Artur Queiroz*, Luanda
Um jornalista desesperado, durante o directo televisivo, tirou o colete à prova de bala onde está escrito “press”, atirou ao chão o capacete de ferro e gritou: “Vamos todos morrer aqui, é uma questão de tempo”. Todos sabem isso mas fingem desconhecer.
Um fotojornalista, destruído pela dor, afirmou ante a câmara de filmar: “Mataram os meus filhos e o meu sobrinho. Todos meninos tão bondosos!” Os ministros das Finanças dos países apoiantes do genocídio podem tomar nota: Morreram até hoje 480 crianças na Faixa de Gaza. Nesta contabilidade não entra a Cisjordânia. Os vossos investimentos estão a correr bem.
Os bombardeamentos são cirúrgicos. As bombas só caem onde estão concentrados muitos palestinos: Campos de refugiados. Escolas da ONU que servem de refúgios. Hospitais que são igualmente locais de refúgio, para quem não tem onde se esconder. Destroem mesquitas e outros locais de culto, porque abrigam civis. Cirurgicamente matam jornalistas e funcionários da ONU. Fujam daqui. Não queremos testemunhas! Todas sabem que é assim. Todos sabiam que ia ser assim desde que o governo de Israel tomou posse há um ano.
A grande democracia de Israel tem em vigor leis de apartheid como o regime racista da África do Sul. O governo israelita é de extrema-direita. Os mentores das “democracias liberais” sabem que isso nada tem a ver com a democracia. O HAMAS é um movimento político insurgente. Nasceu para lutar contra a ocupação militar da Palestina. Nem interessa quem apoiou os seus primeiros passos e financiou. O que conta é agora. E hoje é isso mesmo, um movimento insurgente. É tão possível acabar com ele como foi exterminar o MPLA, PAIGC e FRELIMO. Exterminar os Vietcongue. Destruir os Talibãs. Eles sabem que é impossível.
Partidos israelitas como o Noam (homofóbico), Shas, Judaísmo Unido da Torá (coligação dos partidos Agudat Israel e Degel HaTorah)), Sionismo Religioso ou Poder Judaico são exactamente iguais ao HAMAS. Vão exterminá-los? Matar todos os seus dirigentes e militantes? Todos conhecem a “democracia” de Israel. Sabem que é dominada por partidos extremistas e fanáticos religiosos. Como o HAMAS, sem tirar nem pôr.
O que aconteceu em 7 de Outubro passado em Israel fazia parte do cardápio do governo de Benjamim Netanyahu. Para os distraídos, relembro as prioridades anunciadas pelo primeiro-ministro: “Impedir os esforços do Irão para adquirir um arsenal nuclear. Assegurar a superioridade militar de Israel na região. Avançar e desenvolver colonatos em todas as partes de Israel, na Galileia, Negev, Montes Golã e Judeia e Samaria”. Todos sabem mas eu recordo aos distraídos. Os nomes bíblicos da Cisjordânia (Palestina) são Judeia e Samaria.
O governo de Israel tem um ano. A imprensa dos EUA mas também do chamado “mundo ocidental” noticiou que Netanyahu “está à frente do mais radical governo de extrema-direita da História de Israel”. O insuspeito Washington Post denunciou que “o novo governo de Israel está a operar mudanças na legislação que enfraquecem o Supremo Tribunal, o que é uma séria ameaça à separação de poderes”. Eles sabem. Todos sabem mas fingem que nunca ouviram falar nisso,
Partido Sionismo Religioso. Extrema-direita. Igual ao HAMAS. Faz parte do governo de Israel. O líder do partido, Bezalel Smotrich, é o ministro das Finanças. O partido também tem o Ministério de Aliá e Integração (ministro Ofir Sofer). Este senhor é tão radical que quer alterar a “Lei do Regresso”. Só judeus reconhecidos pela Halakah (lei judaica ortodoxa) podem ir viver para Israel. Traduzindo: Apenas quem tem mãe judia pode ser cidadã ou cidadão de Israel. Biden, Blinken, Austin, Úrsula, Sunak, Scholtz, Macron e todos os outros assassinos do ocidente alargado sabem disto. Mas fingem que não sabem.
Numa entrevista à Rádio Kol Berama, o ministro do Património, Amichai Eliyahu, do partido de extrema-direita Otzma Yehudit (Poder Judaico), opôs-se à entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza: Não entra nada. Não sai ninguém! E defendeu a ocupação militar do território “para sempre”. Todos sabem que ele pensa assim. Todos sabem que os membros do governo de Israel pensam assim. Mas fingem surpresa. E garantem que Israel é uma democracia!
O senhor ministro do governo de Israel, Amichai Eliyahu, também fez esta declaração muito democrática: “Os palestinos podem ir para a Irlanda ou para os desertos, os monstros em Gaza devem encontrar uma solução por si próprios. Qualquer pessoa que abane uma bandeira da Palestina ou do Hamas não pode continuar a viver na face da Terra".
Amichai Eliyahu pôs a cereja no topo do bolo: “Se for preciso atiramos uma bomba atómica na Faixa de Gaza”. Netanyahu, grande democrata, apressou-se a esclarecer a ameaça da bomba atómica: "As declarações do ministro Amchai Eliyahu não são baseadas na realidade”.
O líder da oposição israelita, Yair Lapid, exigiu a demissão do ministro Eliyahu, porque "prejudicou as famílias dos que estão sequestrados, a sociedade civil e a imagem internacional de Israel”. Isso mesmo é preciso cuidar da imagem. Matar 480 crianças e 10.000 civis está bem. Ameaçar com bombas atómicas prejudica a imagem. Cuidado!
O líder de extrema-direita israelita e ministro da Segurança Nacional, Itamar Bem Gvir, quando tomou posse, fez soar os alarmes nas “democracias liberais”. E com razão. A imprensa internacional (mesmo a domesticada!) disse, em uníssono, que a atribuição de um papel tão sensível a um extremista pode provocar uma nova escalada nas tensões entre Israel e a Palestina. Aconteceu o 7 de Outubro. Nada acontece do nada.
Ninguém se esqueceu, nem na imprensa dos EUA, que o líder do principal partido da extrema-direita de Israel, Itamar Bem Gvir, tem um longo histórico de terrorista. O Supremo Tribunal de Israel condenou-o por racismo e pertencer a uma organização terrorista. O aseu partido (Poder Judaico) aliou-se ao partido Sionismo Religioso, liderado por Bezalel Smotrich, ministro das Finanças. E assim entraram no governo “democrático” de Israel.
Ben Gvir é discípulo do rabino Meir Kahane. O seu partido (Kach) é considerado uma organização terrorista pelos EUA. Percebe-se porquê. O rabino Meir Kahane, de nacionalidade norte-americana, imigrou para Israel nos anos 70. Eis o que ele defende:
Não-Judeus residentes em Israel só têm autorização de residência temporária, sem cidadania, sem direitos políticos ou qualquer posição de autoridade.
Nenhum não-judeu tem permissão de habitar nos limites municipais de Jerusalém.
Judeus e não-judeus não podem casar-se, em Israel ou no estrangeiro. Tais relações não são reconhecidas pelo Estado de Israel.
Relações sexuais entre judeus e não-judeus são proibidas por lei e punidas com prisão até 50 anos.
Instituições educacionais mistas, actividades colectivas entre grupos mistos são ilegais.
Criação de praias separadas para judeus e não-judeus.
Todos sabem disto mas fingem que não sabem. Matem os palestinos até onde for preciso! É o triunfo do nazismo no ocidente alargado. Biden, Scholtz, Úrsula, Macron, Sunak e todos os outros assassinos de crianças palestinas têm inveja do rabino Meir Kahane.
O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, nega a “identidade nacional palestiniana”. Diz que os verdadeiros palestinos são as pessoas que habitaram Israel há séculos. Este não nega a existência do Estado da Palestina. Nega também a existência dos palestinos! Todos sabem disto. Mas fingem que não sabem. Assim podem mostrar surpresa com o 7 de Outubro!
A polícia israelita, a mando do
ministro terrorista (segundo sentença do Supremo Tribunal de Israel) Ben Gvir,
foi à Rádio Voz da Palestina, instalada
Matem os palestinos até onde for preciso! Rapidamente. Nem que seja com uma bomba atómica. Os extremistas políticos e os fanáticos religiosos estão no governo de Telavive. Um gabinete de nazis. Exterminem o HAMAS rapidamente! Washington, Bruxelas, Londres, Paris e Berlim aguardam ansiosos o final do genocídio na Faixa de Gaza. Sejam rápidos e competentes. Problema. O comandante Yasser Arafat dizia que a luta do povo é invencível. O MPLA provou isso.
* Jornalista
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