas da região implicando-se militarmente o menos possível. A França, entretanto, dividiu-se entre os colonizadores da pior espécie e os “descolonizadores” esclarecidos. Os Estados Unidos sempre tiveram uma visão imperial da região, à excepção de alguns anos no fim da Segunda Guerra Mundial em que apoiaram os nacionalistas.
Este período acaba de terminar com a chegada da China. Como sempre, esta durante longo tempo observou e depois lentamente agiu, com uma perseverança sem falha.
Estes acordos foram precedidos
por longas negociações levadas a cabo primeiro no Iraque e depois
Durante a sua viagem a Riade, em Dezembro de 2022, o Presidente chinês, Xi Jinping, não procurou elogiar os seus interlocutores para obter deles preços preferenciais de petróleo. Pelo contrário, ele gentilmente chamou os bois pelo nome : enquanto a região fosse palco de confrontos incessantes, não seria possível construir aí as Rotas da Seda e desenvolver o comércio. Tampouco procurou defender os interesses mal compreendidos dos seus aliados iranianos. Enquanto estes reivindicam as ilhotas no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz, a Pequena e a Grande Tunb, bem como Abu Musa, o Presidente Xi expressou o seu apoio aos Emirados Árabes Unidos no comunicado conjunto que assinou com o Conselho de Cooperação do Golfo [1]. Foi esta autoridade que lhe permitiu garantir que velaria para que o Irão nunca se dotasse da Bomba Atómica. Os Chineses são aliados do Irão desde há milénios. Estátuas chinesas são visíveis na antiga cidade de Persépolis e na antiga Rota da Seda, não se falava mandarim, mas sim o farsi (persa). Pequim, que participou nas negociações 4+1 sobre a energia nuclear iraniana, sabe, com certeza, que as acusações ocidentais sobre as ambições nucleares iranianas são falsas.