segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Portugal - Eleições | PS à frente do PSD, mas direita ganha vantagem à esquerda

Socialistas continuam com margem de cinco pontos sobre os sociais-democratas. Chega sólido no terceiro lugar. BE cai e CDU em último lugar pela primeira vez.

Rafael Barbosa* | Diário de Notícias

O PS de Pedro Nuno Santos (33,1%) mantém uma vantagem de cinco pontos sobre a AD de Luís Montenegro (27,7%) quando faltam três semanas para as legislativas, de acordo com a mais recente sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. Ao contrário, os partidos à direita aumentam para cinco pontos a vantagem sobre os partidos à esquerda, com o Chega sólido no terceiro lugar (16,4%) e a valer quase tanto como os quatro seguintes: um BE em queda (6,3%), Iniciativa Liberal (4,9%), PAN (3,3%) e Livre (2,8%) a crescer. Em último lugar, e pela primeira vez nestes barómetros, fica a CDU de Paulo Raimundo (2,3%).

Para os três primeiros, ficou quase tudo na mesma entre janeiro e fevereiro, apesar de ter sido um período de forte agitação política e social, com os protestos dos polícias e dos agricultores e a queda do Governo Regional da Madeira (o trabalho de campo da sondagem decorreu entre 8 e 13 de fevereiro, ainda antes da decisão de libertar, sem indícios de crime, os três principais suspeitos deste caso, que envolve também o demissionário Miguel Albuquerque).

Geringonça é curta

Se estes resultados se confirmassem nas urnas, teriam o potencial de se transformar numa espécie de vitória de Pirro para o PS, uma vez que seria difícil conseguir uma maioria parlamentar com uma nova geringonça: o bloco de partidos mais à esquerda (PS, BE, Livre e CDU) soma escassos 44 pontos, que comparam com os 49 do bloco mais à direita. Mesmo com uma junção do PAN, essa eventual coligação arco-íris ficaria nos 48 pontos.

É importante acrescentar, no entanto, que para além de uma sondagem ser sempre um retrato do passado (mesmo que seja um passado recente), há vários fatores que acrescentam incerteza ao processo eleitoral e que podem fazer oscilar a balança para um lado ou para o outro: desde logo, o frente-a-frente de hoje entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro (ver páginas 6 e 7), a partir das 20.30, com transmissão pela RTP, TVI e SIC; depois, o período de campanha eleitoral que ainda temos pela frente; finalmente, os indecisos, que nesta sondagem ainda são 7,7%; e os 24% de inquiridos que só decidem o seu voto em definitivo “mais em cima” da eleição.


Favoritismo dividido

Para a AD e para a ambição de Montenegro chegar a primeiro-ministro estes resultados são igualmente comprometedores. Quanto mais não seja porque tem cada vez menos tempo para criar uma dinâmica de vitória: os 28 pontos que tem agora estão muito abaixo do que conseguiu Passos Coelho em 2015 (39% em coligação com o CDS) e, até, três pontos mais abaixo do que os 30 que somaram os dois partidos nas legislativas de 2022. Mas há dois indícios positivos para quem tem a ambição de liderar a direita.

O primeiro prende-se com uma das perguntas que tem sido feita nas últimas sondagens: quem tem mais hipóteses de se tornar o próximo primeiro-ministro? Em dezembro do ano passado e em janeiro deste ano, a maioria dos portugueses não tinha dúvidas: 51% apontavam para Pedro Nuno Santos e apenas 29% para Luís Montenegro. Este mês, há uma alteração significativa na dinâmica de vitória: o socialista só já tem 43% (baixa oito pontos), enquanto o social-democrata chega aos 40% (sobe onze pontos).

O segundo indício é o da supremacia da direita sobre a esquerda.

Fronteiras ideológicas

Foi há já vários meses que o cenário se inverteu e a direita passou a valer mais do que a esquerda nas sondagens. E, de janeiro para fevereiro, a vantagem até cresceu de três para cinco pontos. Mas a análise aos diferentes segmentos da amostra, deixa a nu várias assimetrias. Desde logo ao nível regional: a vantagem da direita é esmagadora a Norte (63 contra 34 pontos), mas vai-se diluindo à medida que “caminhamos” para Sul, com vantagem a virar para a esquerda ainda em Lisboa e a alargar-se ainda mais nos territórios meridionais (50 contra 42 pontos).

Uma fronteira política que também é bastante vincada quando a análise se centra na pirâmide etária: entre os portugueses que têm 18 a 34 anos, o bloco liderado por Luís Montenegro vale quase o dobro do que tem Pedro Nuno Santos como principal referência (63 contra 34 pontos).

A direita desacelera à medida que a idade avança, perdendo a liderança a partir dos 50 anos. Nos que têm 65 ou mais anos, a esquerda regista uma vantagem de 11 pontos (54 contra 43 pontos). Resumindo, os portugueses nascidos antes do 25 de Abril são maioritariamente de esquerda, quem já nasceu em democracia está mais à direita.

BE e Chega são os parceiros preferidos para coligações

Para os portugueses, é ponto assente que, das eleições de 10 de março, não sairá uma maioria absoluta (72%). Segundo a sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, se for o PS a vencer, a maioria (53%) defende que faça acordos ou coligações com outros partidos, com o BE à cabeça. Se for a AD, são um pouco menos os que defendem um entendimento pós-eleitoral (49%), sendo que o parceiro preferencial é o Chega. É esta, aliás, a principal novidade do inquérito: já não são, nem o CDS (que integrou a AD), nem a Iniciativa Liberal os favoritos para juntar forças a um Governo minoritário mais à direita.

Luís Montenegro já disse, cara a cara com André Ventura que “não é não”, mas há uma fatia considerável de eleitores que entende que faz sentido um acordo com os populistas de Direita: 30% dizem, aliás, que a participação do Chega num Governo é positiva, com destaque para os que residem na Região Norte (42%), para os homens (37%, mais 12 pontos do que entre as mulheres) e para os mais jovens (43%). Para o resultado geral contribuem, em particular, os eleitores do Chega (95%), os liberais (39%) e até os que tencionam votar na coligação de centro-direita (35%). Quando o que está em questão é uma vitória de Pedro Nuno Santos, e para os que defendem uma coligação, o principal parceiro seria o BE. Mas também há quem defenda um Bloco Central com o PSD, em particular os que residem na Área Metropolitana do Porto, os mais jovens e os eleitores sociais-democratas.

Outros dados

Desequilíbrio de género: O Chega volta a ser o partido com maior pendor masculino, embora a diferença entre eles e elas tenha sido um pouco atenuada este mês. Ao contrário, no PAN acentuou-se o pendor feminino: elas são três vezes mais do que eles.

Chega a crescer: Quando se comparam os resultados da sondagem com as últimas legislativas, o partido com maior crescimento é o Chega: são mais nove pontos percentuais. André Ventura é quem melhor segura o eleitorado de 2022 (90% promete repetir a 10 de março).

Norte social-democrata: A exemplo da sondagem de janeiro, a Região Norte é a única em que a AD está à frente do PS, mas agora com apenas quatro pontos de vantagem (11  no mês passado). A maior vantagem dos socialistas é agora entre os que residem no Sul do país.

9,4% - A Iniciativa Liberal mostra maior capacidade na Região Norte (9,4%) e na Área Metropolitana do Porto (8,9%) do que no resto do país. Desta vez, os resultados são particularmente fracos na Região de Lisboa (2,5%).

29,8% - A AD ultrapassou o Chega e está em primeiro entre os que têm 18 a 34 anos (29,8%). Mas o partido de André Ventura mantém-se à frente (22,9%) do PS (18,2%) neste grupo etário.

87% - O eleitorado do PS é aquele em que o sentido de voto parece mais consolidado: 87% dos socialistas dizem que a sua escolha é feita “muito antes da eleição”. Ao contrário, um quarto dos eleitores da AD só decide em definitivo “mais em cima da eleição”.

43,5% - Quanto mais velho o eleitor, maior a percentagem de votantes do PS. Nos que têm 65 ou mais anos, Pedro Nuno Santos recolhe 43,5% das intenções de voto. Mas a AD de Luís Montenegro cresceu neste segmento, reduzindo as distâncias.

FICHA TÉCNICA

Sondagem de opinião realizada pela Aximage para DN/JN/TSF. Universo: Indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região. A amostra teve 805 entrevistas efetivas: 674 entrevistas online e 131 entrevistas telefónicas; 393 homens e 412 mulheres; 174 entre os 18 e os 34 anos, 211 entre os 35 e os 49 anos, 201 entre os 50 e os 64 anos e 219 para os 65 e mais anos; Norte 270, Centro 182, Sul e Ilhas 115, A. M. Lisboa 238. Técnica: aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para pessoas com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros. O trabalho de campo decorreu entre 8 e 13 de fevereiro de 2024. Taxa de resposta: 76,61%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,5%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.

* rafael@jn.pt

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