terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Angola | A Ofensiva Sobre Cabinda -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Antes de 2017 sabíamos com quantos paus se fazia a nossa canoa. Tínhamos amigos tão amigos que sem eles ainda hoje andávamos a rastejar aos pés dos colonialistas. Tínhamos aliados certos e seguros, sempre ao nosso lado quando era preciso. As gloriosas FAPLA derrotaram o regime racista da África do Sul e ficámos sem inimigos declarados. Um alívio. Ainda tentaram meter-nos em casa a inimizade com os rebeldes armados de Jonas Savimbi. O plano era transformar Angola no Leste da República Democrática do Congo. Mas José Eduardo dos Santos e seus companheiros arrumaram a questão em 22 de Fevereiro de 2002 nas matas do Lucusse.

Hoje os amigos são excrementados. Os aliados abandalhados. Os que deram força aos nossos inimigos mandam no Palácio da Cidade Alta. Os que invadiram Angola e mataram milhares de civis indefesos, entre Kimbata e o Lucala, do Uíge aos Dembos e ao Morro da Cal, às portas de Kifangondo, hoje mandam em Angola. Ordenam ao nosso comandante em chefe! 

João Lourenço não se dignou explicar aos angolanos ou, no mínimo, ao eleitorado que fez dele presidente, até que ponto se comprometeu com o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Vamos sabendo à medida que a realidade destapa o segredo. Cabinda está no negócio.

O Estado terrorista mais perigoso do mundo quer a costa angolana sob a sua pata. Mas sobretudo a base naval, do Soyo e a sua extensão, Cabinda. As “notícias” sobre a FLEC fazem parte do negócio. Enganaram a governadora Mara Kioza. Disseram-lhe que ia governar a província mas vão fazer dela a responsável pela comissão liquidatária.

Um portal do chefe Miala, o Clube K, revelou que “três cidadãos brasileiros morreram terça-feira, 13 de Fevereiro, numa acção da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC-FAC) anunciou o Chefe da Direção das Forças Especiais da Organização, o tenente - general João Cruz Mavinga Lúcifer”

E prossegue: “Segundo as precisões avançadas pela FLEC-FAC, através de um comunicado difundido à imprensa, às 06:00 horas desta terça-feira os comandos das FAC lançaram uma operação contra uma patrulha das forças Armadas Angolanas as (FAA) na região do Maiombe. Sete militares das Forças Armadas Angolanas e três cidadãos brasileiros foram mortos em dois confrontos que decorreram nas aldeias de Kisungo e Tando Maselele, na região de Maiombe, município de Belize”. Notícia oficiosa a cargo do chefe Miala.

Uma organização que diz ter morto sete angolanos e três brasileiros é tratada como se fosse uma instituição credível. Assassinos elevados à categoria de generais. Adalberto da Costa Júnior foi à província e fez afirmações que num país a sério eram Crime de Traição à Pátria. Não aconteceu nada porque o chefe do Galo Negro foi tratar dos negócios do estado terrorista mais perigoso do mundo. Foi fazer aquilo que ficava mal fazer a João Lourenço.

Adalberto da Costa Júnior disse aos jornalistas que tem contactos directos com a FLEC-FAC e foi convidado a encontrar-se com os guerrilheiros “mas o convite não chegou através das vias normais”. Confirmou isto: “A FLEC tem sabido fazer contactos com a UNITA. A FLEC conhece bem as posições da UNITA”. Por isso “é preciso negociar com quem tem alguma representatividade incluindo movimentos de guerrilha”. Deu um exemplo: “Imaginem que o polo extremista representa uma maioria das populações, das comunidades. Recusa-se a sentar com quem tem representatividade efetiva? É uma asneira”.  

O chefe do Galo Negro disse mais: “O Governo angolano tem uma abordagem bastante superficial da questão de Cabinda. Diria mesmo irresponsável, porque há mortes, porque não há uma estabilidade absoluta, porque há uma ocupação militar permanente numa Angola cuja paz militar se alcançou há tanto tempo. É mesmo falta de sensibilidade”.

Depois falou na “repartição de riquezas” nestes termos: “Não podemos pensar que seja possível estar a retirar de Cabinda uma percentagem substancial daquilo que é o sustentáculo do Orçamento Geral do Estado de Angola, o petróleo, não haver retribuição e termos hoje uma comunidade paupérrima”.

Já sabem. Armam uns bandidos e depois negoceia-se com eles a independência, seja de Cabinda, ou qualquer outra província onde o estado terrorista mais perigoso do mundo tenha interesses. O petróleo de Cabinda não é dos angolanos. É dos gringos donos da FLEC. As províncias de Cabinda e do Zaire em breve são território norte-americano governado pelos seus agentes angolanos.

A Economist Intelligence Unit, da revista The Economist, segundo Manuel Camalata, tirou Angola da lista dos países autoritários. O Joe Biden deu ordens à CIA para tratar dessa limpeza. Já está. Agora Angola é apenas uma “democracia imperfeita”. Níger e Gabão ficaram lá para o fim da lista. João Lourenço detesta golpes de estado “no âmbito do meu mandato como Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação em África”.  

Em Adis Abeba lembrou que “a União Africana deve continuar a trabalhar por todos os meios para o mais rápido restabelecimento da normalidade democrática no Mali, no Burquina Faso, no Níger, na Guiné e, mais recentemente, no Gabão. É importante não sermos tolerantes com os Governos constituídos na base de mudanças inconstitucionais”. Esses países estavam dominados pelos colonialistas de sempre. Fizeram o seu 4 de Fevereiro. O seu 15 de Março. O seu 11 de Novembro. O seu 28 de Março de 1988. O seu 22 de Fevereiro de 2002. 

Senhor Presidente João Lourenço, a energia de França e os milionários franceses eram alimentados por esses países, que vivem mergulhados na mais humilhante pobreza. A democracia era um mero truque dos colonialistas. Os votos eram comprados com o dinheiro deles padra eleger os seus traidores. Só havia um caminho: A mudança inconstitucional. Armada. Revoltada. Fazer cair na rua o poder colonial. O Presidente de Angola devia apoiar essas mudanças. Mas na lista das cedências aos genocidas de Washington está o compromisso de Angola defender os seus interesses em África.  

No país que segundo os gringos já não é um regime autoritário, cidadãos que se apresentam como juristas estão contra o Conselho de Direitos Humanos da ONU por ter classificado a prisão de Carlos São Vicente arbitrária e o seu julgamento (em todas as instâncias) estar ferido de gritantes ilegalidades. Gritam eles: A ONU não dá ordens em Angola. O Governo não tem nada que aceitar o parecer da ONU. 

Para estes artistas, isso de prisão arbitrária não interessa nada. Isso de julgamentos ilegais é vaidade. Quem manda é o chefe Miala e o Soba Grande! 

Antigamente, quando alguém abusava impunemente, exclamávamos: Já chegámos ao Congo! Qual o quê! Já passámos o Congo do Mobutu há muito tempo. Ultrapassámos o Uganda de Idi Amin em alta velocidade. Estamos quase nos braços dos assassinos que actuam no Leste da República Democrática do Congo à custa do campeão da paz e reconciliação em África. 

A prisão de Carlos São Vicente é arbitrária. O julgamento foi marcado por ilegalidades gritantes. Libertem o inocente antes que seja demasiado tarde. Que o chefe Miala ignore o parecer do Conselho de Direitos Humanos da ONU, compreendo. Um torcionário é sempre um torcionário mesmo que esteja no poder à custa do glorioso MPLA. Que o campeão da paz em África finja que não há parecer, compreendo perfeitamente. Está ocupado no cumprimento das ordens do genocida Biden, ainda que esteja a trair o mandato popular. 

O parecer do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre a prisão arbitrária de Carlos São Vicente tinha obrigatoriamente que desencadear posições públicas de todos os partidos representados na Assembleia Nacional. A Casa das Leis. O MPLA em primeiro lugar. A UNITA por ser o partido que lidera a Oposição. O Grupo Parlamentar FNA/PRS e o Partido Humanista, Sobretudo este cuja líder sabe bem o que é uma prisão arbitrária porque sofreu isso na Jamba. Todos calados. Todos coniventes. Todos cúmplices. 

O mensageiro chega cansado, esbaforido e e diz à Mamã Angola: Morreram todos os teus filhos! A Mamã xinguilou, rasgou as vestes. E o mensageiro: Calma, calma, Mamã. Não morreram os 34,5 milhões. Só morreram 34,4999999 milhões. Mas o campeão da paz em África resolve isso com facilidade, vai acantonar em Angola os assassinos da FLEC e do M23. Ficamos todos na paz do senhor!  

FLEC e M23 é que estão a dar para os genocidas de Washington e todo o ocidente alargado. A democracia imperfeita, com prisões arbitrárias e julgamentos ilegais (os que conseguiram um julgamento…) é que está a dar. O filme de terror segue dentro de momentos com Trump na Casa Branca. Grande festa na Cidade Alta. O Biden é muito frouxo.

Jornalista

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