Tudo quase sempre na mesma apesar de as "moscas habituais" da elite se irem revezando
A independência de Timor-Leste
foi a maior causa do povo português depois do 25 de abril. Quem o disse pela
primeira vez foi Jorge Sampaio quando era Presidente da República. Este ano,
por ocasião dos 20 anos de independência de Timor-Leste, o atual Presidente
português lembrou essas palavras no Parlamento timorense.
Marcelo Rebelo de Sousa
deslocou-se a Díli para a tomada de posse de José-Ramos Horta como Presidente
da República de Timor-Leste, a 20 de maio, o dia que assinala o nascimento
do primeiro Estado-nação do século.
Onze anos antes, o mundo tinha
despertado para a luta dos timorenses contra a ocupação e a repressão da
Indonésia, a partir da divulgação das imagens do massacre do
cemitério de Santa Cruz.
Na sequência de uma manifestação
durante as cerimónias fúnebres de um jovem pró-independência, os militares
indonésios não hesitaram em disparar, mesmo dentro do cemitério, onde centenas
de pessoas, na maioria jovens, tentavam proteger-se das balas. O momento
foi registado pela câmara do jornalista inglês Max Stahl, que conseguiu
que as imagens fossem divulgadas e o mundo não tivesse dúvidas sobre o que
estava acontecer.
Em Portugal, ouvir a aflição de
um povo tão distante rezar a Avé Maria em português fez despertar
consciências. Políticos da esquerda à direita, figuras públicas, cidadãos
anónimos defendiam os que em Timor queriam um país livre e independente.
O que acabou por acontecer só em 2002.
A partir daí, foi preciso garantir a paz e reconstruir o país, um percurso
que tem podido contar com ajudas de vários países e organizações
internacionais. Portugal tem tido projetos de cooperação com o Estado
timorense, desde a justiça, ao ensino da língua portuguesa ou à produção
do café, o produto que Timor mais exporta.
Para o português Hugo Trindade,
que chegou a Timor há 15 anos, é preciso mais investimento no setor agrícola,
sobretudo num contexto de crise alimentar.
A agricultura é a principal
atividade no país e os que dependem dela são também os mais pobres. Timor
tem podido contar com receitas do petróleo e com ajudas da comunidade
internacional mas que diferença tem tido esse apoio no desenvolvimento do país
e quais têm sido os maiores investimentos?
O turismo é um dos
setores em que o país ainda tem caminho para fazer. Há poucas estruturas
turísticas num país rodeado por água e onde muitas praias estão interditas
devido à presença de crocodilos, animal considerado sagrado pela maior parte da
população. Mas o território esconde lugares de rara beleza em terra e
no mar. Entre Díli, a capital, e a ilha de Ataúro, a riqueza da fauna e da
flora marítimas conta com mais de 250 espécies diferentes.
A língua oficial do país é o tetum, mas
o português foi a segunda língua oficial escolhida por Timor-Leste quando
alcançou a independência. O português tinha sido proibido pela
ditadura indonésia durante a ocupação. Os que se atreviam a falar a língua
e ou a ensiná-la eram perseguidos e houve quem tivesse perdido a vida por
causa disso.
Hoje há mais gente a falar
português do que em 2002. Para isso, têm contribuído os CAFE-Centro de
Aprendizagem e Formação Escolar, onde todas as matérias se aprendem em
português. Nestes centros, há 117 professores portugueses que também
dão formação a professores timorenses. Mas o ensino do português só chega a
uma parcela da população. Em cada um dos 13 distritos, há apenas uma destas
escolas e em todas há mais procura do que vagas para novos alunos.
Em duas décadas, a população cresceu
para um 1,3 milhões de pessoas, a maioria com menos de 25 anos. A
mais-valia de uma população jovem coloca também imensos desafios a quem governa.
Simoa da Silva Tilman viveu de
perto a história recente do país. A família defendia um Timor livre e
independente e pagou por isso um preço elevado. Um dos irmãos foi levado
pelas tropas indonésias e nunca mais foi visto. Casos como o dela não
faltam em Timor.
Durante a ocupação indonésia foram mortas centenas de
milhares de pessoas.
O país vive hoje em paz mas ainda
a tentar sarar as feridas e as divisões entre os timorenses que queriam a
independência e os que defendiam o regime indonésio.
Até que ponto valeu a pena a luta
pela liberdade e pela autodeterminação, que custou a vida a centenas de
milhares de timorenses?
Em 20 anos de independência, o
que conseguiu alcançar Timor-Leste e o que está ainda por fazer?
A Grande Reportagem foi saber
como está e para onde quer caminhar esta democracia do sudeste asiático.
Conceição Lino – SIC NOTÍCIAS
Com diversos vídeos SIC sobre Timor-Leste na página da Agência Lusa – Vá Ver.