segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Biden, 'combater a islamofobia' enquanto incinerar Gaza é o mais democrático do mundo

No que é provavelmente a coisa mais liberal que alguma vez aconteceu em toda a história da humanidade, a administração Biden anunciou os seus planos para desenvolver uma Estratégia Nacional dos EUA para combater a islamofobia, ao mesmo tempo que ajuda Israel a massacrar muçulmanos aos milhares em Gaza.

Caitlin Johnstone* | CaitlinJohnstone.com | Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

“Durante demasiado tempo, os muçulmanos na América, e aqueles considerados muçulmanos, como os árabes e os sikhs, sofreram um número desproporcional de ataques alimentados pelo ódio e outros incidentes discriminatórios”, lê-se numa declaração da Casa Branca sobre o anúncio. “Todos lamentamos o recente assassinato bárbaro de Wadea Al-Fayoume, um menino palestino-americano muçulmano de 6 anos, e o ataque brutal à sua mãe em sua casa nos arredores de Chicago.”

Isto ocorre num momento em que o número de mortos na campanha de bombardeamentos apoiada pelos EUA em Gaza se aproxima dos 10.000 , incluindo 3.760 crianças , numa situação que especialistas autoridades de todo o mundo descrevem com crescente frequência como um genocídio. Se estas pessoas fossem judias em vez de muçulmanas, não ficariam presas num gigantesco campo de concentração enquanto as FDI as atacam com uma barragem ininterrupta de explosivos militares, mas devido à sua etnia estão sujeitas a este horror.

Há um meme clássico que zomba do modo como a política externa dos EUA sob os democratas é a mesma política externa assassina que sob os republicanos, mas com um monte de adesivos de pára-choque que soam acordados colados na superfície para torná-la palatável para as sensibilidades progressistas:

Você consegue pensar em uma ilustração melhor da dinâmica destacada por essas críticas do que a que vemos hoje no governo Biden? Afinal, esta é a mesma administração cujo Departamento de Defesa disse recentemente que está a impor limites zero ao que Israel pode ou não fazer com as armas que lhe estão a ser fornecidas pelos Estados Unidos.

“Não estamos impondo limites à forma como Israel usa as armas fornecidas”, disse a vice-secretária de imprensa do Pentágono, Sabrina Singh, à imprensa na segunda-feira. “Isso realmente cabe à Força de Defesa de Israel usar na forma como conduzirão suas operações. Mas não estamos colocando nenhuma restrição nisso.”

Notícias da Democracia Israelita -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um jornalista desesperado, durante o directo televisivo, tirou o colete à prova de bala onde está escrito “press”, atirou ao chão o capacete de ferro e gritou: “Vamos todos morrer aqui, é uma questão de tempo”. Todos sabem isso mas fingem desconhecer. 

Um fotojornalista, destruído pela dor, afirmou ante a câmara de filmar: “Mataram os meus filhos e o meu sobrinho. Todos meninos tão bondosos!” Os ministros das Finanças dos países apoiantes do genocídio podem tomar nota: Morreram até hoje 480 crianças na Faixa de Gaza. Nesta contabilidade não entra a Cisjordânia. Os vossos investimentos estão a correr bem.

Os bombardeamentos são cirúrgicos. As bombas só caem onde estão concentrados muitos palestinos: Campos de refugiados. Escolas da ONU que servem de refúgios. Hospitais que são igualmente locais de refúgio, para quem não tem onde se esconder. Destroem mesquitas e outros locais de culto, porque abrigam civis. Cirurgicamente matam jornalistas e funcionários da ONU. Fujam daqui. Não queremos testemunhas! Todas sabem que é assim. Todos sabiam que ia ser assim desde que o governo de Israel tomou posse há um ano.

A grande democracia de Israel tem em vigor leis de apartheid como o regime racista da África do Sul. O governo israelita é de extrema-direita. Os mentores das “democracias liberais” sabem que isso nada tem a ver com a democracia. O HAMAS é um movimento político insurgente. Nasceu para lutar contra a ocupação militar da Palestina. Nem interessa quem apoiou os seus primeiros passos e financiou. O que conta é agora. E hoje é isso mesmo, um movimento insurgente. É tão possível acabar com ele como foi exterminar o MPLA, PAIGC e FRELIMO. Exterminar os Vietcongue. Destruir os Talibãs. Eles sabem que é impossível.

Partidos israelitas como o Noam (homofóbico), Shas, Judaísmo Unido da Torá (coligação dos partidos Agudat Israel e Degel HaTorah)), Sionismo Religioso ou Poder Judaico são exactamente iguais ao HAMAS. Vão exterminá-los? Matar todos os seus dirigentes e militantes? Todos conhecem a “democracia” de Israel. Sabem que é dominada por partidos extremistas e fanáticos religiosos. Como o HAMAS, sem tirar nem pôr.

O que aconteceu em 7 de Outubro passado em Israel fazia parte do cardápio do governo de Benjamim Netanyahu. Para os distraídos, relembro as prioridades anunciadas pelo primeiro-ministro: “Impedir os esforços do Irão para adquirir um arsenal nuclear. Assegurar a superioridade militar de Israel na região. Avançar e desenvolver colonatos em todas as partes de Israel, na Galileia, Negev, Montes Golã e Judeia e Samaria”. Todos sabem mas eu recordo aos distraídos. Os nomes bíblicos da Cisjordânia (Palestina) são Judeia e Samaria.

As Verdades dos Livros Sagrados -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O largo à entrada do Hospital Al Shifa na cidade de Gaza foi atacado com um míssil. Atingiu ambulâncias que iam levar doentes graves para a fronteira com o Egipto. Todos mortos. Nesse momento Antony Blinken, secretário de estado dos EUA, estava reunido com o primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu. Nada se sabe do que ambos trataram. Mas pelo bombardeamento às ambulâncias é fácil concluir. O estado terrorista mais perigoso do mundo quer o genocídio em Gaza. E para o objectivo não falhar, Washington enviou dois porta-aviões e outros navios de guerra para o Mediterrâneo oriental. Notem bem. Foi o único país que mandou forças armadas para a região. Justificação: Temos de evitar o escalar da guerra!

No momento em que Blinken e Netanyahu tratavam dos negócios do genocídio, uma escola da ONU era bombardeada e 15 pessoas foram mortas. Mas o secretário de estado dos EUA, na Jordânia, foi visitar a sede da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos e com ar de rufia (parecia o Aldraberto da Costa Júnior!) disse que lamentava as mortes dos funcionários. Como se não fosse ele o matador. Os matadores têm mesmo coragem. Mas mais coragem têm os ministros árabes, que reuniram com ele em Amã. A falta de vergonha não tem limites. A vida humana para os mentores do banditismo político nada vale.

Os assassinos justificam o genocídio na Palestina com a “lógica do ocidente”. Os cruzados são assim. Matam em nome de um deus cruel. Mas não deixam os outros fazer o mesmo. “Deus” há só um, o dos nazis ocidentais e mais nenhum. Um jovem israelita judeu disse a uma empregada da limpeza na TRP: “Não temos medo. A Torá diz que Israel é a terra mais segura do mundo”. Invocando a Torá cometem crimes sem nome. Nem se lembram que em nome de todos os livros sagrados outros podem fazer o mesmo. E estão a fazer. Ou melhor: A partir de agora nunca mais deixam de fazer. Peço-vos perdão, meus filhos e netos.

Na hora da reunião entre Blinken e Netanyahu os assassinos atacaram à bomba a cidade de Khan Yunis no sul da Faixa da Gaza. Até 8 de Outubro tinha 300.000 habitantes. Agora tem um milhão! Foi para lá que os nazis de Telavive enxotaram os habitantes do norte. Num acto de boa vontade, o governo nazi de Israel suspendeu os bombardeamentos durante três horas para os palestinos irem voluntariamente para o sul. Quando estiverem mais concentrados, são bombardeados e os sargentos cumprem as ordens de Washington, Paris, Londres, Bona e Berlim: Matem-nos até onde for preciso!  

Hoje as forças armadas de Israel informaram que desde o início do genocídio na Faixa de Gaza e Cisjordânia já mataram dez comandantes do braço armado do HAMAS. Para esse resultado fizeram mais de 20.000 feridos palestinos. Dezenas de jornalistas assassinados ou presos. Dezenas de funcionários da ONU mortos à bomba. Mais de 10.000 civis mortos, dos quais 70 por cento mulheres e crianças. Todos assassinados para apanharem dez comandantes do braço armado do HAMAS. Mas o genocídio na Palestina já garantiu ao movimento milhões de apoiantes. Cada qual que tire as suas conclusões. Sobretudo em Israel.

Jornalistas morreram 40 e dez foram presos pelos esbirros de Telavive. O que interessa isso? Ninguém os mandou trabalhar onde eles atiram bombas exactamente para matar civis. A Torá diz que Israel é todo o mundo e quem não é judeu a mãe dele é gato. Tanta loucura! Nisto de religiões não me meto. Não frequento. Nem sequer sou ateu. Ignoro. Mas dos dez mandamentos aprecio imenso a lei “não cobiçarás a mulher do próximo”. Cumpram! Andam sempre a cobiçar a minha mulher! Sou mesmo vítima do imperialismo.

Forças especiais dos EUA ajudam Israel no conflito de Gaza: Relatórios

Autoridades dos EUA confirmaram que as forças especiais dos EUA estão tentando resgatar cidadãos dos EUA mantidos em cativeiro pelo Hamas, enquanto fontes palestinas relatam seu envolvimento também na invasão terrestre de Gaza por Israel

The Cradle | # Traduzido em português do Brasil

Os EUA enviaram forças especiais a Israel para ajudar a encontrar centenas de reféns mantidos em cativeiro na Faixa de Gaza pelo Hamas, teria dito um alto funcionário do Pentágono em 31 de Outubro.

“Estamos ajudando ativamente os israelenses a fazer uma série de coisas”, disse Christopher Maier, secretário adjunto de Defesa, em uma conferência de operações especiais em Washington, informou o The New York Times .

O Hamas capturou cerca de 245 pessoas durante o seu ataque surpresa ao sul de Israel, em 7 de Outubro, no qual cerca de 1.400 pessoas foram mortas. Muitos dos mantidos em cativeiro são civis e vários possuem cidadania norte-americana.

O Hamas libertou até agora quatro prisioneiros, incluindo dois cidadãos israelenses-americanos.

Maier, que é o principal responsável pela política de operações especiais do Pentágono, disse na conferência que um objectivo fundamental do pessoal dos EUA é “identificar reféns, incluindo reféns americanos”.

Maier disse que os comandos dos EUA não receberam nenhuma função de combate, mas estavam discutindo com as forças israelenses a situação em Gaza para “o que será uma luta muito complexa daqui para frente”.

No entanto, não está claro se a actividade das Forças Especiais dos EUA se limitará à assistência no resgate de reféns. 

O antigo conselheiro do Pentágono, Douglas MacGregor, afirmou a 26 de Outubro que uma Força Especial dos EUA acompanhada por uma Força Especial Israelita tinha entrado na Faixa de Gaza para efectuar reconhecimento e avaliar possíveis formas de libertar os reféns, mas estes foram atacados e sofreram graves baixas.

Em 27 de Outubro, Israel iniciou discretamente a sua invasão terrestre de Gaza, cortando a comunicação na faixa e enviando tropas terrestres para lá.

Em 31 de Outubro, a New Press informou que, segundo as suas fontes, os combatentes do Hamas prepararam uma emboscada e mataram forças dos EUA e de Israel a leste de Beit Hanoun, em Gaza.

O correspondente da Al-Jazeera, Wael Al-Dahdouh, relatou que os combatentes do Hamas deixaram os soldados entrar em grande número num edifício e depois explodiram-no.

Oficiais militares dos EUA estão trabalhando em estreita colaboração com Israel para coordenar a invasão terrestre em curso.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd J. Austin, tem mantido discussões quase diárias com o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant.

As Forças Especiais Britânicas também podem estar a desempenhar um papel na assistência a Israel em Gaza.

O governo do Reino Unido emitiu avisos aos meios de comunicação para suprimirem relatórios sobre as operações do Serviço Aéreo Especial (SAS) em Gaza.

No dia 28 de Outubro, o Socialist Worker, o jornal do Partido Socialista dos Trabalhadores, revelou ter recebido um “Aviso D” do Comité Consultivo dos Meios de Comunicação Social de Defesa e Segurança (DSMA) solicitando-lhe que não publicasse informações relativas às operações do SAS.

D Os avisos são utilizados pelo Estado britânico para vetar a publicação de notícias prejudiciais aos seus interesses.

O e-mail para a mídia era do secretário da DSMA, Brigadeiro Geoffrey Dodds, afirmando: “Relatórios começaram a aparecer em algumas publicações alegando que as Forças Especiais do Reino Unido foram enviadas para áreas sensíveis do Oriente Médio e, em seguida, vinculando esse envio ao resgate de reféns”. /operações de evacuação.”

As tropas das Forças Especiais Britânicas estão atualmente em Chipre, em prontidão para os acontecimentos em Gaza e em toda a região.

O jornal The Sun disse que os soldados estão “preparados para libertar os cidadãos do Reino Unido presos no banho de sangue” em Gaza enquanto a crise na região continua. Acrescentaram que cerca de 200 cidadãos britânicos estão presos em Gaza.

Eles dizem que o foco principal das tropas “é a Faixa de Gaza, mas as autoridades temem que a guerra possa se espalhar, prendendo mais britânicos na península egípcia do Sinai e no Líbano”.

Membros das forças especiais canadenses (CAF) também estão em Israel ajudando a embaixada do Canadá no “planejamento de contingência”, confirmou um porta-voz do Departamento de Defesa Nacional à CBC News.

Num comunicado no início da semana, o Ministro da Defesa, Bill Blair, disse que 300 membros da CAF estão agora na região, com uma força-tarefa sediada em Chipre.

Imagem: Forças Especiais dos EUA (Crédito da foto: Exército dos EUA)

Gaza sufocada sem direito à comunicação. Um conflito letal também para os jornalistas

Nas últimas três semanas de outubro, mais de trinta jornalistas perderam a vida enquanto trabalhavam em reportagens na Faixa de Gaza. O conflito, que já causou dezenas de milhares de vítimas, não exclui os profissionais da imprensa.

Sergio Ferrari | Monitor do Oriente | # Publicado em português do Brasil

Para a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), uma organização com sede em Bruxelas, Bélgica, que reúne mais de 600.000 jornalistas de 140 países, é essencial que os protagonistas desse novo conflito respeitem o direito à informação.

“Respeite a segurança dos jornalistas em Gaza”.

Durante sua recente visita à Suíça, o jornalista francês Anthony Bellanger, atual Secretário Geral da FIJ, ratificou de Berna, Lausanne e Genebra o apelo que a FIJ fez em 13 de outubro à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que também lida com grandes questões ligadas à informação. “Os trabalhadores da mídia em áreas de conflito armado devem ser tratados e protegidos como civis e devem ter permissão para realizar seu trabalho sem interferência”, disse Bellanger.

Ele antecipou que sua organização está solicitando à UNESCO um apoio solidário excepcional para permitir que os jornalistas palestinos comprem coletes à prova de balas, capacetes e equipamentos de primeiros socorros. A solicitação também inclui os meios para estabelecer uma casa de imprensa em Khan Younes, Gaza, para permitir que os jornalistas estrangeiros baseados no Cairo que entram por Rafah possam desempenhar adequadamente suas funções profissionais no local.

Há apenas alguns dias, a IFJ pediu aos protagonistas do conflito que “façam todo o possível para proteger os jornalistas e profissionais da mídia”. Ela os lembrou de que “há um intenso interesse (e preocupação) em todo o mundo sobre esse conflito, mas que as pessoas só entenderão o que realmente está acontecendo se os jornalistas tiverem permissão para fazer seu trabalho”.

Uma carta aberta a Ursula Von Der Leyen, Presidente da Comissão Europeia

Vossa Excelência,

Você fez um discurso esta semana** elogiando o estabelecimento de Israel em seu 75º aniversário.

Para alguém em sua posição, é surpreendente que tenha havido tantos erros de fato, julgamentos equivocados, violação do direito internacional e desvio das normas básicas de justiça.

Você parabenizou Israel pelos 75 anos de existência em uma área de 20.500 km2, que é 78% da Palestina. Nenhum quilômetro quadrado dessa área foi obtido por qualquer meio legal ou justo. Seis por cento foram obtidos por meio do traiçoeiro conluio britânico e 72% por conquista militar. Como você pode parabenizar um regime que obteve esta terra derramando o sangue de inocentes?

Israel não tem fronteiras, nem pela lei internacional nem por sua própria admissão. O Acordo de Armistício de 1949 não confere nenhum título legal sobre qualquer fronteira. Qual Israel você está parabenizando? Está na terra ocupada por Israel em 1948 ou em 1967?

Não há uma única linha nas resoluções da ONU que apoie você em qualquer um deles.

Você parabeniza Israel por seu “dinamismo, engenhosidade e inovações revolucionárias”.

Peço-lhe que reúna os melhores cientistas alemães e os localize na Ilha de Madagascar, onde mataram o povo da ilha e montaram o melhor laboratório. Você consideraria isso uma conquista científica?

A miséria moral da “civilização ocidental”

Pais e outros familiares começaram a escrever o nome nas mãos e nos braços das suas crianças para poderem ser identificadas depois de abatidas pela «única democracia do Médio Oriente», protegida pelo «exército mais moral do mundo».

José Goulão | AbrilAbril | opinião

«À medida que a guerra entre Israel e o Hamas avança peço aos meus compatriotas americanos que permaneçam vigilantes e não caiam em qualquer propaganda falsa afirmando que as pessoas que vivem em Gaza são dignas de vida humana…» (Joseph Biden, presidente dos Estados Unidos da América)

Joseph Biden, o chefe dos chefes daquilo a que costuma chamar-se o «Ocidente colectivo», ou «a civilização ocidental», ou simplesmente «o Ocidente», pronunciou esta frase lapidar à chegada de uma breve deslocação ao Médio Oriente onde abraçou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, mas sem o interromper no comando da chacina do povo de Gaza.

Não estranhem, por muito revoltantes que as sintam, as palavras do nosso guia da «civilização ocidental», essa mistura de irmandades decrépitas, sofrendo de sintomas de autoritarismo desesperado, como a NATO, a União Europeia, o G7, os Cinco Olhos e ainda outras agremiações onde se juntam o todo ou parte dos mesmos comparsas. Ao contrário do que possa pensar-se, tais sentenças não são fruto da senilidade e de outras insuficiências manifestadas pelo personagem que habita na Casa Branca.

Desta feita são palavras lúcidas, com raízes no conceito do primeiro-ministro de Israel em relação às pessoas de Gaza, por ele qualificadas como «bestas humanas». Ou, na versão do ministro sionista da Defesa, Yoav Gallant: «estamos a lutar contra animais humanos e agindo em conformidade».

«Agir em conformidade» é, como testemunhamos, massacrar metodicamente a população da Faixa de Gaza, replicando práticas dos nazis nos campos de concentração, mas usando métodos mais sofisticados porque Hitler não tinha caças F-16, drones ou artefactos teleguiados que não erram a pontaria, nem mesmo quando miram hospitais. Que afinal, para o regime ocupante de Israel, são muito mais do que hospitais. Hananya Naftali, uma assessora de comunicação de Benjamin Netanyahu, explicou nas redes sociais que «as Forças Armadas de Israel bombardearam uma base terrorista do Hamas dentro de um hospital (al-Ahli) em Gaza; vários terroristas foram mortos».

Portugal | ÁGUA NA FERVURA

Henrique Monteiro | HenriCartoon

Quando se mata porque alguém matou, importa saber quem começou?

Marcelo: O papagaio falante e de visão unifocal. O zarolho volta ao ninho do salazarismo que o criou

Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião

A conversa de Marcelo Rebelo de Sousa com o representante da Autoridade Palestiniana em Portugal comporta todo o cinismo com que se faz a discussão sobre culpas na guerra que, agora, domina as atenções do mundo. O Presidente não disse apenas a metade do que queria dizer, acrescentando pouco depois o que já sabia que tinha de ser dito. Marcelo disse o que pensava, não desvalorizando o sofrimento dos palestinianos, mas imputando-lhes uma culpa. O "alguns", com que quis corrigir o todos que estava no "vocês" da frase inicial, é um pronome demasiado indefinido para atribuir uma responsabilidade a quem tem nome próprio. Até porque o "vocês" a quem o Presidente se dirigia é a primeira vítima desse tal Hamas.

Há quem veja mais do que cumplicidade nos que nunca condenaram, ou o fizeram de forma pífia, a acção terrorista do Hamas e quem seja ainda mais exigente com os palestinianos, porque o terror foi semeado em nome deles. Lembram-se do vácuo referido por António Guterres? O contexto para que nos convocava deveria servir para condenar todas as atrocidades e não para desculpar as que aparecem como resposta à atrocidade anterior. A morte de inocentes só pode ter como resposta legítima o castigo dos culpados. É preciso nunca esquecer que a barbárie do Hamas, matando indiscriminadamente, olhos nos olhos, com indisfarçável maldade e supremo prazer, justifica a resposta do exército israelita mas não desculpa a matança despreocupada de inocentes com bombas lançadas de avião.

Há, ainda por cima, na conversa do Presidente da República com o representante da Autoridade Palestiniana em Lisboa, um tom de condescendência, quase arrogância, que fragiliza a posição de Marcelo perante a opinião pública do seu país. Não é segredo que os portugueses, como muitos outros povos pelo mundo fora, perante um conflito, têm normalmente uma empatia forte com a parte mais fraca. As imagens que chegam diariamente pela televisão mostram um dos exércitos mais poderosos do mundo a massacrar uma população que não tem para onde fugir. E a solidariedade que lhes é devida não esmorece nem um pouco a solidariedade com os reféns que o Hamas mantém em seu poder, nem com os familiares das vítimas de 7 de Outubro.

Enquanto se radicalizam posições no Médio Oriente, cresce em todo o mundo uma cultura de ódio contra uns e outros. O anti-semitismo e a islamofobia fazem caminho numa Europa que se prepara para eleger o seu Parlamento dentro de sete meses. Em Portugal, mas não só, convém que os políticos com maiores responsabilidades não comecem a dar tiros nos pés, fazendo intervenções não ponderadas, iniciando conversas que não tencionam (ou não sabem como) acabar, usando frases ambíguas, polarizando ainda mais um debate político onde os populistas estão em vantagem. A Marcelo deveria bastar o elogio que recebeu do Chega nesta matéria para saber que errou.

Quando se matam judeus porque eles mataram muçulmanos e se matam muçulmanos porque eles mataram judeus, quando se mata porque alguém matou, importa saber quem começou? Não me parece! A Humanidade leva séculos a ver que atrás da morte vem a morte dos que acham que é matando que se acaba com as mortes.

* Jornalista

Não quero viver esta História -- Raquel Moleiro, aterrorizada, no Curto do Expresso

Raquel Moleiro, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia

Antes do mais venho pedir-lhe uma ajuda: aqui no Expresso queremos perceber onde ainda lhe falhamos e no que podemos melhorar. Se puder, entre por aqui e responda-nos a estas perguntas. Não demora mais de dois minutos. Obrigado.

Por estes dias sinto-me como se o livro de História do Secundário tivesse ganhado vida, ou tivéssemos todos sido sugados para o seu interior, tipo Jumanji, e acordássemos num tempo longínquo em que há uma guerra na Europa e um genocídio a acontecer, em que se pode invadir um país independente por mais terra e poder, em que a resposta a um ataque bárbaro justifica tudo sem olhar a vítimas, regras ou direitos humanos. O mundo assiste dividido em alianças egoístas, sem que os esforços diplomáticos consigam pouco mais que nada, na Ucrânia como em Gaza. Num e noutro território morre-se. Muito. De ambos os lados da barricada.

Amanhã, completa um mês que ocorreu o ataque terrorista do Hamas a Israel, que fez 1400 vítimas e mais de 200 reféns. A retaliação, imediata, terá já causado a morte a 9770 pessoas na Faixa de Gaza, das quais 4800 crianças e 2550 mulheres, divulgou ontem o Ministério da Saúde palestiniano.

Da incursão terrestre das forças israelitas, iniciada a 27 de outubro, só se conhece o balanço militar: já terão chegado a Gaza, a principal cidade do estreito território de 365 quilómetros quadrados, e conduzido ataques a 2500 “alvos terroristas”. Prédios, túneis, campos de refugiados, ambulâncias, hospitais. Não há lugares sagrados. E não vão parar. “As Forças de Defesa de Israel (IDF) vão atacar os líderes do Hamas onde quer que estejam. Somos um país que cumpre o direito internacional mas estamos a lidar com uma organização assassina que cometeu um massacre”, justificou o porta-voz Daniel Hagari, mostrando provas de esconderijos e zonas de lançamento de mísseis em instalações hospitalares.

Quando a noite se pôs, as linhas telefónicas e de Internet foram novamente cortadas em Gaza, pela terceira vez desde o início do conflito. Segundo o jornal Haaretz, o objetivo é cercar a cidade em 24 horas. Quando estiver a ler este Expresso Curto faltarão cerca de 12 horas para o objetivo. Depois começa o combate rua a rua, nos prédios e nas redes de túneis. Os militares garantem ter cortado a cidade em dois e que ataques significativos estão em curso.

Pouco depois do apagão tiveram início intensos bombardeamentos a norte, que de tão fortes se sentiram no extremo sul. Aí, desde sábado, o Egito mantém fechada a fronteira de Rafah a novas saídas de cidadãos estrangeiros e feridos. De acordo com a ONU, há 1,5 milhões de pessoas deslocadas internamente na Faixa de Gaza. Mais de 710 mil pessoas estão abrigadas em 149 instalações geridas pelas Nações Unidas, 122 mil refugiadas em hospitais, igrejas e edifícios públicos e 110 mil pessoas em 89 escolas.

Ontem, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken esteve na Cisjordânia com o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, que garantiu estar preparado para assumir o controlo de Gaza após uma eventual derrota militar do Hamas, a que se seguiu uma visita surpresa a Bagdad. Esta segunda-feira está na Turquia para se encontrar com o seu homólogo Hakan Fidan, ao mesmo tempo que o secretário-geral da NATO se reúne com o rei Abdullah II da Jordânia, um dia depois do monarca receber, em Amã, seis ministros dos Negócios Estrangeiros de países árabes que vão coordenar posições em relação à guerra.

Mas a resolução do conflito não estará próxima. “Não haverá cessar-fogo sem o regresso dos nossos reféns, dizemos isto tanto aos nossos inimigos como aos nossos amigos. Continuaremos até os derrotarmos”, garante o presidente de Israel, Benjamin Netanyahu. “A ansiedade dos israelitas palpa-se e sente-se nas vozes, nas conversas, nos silêncios em frente aos memoriais. O país está em guerra e na guerra há morte e um inimigo que não desarma. E que terá de ser, segundo a ideologia militar deste país, destruído. Até ao fim. Custe o que custar”, relata a Clara Ferreira Alves, diretamente de Telavive.

Durante o fim de semana, nas ruas de Londres, Berlim, Istambul, Berna, Oslo e Jacarta, largos milhares de manifestantes pediram o fim dos ataques na Faixa de Gaza. Em Lisboa, na sexta-feira, o relvado da Alameda foi plantado com bandeirinhas palestinianas, uma por cada vítima do conflito.

Entre tantos apelos à Paz em Gaza, fica aqui o último, do Papa Francisco, proferido ontem após a oração do Angelus diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro: “Peço-vos, em nome de Deus, que parem, cessem o fogo. Espero que todas as possibilidades sejam exploradas para que o alargamento do conflito seja absolutamente evitado, que os feridos possam ser ajudados, que a ajuda possa chegar a Gaza, onde a situação humanitária é muito grave e que os reféns sejam libertados imediatamente”.

Estará alguém a ouvir?

Mais lidas da semana