sábado, 20 de maio de 2023

Aventuras na NATOstan: Faíscas a voar em Ibiza, Bilderberg bloqueado em Lisboa

Com a "liderança" do G7 atolada em um pântano pegajoso de superficialidade intelectual, previsivelmente a única agenda no Japão colonizado era mais sanções à Rússia.

Pepe Escobar* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

Vamos começar com uma representação gráfica de onde o Norte Global e o Sul Global realmente estão.

1. Xian, antiga capital imperial e principal centro das Antigas Rotas da Seda: Xi Jinping sedia a cúpula China-Ásia Central, com a presença de todos os "stans" do Heartland (Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão).

A declaração final enfatiza a cooperação econômica e "uma posição resoluta" contra as revoluções coloridas inventadas pela hegemonia. Isso expande o que a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI) já estão implementando. Na prática, a cúpula sela que a parceria estratégica Rússia-China estará protegendo o Heartland.

2. Kazan: o fórum Rússia-Mundo Islâmico une não apenas líderes religiosos, mas empresários de nada menos que 85 nações. A Rússia multipolar prosseguiu em paralelo com a Cúpula da Liga Árabe em Jeddah, que recebeu de volta a Síria à "família árabe". Os países árabes se comprometeram unanimemente a acabar de vez com a "interferência estrangeira".

3. Hiroshima: o cada vez menor G7, na verdade G9 (adicionando dois burocratas não eleitos da UE), impõe uma agenda única de mais sanções à Rússia; mais armas para a Ucrânia; e mais palestras sobre a China.

4. Lisboa: a reunião anual de Bilderberg – um festival NATO/atlantista – decorre num hotel não tão secreto completamente fechado. Item de topo da ordem do dia; guerra – híbrida ou não – sobre os "RICs" nos BRICS (Rússia, Índia, China).

Eu poderia estar em Xian, ou provavelmente Kazan. Em vez disso, honrando um compromisso anterior, estive em Ibiza, e depois raspei a ideia de voar para Lisboa como uma perda de tempo. Permitam-me que partilhe convosco a razão: chamem-lhe um pequeno conto dos Baleares, quebrando a promessa de que o que acontece em Ibiza fica em Ibiza.

Fui convidado para um encontro de negócios de topo – maioritariamente espanhol, mas também com portugueses, alemães, britânicos e escandinavos: executivos de altíssimo nível – no imobiliário, gestão de ativos, banca de investimento. Nosso painel foi intitulado "Mudanças geopolíticas globais e suas consequências". Antes do painel, os participantes foram convidados a votar no que mais os preocupava quando se trata do futuro de seus negócios. O número um foi a inflação e as taxas de juros. O número dois foi a geopolítica. Isso prefigurou um debate muito animado pela frente.

Cancelamento da cúpula de Sydney é presságio do futuro destino do Quad

A planejada cúpula do Quad em Sydney, marcada para 24 de maio, foi cancelada enquanto Biden está ocupado apagando o fogo financeiro de um possível calote da dívida em casa. Os líderes se reunirão no final desta semana à margem do G7 no Japão. Mas, mesmo que o encontro continue, não será o mesmo. O cancelamento da cúpula de Sydney é um presságio do destino do Quad.

Global Times | opinião | # Traduzido em português do Brasil

A cúpula planejada foi cancelada principalmente porque o governo dos EUA está quebrando. Curiosamente, alguns meios de comunicação ocidentais fazem isso sobre a China, retratando o caso como o momento do champanhe da China. Na quarta-feira, o Guardian publicou um artigo: "A cúpula cancelada do Quad é uma vitória para a China e um golpe autoinfligido à posição dos EUA no Pacífico", que afirmava que "os meios de comunicação estatais chineses não precisarão reunir muita energia criativa para tecer algumas das narrativas preferidas de Pequim: que os EUA estão devastados por turbulências domésticas cada vez mais severas e são um parceiro não confiável, rápido para deixar os aliados altos e secos."

A narrativa só prova que a mídia não tem mais nada a falar sobre o Quad, segundo especialistas. Essa cúpula de alto nível deveria ter muitas perspectivas "de ponta" para escavar, mas agora a mídia ocidental não tem outra alternativa a não ser cobri-la como uma farsa com fofocas. Isso mostra que o governo dos EUA e o Quad têm pouco a entregar. Se puder haver alguma agenda e conteúdo prático e substancial, o foco não será colocado em adivinhar o que a China dirá, disse Shen Yi, professor da Universidade Fudan, ao Global Times.

Se os observadores ocidentais ainda acreditam no Quad, suas análises devem estar cheias de conteúdo sobre maneiras inovadoras de conter a China e tornar o Ocidente grande novamente. Não há essa redação, mas apenas decepção nos EUA. Não é apenas o governo dos EUA que está enfrentando uma crise, mas também é o Quad. Afinal, não será fácil impulsionar algo que vai contra a tendência dos tempos.

A recuperação econômica global perdura, mas o caminho está ficando difícil, informou o FMI em abril. Enquanto isso, um número crescente de turbulências regionais está aumentando. No entanto, os EUA não escondem sua intenção de exacerbar os conflitos geopolíticos e o confronto campal. Desde o estabelecimento do Quad, sua cooperação e declarações há muito revelam seu alvo não declarado - a China. E quando as pessoas dizem que um solavanco para o Quad é uma vitória para a China, elas simplesmente confessam que o Quad é uma ferramenta geopolítica contra a China.

Avelino Coelho foi o líder mais coerente e inovador na campanha eleitoral

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS EM TIMOR-LESTE

J.T. Matebian, correspondente em Timor-Leste

A campanha eleitoral terminou ontem em Timor-Leste. Os líderes que têm estado no poder há mais de 20 anos repetiram as mesmas promessas durante 30 dias. O único programa eleitoral digno desse nome, coerente e inovador, foi apresentado pelo PST.

A campanha eleitoral demonstrou o que já todos sabíamos mas ficou agora provado. Em Timor-Leste a educação está péssima, as estradas também estão uma lástima, não há água potável na maior parte dos Municípios, a saúde está má e os agricultores e os jovens foram sempre esquecidos.

Os dirigentes dos partidos com mais assentos no Parlamento Nacional (FRETILIN e CNRT), e também com muito dinheiro, em quase todos os comícios dirigiram os seus discursos para o petróleo, para os recursos energéticos e para o problema das fronteiras de Timor-Leste.

Por outro lado, os líderes que formaram governo (FRETILIN, PLP e KHUNTO) afirmaram que querem continuar com o programa governamental prometendo melhorias, mas sem especificar quais as medidas políticas a implementar para se atingir esses desideratos.

Outros líderes partidários fizeram promessas, absurdas, demagógicas, sem um programa eleitoral, portanto, demonstrando a ausência de projectos políticos e muito menos ideológicos.

Austrália tem de pedir desculpa a Timor-Leste pela espionagem defende Collaery

"Tem de haver um pedido de desculpa de todos os lados do espetro político australiano a Timor-Leste. Se a Austrália quer desenvolver uma nova relação nesta região tem de haver um pedido de desculpa pelo passado", afirmou Collaery, em entrevista à Lusa.

"Um crime internacional como este não pode ser varrido para debaixo do tapete. Isto não desaparece até haver um pedido de desculpa de todos os líderes políticos, do passado e do presente, uma garantia que não voltará a haver esta má conduta em direito internacional, nunca, nunca mais", vincou.

Bernard Collaery falava no Palácio da Lahane depois de ser condecorado com o Colar da Ordem de Timor-Leste, atribuído pelo Presidente da República, José Ramos-Horta, em reconhecimento dos seus serviços a Timor-Leste.

"Sem dúvida que é um verdadeiro herói. Alguém que não vendeu a sua alma, a sua consciência, defendeu acerrimamente a testemunha K. Sempre foi um grande defensor da causa de Timor-Leste desde o primeiro dia", disse Ramos-Horta à Lusa.

Collaery foi um de mais de uma centena de cidadãos nacionais e estrangeiros condecorados hoje, por ocasião do 21.º aniversário da restauração da independência de Timor-Leste, cujas comemorações oficiais decorrem no sábado.

Fretilin confiante em apoio a programa centrado no povo

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS EM TIMOR-LESTE

A Fretilin, maior partido no parlamento timorense, está "muito confiante" que vai reforçar a sua posição nas legislativas de 21 de maio, com um programa centrado no povo e a governar para todos.

"Naturalmente que quem governa, governa todo o povo. E como governa todo o povo deve saber abraçar todos. E esta vai ser de certeza a postura da Fretilin", disse à Lusa o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Mari Alkatiri, no comício do partido na capital timorense.

"Costumo dizer: mergulhar profundamente no povo, nadar juntamente com o povo, para [garantir] o caminho do desenvolvimento", vincou.

Alkatiri falava à margem de um comício que juntou milhares de apoiantes que se reuniram no recinto de Tasi Tolu, com filas de apoiantes em motas, carros e camiões, a viajarem de vários pontos da capital, entupindo algumas das principais ruas.

Este foi, até agora, o maior comício partidário da campanha na capital timorense, onde desde a semana passa se concentram as atenções das principais forças políticas concorrentes ao voto de domingo.

Duas horas depois do comício ter começado ainda estavam milhares de pessoas a tentar chegar ao recinto de Tasi Tolu, com um caos no trânsito de acesso à zona ocidental da cidade e vários quilómetros de filas de apoiantes.

"Desta vez fizemos um trabalho de baixo para cima. Fizemos um trabalho de raiz, voltando ao povo e identificando pessoas que estavam de certa forma discriminadas, sem maldade. Desta vez, sabemos que sim", afirmou Alkatiri reiterando a confiança na vitória.

E questionado entre o que está em jogo, foi claro: a luta está "entre um palco que só sabe insultar e um palco que vem com programas".

Alkatiri reagiu igualmente a declarações do Presidente da República, José Ramos-Horta, que em entrevista à Lusa disse preferir que "haja um partido que ganhe com a maioria absoluta" no voto de domingo.

Sapo | Lusa | Imagem: Lusa

Xanana Gusmão vai ser primeiro-ministro e trabalhar com todos — CNRT

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS EM TIMOR-LESTE

O secretário-geral do CNRT manifestou-se hoje “100% otimista” que Xanana Gusmão seráo novo primeiro-ministro de Timor-Leste, com uma vitória folgada a 21 de maio, vincando que o partido vai trabalhar com todos.

“Timor precisa que todo o mundo vá trabalhar junto. Eu sei. Eu tenho um pouco de experiência. (…) 36 cadeiras garantidas [no Parlamento Nacional]. A contagem é conservadora, até”, disse à Lusa o secretário-geral do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Francisco Kalbuadi.

“Timor é nosso, todo o mundo contribuiu para esta luta e [se] ganharmos a maioria isto significa que o povo acredita no CNRT. Mas o CNRT vai trabalhar com todo o mundo”, vincou, afirmando sobre Xanana Gusmão: “ele é primeiro-ministro, isso é indiscutível”.

Kalbuadi, que numa estimativa “conservadora” disse que o partido vai conseguir 36 das 65 cadeiras do parlamento, comentava assim declarações do Presidente timorense, José Ramos-Horta, que em entrevista à Lusa disse preferir que “haja um partido que ganhe com a maioria absoluta” no voto de domingo, mas que esse partido deveria trabalhar com outras forças políticas.

Portugal | É LEGAL, MAS É ROUBO

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Uma das marcas mais profundas das sociedades em que vivemos, incluindo as "democracias liberais", é o facto de a apropriação ilegítima de riqueza e de bens de diverso tipo ser incomensuravelmente maior nas suas expressões "legais", que no enquadramento reconhecido como crime. Atitudes políticas de tolerância perante esta constatação, desde logo em períodos de duros sacrifícios para os cidadãos, são intoleráveis. Todavia é o que vem acontecendo. A banca nacional (a que opera no país) teve, no primeiro trimestre deste ano, 955 milhões de euros de resultados (lucro). O povo português está a ser literalmente roubado. Devemos afirmá-lo sem rodeios para se tentar estimular algumas consciências.

O presidente da República, em vez de fazer uma crítica forte a esta realidade, optou por apelar à boa vontade dos banqueiros para refletirem sobre as taxas de juros aplicadas.

Até esboçou uma justificação para os bancos quererem proteger-se face a potenciais situações de perdas (valha-lhe Deus!). O Governo nada ou pouco diz sobre esta brutal fraude e o poder financeiro sente-se à vontade para desrespeitar as suas orientações.

As forças políticas da Direita e da extrema-direita misturam esta apropriação indevida com outros temas pontuais existentes no setor, como o dos "lesados da banca". E refinam a mensagem do presidente. Disse o Chega, na Assembleia da República, que a banca deve "utilizar os lucros para ajudar as famílias a pagar uma parte do crédito à habitação", mas não avançou qualquer medida para concretizar o apelo. Esta gente é descarada: primeiro deixam a banca roubar o povo, depois incentivam o estender da mão à caridade, utilizando para isso o dinheiro roubado.

Quem perdeu, e muito, na anterior crise foi o povo, não os detentores da banca. Os portugueses até pagaram os roubos feitos, ao longo de muitos anos, por gestões desastrosas e corruptas. Tentemos evitar o surgimento de faturas do mesmo tipo: i) as taxas de juros impostas aos cidadãos são um escândalo, até em comparação com as práticas europeias, e não podem continuar; ii) diz-se que, sem vergonha, os banqueiros estão fazendo pressão sobre o Governo para este não incentivar as pessoas a comprar certificados de aforro, porque isso lhes retira potencial de exploração; iii) os lucros obtidos já estão a caminho dos bolsos dos acionistas, a parte de leão no estrangeiro; iv) existem alertas para o incumprimento de contratos de crédito, em particular da habitação, que pode ser gerador de nova crise.

A questão dos lucros ilegítimos devia estar no centro do debate político. Não está, como não estão outros temas fulcrais: a estratégia de investimento, o desemprego, o emprego, o aproveitamento das qualificações dos portugueses, a melhoria dos salários. Em sua substituição está um clima de chafurdice política. A Direita e a Comunicação Social (que lhe pertence quase em pleno) acionam, a toda a hora, os lados da oferta e da procura de casos para chafurdar. Alimentam-se disso.

Um outro problema que nos empobrece é a atitude acomodatícia de um Governo que não sacode a chafurdice e que não apresenta uma estratégia de desenvolvimento convincente, que rompa com o baixo perfil da nossa economia e garanta serviços públicos universais e de qualidade. O PRR pode e deve ser uma importante alavanca de investimento, mas jamais pode ser essa estratégia.

Os roubos materiais e de dignidade que nos vão sendo feitos e as lacunas programáticas que persistem podem convergir perigosamente para o roubo da democracia.

*Investigador e professor universitário

TRABALHO TEMPORÁRIO AUMENTOU EM PORTUGAL, DESEMPREGO TAMBÉM - 2023


Rodrigo de Matos, Portugal

"Cartoon publicado no Expresso em 2011, eleito pela ONU para ilustrar um artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos" - em Expresso dezembro de 2018

TRÊS DIAS DE SETEMBRO QUE SÃO IMPREDIVEIS, RECHEADOS DE FESTA E CULTURA

Portugal | Festa do Avante! Um cartaz cheio de música para celebrar 50 anos de Abril

A 47.ª edição da Festa do Avante!, dias 1, 2 e 3 de Setembro, vai contar com artistas como Agir, a rapper Nenny, A Garota Não e Jorge Palma, num cartaz que festeja os 50 anos da Revolução de Abril.

A Festa do Avante! contará com a apresentação do espectáculo «Agir-Cantando Abril», visando homenagear «os poetas e os músicos de intervenção» e que terá a actuação de Agir, Carolina Deslandes, Lura, Milhanas e Paulo de Carvalho, o cantor de «E Depois do Adeus», que serviu de senha para o Movimento das Forças Armadas que derrubou a ditadura, em 1974.

Em comunicado, a organização da Festa do Avante! refere que o concerto de abertura, na sexta-feira ao final do dia, está a cargo da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, dirigida por Vasco Pearce de Azevedo, e o Coro Lisboa Cantat, dirigido por Jorge Alves.

O repertório contará com composições feitas antes e depois do 25 de Abril, «relacionadas com a resistência político-cultural ao fascismo português e com o usufruto criativo que a liberdade democrática depois suscitou», destaca o gabinete da Festa comunista.

Na Quinta da Atalaia actuarão também artistas e grupos com um repertório rico «em canções de carácter político-social ou mesmo de intervenção» como os portugueses A Garota Não, Bateu Matou, Boémia, Luta Livre ou a italiana Loredana Savino, que apresenta o álbum «Disco Comunista».

Tim regressa à Festa do Avante! para um concerto com alguns dos seus temas mais conhecidos, enquanto Jorge Palma e Rui Reininho vão apresentar o último disco de Palma, «Vida». Também Rodrigo Leão irá dar um espectáculo para dois pianos, «sendo que a pianista interlocutora é a sua filha, Rosa».

Os djs portugueses Ecstasya e Photonz, o angolano DJ Satélite e a sino-canadiana Ciel serão protagonistas da programação da «Rave Avante!», um espectáculo de música de dança «engajada na defesa dos direitos humanos e da liberdade».

Portugal | ONDE ANDAM OS ADULTOS?

Pedro Ivo Carvalho | Jornal deNotícias | opinião

A enorme desvantagem de passar uns dias num país civilizado e voltar a Portugal é perceber que, entre nós, é sempre possível fazer pior. Que os episódios e as personagens que tendem a envergonhar-nos são capazes de nos arrastar ainda mais para o lodaçal, que a nossa estupefação é tremendamente elástica e que o decoro e a probidade republicanas são conceitos que morrem com a mesma facilidade com que se desfaz o nó de uma gravata ministerial.

O intragável rol de versões, acusações e descrições produzidas pelo chamado "caso Galamba" entranhou-se na vida pública e política como uma praga bíblica, relegando tudo o resto para uma fastidiosa nota de rodapé. Ora, o país não se resume ao computador apreendido do assessor, à chefe de gabinete que chamou os serviços secretos, nem muito menos ao ministro que envolveu colegas do Governo, e sobretudo o primeiro-ministro, numa trapalhada de que será incapaz de sair, por mais vidas que lhe outorguem. Continuamos sequestrados por esta gente equívoca, aburguesada e infantil. Não somos convocados para discutir o essencial, o desenvolvimento económico, o emprego, a brutal crise social, a educação e as oportunidades de um país que vive refastelado à sombra do turismo, a galinha dos ovos de ouro que brilha, impante, malgrado as pancadas que recebe como agradecimento.

Enquanto João Galamba era espezinhado no Parlamento, António Costa vibrava no concerto dos Coldplay. E no meio desta sucessão de nadas que usa a nossa lamúria como banda sonora até o presidente da República revelou um desnecessário desacerto, ao criar suspense sobre uma declaração acerca do tema, a qual foi entretanto cancelada, mas que depois acabou por acontecer. E o que disse afinal Marcelo? Que está atento mas que não tem nada a acrescentar. Onde andam os adultos que tanta falta nos fazem?

*Diretor-adjunto do JN

A história do movimento negro em Portugal é longa, mas foi reprimida e silenciada

Reprimida e silenciada - até agora

Muito já se escreveu sobre o passado colonial, imperial e escravocrata de Portugal, mas as histórias das pessoas negras foram sempre secundárias. As personagens na luta contra o racismo eram, na sua maioria, brancas. Mas, a partir de 1911, houve um movimento negro que defendeu direitos para as populações negras, lutou contra o trabalho forçado, denunciou as limitações à mobilidade social, exigiu mais infraestruturas nas antigas colónias (escolas, hospitais) e, no palco internacional, promoveu o pan-africanismo. O combate ao racismo foi transversal à sua teoria e ação política.

Mas o movimento foi reprimido, primeiro pela Ditadura Militar e depois pelo Estado Novo, e relegado ao esquecimento, silenciado pelo poder político, económico e social. Até agora. A socióloga Cristina Roldão, o historiador José Augusto Pereira e o antropólogo Pedro Varela vasculharam inúmeros arquivos para contarem a história do movimento negro entre 1911 e 1933. O resultado foi o livro Tribuna Negra – Origens do Movimento Negro em Portugal (1911-1933), publicado pela Tinta-da-China. O livro foi o mote para uma conversa sobre o movimento negro.

Tal como o movimento negro aprendeu ao longo da sua história, conquistar-se direitos na lei não é o mesmo que ter-lhes acesso no dia-a-dia. Um outro exemplo disso é o direito ao acesso ao aborto. Carolina Monteiro argumenta neste ensaio que já não é possível negar que estarem a ser impostas restrições no acesso ao aborto. Ou seja, há um boicote silencioso contra o direito ao aborto. Não basta ter uma lei, tem de ser orientada e cumprida. Quando vai acabar o tempo do boicote tolerado (e alimentado) pelo sistema?

Quem põe em causa os direitos das mulheres é o Chega. Fá-lo programática e discursivamente com populismo ideológico e comunicacional. Sofia F. Santos analisa a estratégia de comunicação do Chega e como tem conseguido explorar emoções negativas e aproveitado a curta capacidade de atenção das pessoas, ultra simplificando realidades complexas. Fá-lo enquanto não apresenta soluções para os reais problemas de quem vive e trabalha em Portugal, e quando o faz é por puro oportunismo político.

Nesta edição Nuno Serra, dos Ladrões de Bicicletas, critica a hipocrisia de Nuno Crato. O ex-ministro da Educação foi responsável por termos perdido 30 mil professores durante a sua governação (2011-2015) e agora lamenta, na televisão e com lágrimas de crocodilo, haver poucos docentes. Não esquecemos como as suas políticas prejudicaram alunos e professores.

Por fim, a cronista Paula Cardoso escreve que os primeiros passos do novo Observatório do Racismo estão muito aquém das expectativas. “Até agora contam-se três pessoas no Observatório, todas brancas, e cuja trajectória profissional não permite compreender como aí foram parar. Querem mais brancos costumes do que estes. Talvez seja a isto que se referem quando falam em meritocracia”, critica.

É tudo esta semana. Boas leituras e bom fim de semana,

Ricardo

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Angola | O ERRO DE AGOSTINHO NETO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Naquele tempo o José Mena Abrantes traçava uma linha da informação internacional, recolhia e traduzia as notícias que considerava mais importantes e depois eu fazia um resumo que levava, ao fim da tarde, a casa de Agostinho Neto, no Bairro de Saneamento. Lia o meu texto em voz alta, entregava-lhe as notícias traduzidas e depois respondia a perguntas. 

Nessas sessões percebi, logo no início, que Agostinho Neto tinha o dom da clarividência. Analisava as mensagens informativas e depois tirava conclusões dizendo o que ia acontecer no futuro, face aos dados que ele tinha. Batia sempre certo. Eu ia guardando essas premonições e servia-me delas para fazer brilharetes como repórter. Estava sempre em cima dos acontecimentos, porque já sabia que iam acontecer.

A clarividência de Neto entrou para as páginas da História Universal. Ninguém sabia que os angolanos iam derrotar o regime de Pretória no Triângulo do Tumpo. Ninguém imaginava que o cavalo do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), Reino Unido, França, Reino Unido, Alemanha ou Portugal ia ficar enterrado no lodo dos pântanos à vista de Samaria, Cuito Cuanavale. Neto sabia e não tinha a mínima dúvida.

Os angolanos sofreram séculos de colonialismo, o mais hediondo crime que alguma vez foi cometido contra a Humanidade. Fizeram a Luta Armada de Libertação Nacional. Lutaram pela Soberania e a Integridade Territorial ao longo de 13 anos. E ainda tiveram força para libertar Nelson Mandela. Agostinho Neto sabia disso muitos anos antes.

O Presidente Fundador da Pátria Angolano disse que a luta dos angolanos se projectava na Namíbia, Zimbabwe e África do Sul. Garantiu aos incrédulos que Angola era uma trincheira firme do socialismo em África. Explicou ao Povo Angolano e ao mundo de ouvidos limpos, que a liberdade dos angolanos só era possível quando fossem livres os povos da África Austral, submetidos ao regime de apartheid: Namíbia, Zimbabwe e Árica do Sul. Sem parangonas, sem truques, sem ilusões foi muito claro no apoio aos povos irmãos submetidos.

Um dia fui chamado à Quinta Rosa Linda e lá estava Joshua Nkomo com Agostinho Neto, que me apresentou o seu convidado como o futuro líder do Zimbabwe. Entrevistei-o mas manifestou muitas dúvidas quanto à premonição do Presidente de Angola. A Frente Patriótica derrotou o apartheid e tomou o poder. Outro dia fui entrevistar San Nujoma. A mesma cena no Futungo. Agostinho Neto apresentou-me o futuro presidente da Namíbia. Mas o líder da SWAPO, durante a entrevista, manifestou muitas inquietações e dúvidas. Quando foi empossado como Presidente da Namíbia deve ter recordado a premonição de Agostinho Neto, o que tinha razão antes do tempo.

ANGOLANOS VEEM A POLÍCIA COMO INSTITUIÇÃO CORRUPTA - estudo

Pesquisa da Afrobarómetro concluiu que angolanos veem a Polícia Nacional como uma das instituições públicas mais corruptas do país e que muitos oficiais são propensos a usar força excessiva e outros abusos.

"Poucos confiam na polícia e menos ainda acham que ela opera de maneira profissional e respeita os direitos dos cidadãos. Essas perceções públicas destacam os principais desafios que o Governo enfrenta na construção de uma força policial republicana, profissional e confiável, preparada para realizar com zelo e abnegação as tarefas que lhes são confiadas", refere a pesquisa

A equipa do Afrobarómetro em Angola, liderada pela Ovilongwa - Estudos de Opinião Pública - entrevistou 1.200 angolanos adultos, entre 09 de fevereiro e 08 de março de 2022, sobre as experiências e avaliações dos africanos relativamente ao profissionalismo da polícia.

O sentimento de insegurança foi relatado por seis em cada dez angolanos (63%), que disseram sentir-se inseguros a andar no seu bairro pelo menos uma vez durante o ano anterior, enquanto 54% responderam temer o crime em casa pelo menos uma vez, revelando ainda a pesquisa que a insegurança e o medo são experiências mais comuns nas cidades do que nas áreas rurais.

Angola | REVELAÇÕES SURPREENDENTES

Kuma | Tribuna de Angola | opinião

Num recente repasto num conhecido restaurante em Sete Rios na cidade de Lisboa, o presidente da JURA – Juventude Unida Revolucionária de Angola, braço juvenil da UNITA, Nélito Ékukui, expressou claramente a sua candidatura à liderança do Partido, em Congresso previsto para 2025, tendo já um leque substancial de militantes a apoiá-lo, bem como algumas personalidades do Galo Negro como Adriano Sapiñala (filho de Samuel Chiwale), Abertina Navemba Ngolo, aliás Navita Ngolo, aliás Ékuva Estrela (filha de Eugénio Manuvakola), Liberty Chiyaka (sobrinho de Samakuva), Lucy Lukamba (filha de Lukamba “Miau” Gato), garantindo assim o apoio quase certo da oligarquia déspota familiar que cada vez mais se distancia de ACJ “Bétinho”, que sabe-se agora, nem o Grau de Bacharel atingiu nos seus estudos universitários no Porto, Portugal.

Todo este cenário revelado por Ékuikui, segundo um dos seus apoiantes, reflecte-se nas recentes nomeações para cargos directivos feita por ACJ “Bétinho”, gente totalmente desconhecida, com uma visão redutora das relações internacionais, catalogando o Ocidente, Israel e a Europa, renegando África, os PALOP, e América Latina, afinal Kanda Bernardo, o homem das relações Exteriores da UNITA, é um tarefeira precário num departamento das Nações Unidas em Geneve, e está na condição de cidadão alemão.

Também o apoiante financeiro de ACJ “Bétinho”, o empresário Joaquim Ribeiro, colega seminarista no Quipeio, Ékunha, Huambo, já anda em Portugal a hipotecar empresas angolanas e terrenos para produção agrícola, logo que a UNITA atinja o Poder.

Estranhamente para quem invoca constantemente a Constituição, e apela com ruído o funcionamento das instituições, é um Partido liderado por um aventureiro predador da democracia, que não presta contas à Sociedade, nenhuma organização política no mundo gasta permanentemente tanto dinheiro em perene campanha, e como apanágio de quem ataca para se defender, também está por explicar onde ACJ “Bétinho” encontrou argumentos para que afirmasse que o MPLA gastou um bilião e oitocentos milhões de dólares na campanha eleitoral.

Isto é crime.

Muito grave.

Haja Justiça.

ANTÓNIO COSTA VISITA ANGOLA A 5 E 6 DE JUNHO

O primeiro-ministro realiza a visita oficial a Angola a convite do Presidente angolano, João Lourenço. De seguida, António Costa ruma à África do Sul onde participará, juntamente com Marcelo Rebelo de Sousa, nas comemorações do 10 de junho.

O primeiro-ministro, António Costa, desloca-se em visita oficial a Angola a 5 e 6 de junho, informou esta quarta-feira o gabinete do líder do Governo. A visita decorre de um convite do Presidente da República de Angola, João Lourenço.

O programa prevê "encontros políticos institucionais, designadamente com o Presidente João Lourenço, com empresários e com a comunidade portuguesa".

Segundo o gabinete de António Costa, esta deslocação visa "o reforço das relações bilaterais entre Portugal e Angola a nível político, económico e cultural, com a valorização de áreas como a engenharia e construção, o agroalimentar, a energia e o turismo".

Após a visita a Angola, António Costa desloca-se a África do Sul, onde permanecerá apenas a 7 de junho, "no âmbito do Programa das Comemorações do 10 de junho junto da Comunidade Portuguesa residente na África do Sul, juntamente com o Senhor Presidente da República". 

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