quinta-feira, 11 de abril de 2024

Angola | Britânicos Apanham o Comboio -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O ministro britânico Richard Benyon foi ao Palácio da Cidade Alta dizer ao Presidente João Lourenço que o Reuni Unido “está interessado em trabalhar de forma directa no Corredor do Lobito” para saquear as riquezas da Zâmbia e da República Democrática o Congo. O porto do Lobito vem mesmo a calhar. Grande negócio! Angola investiu milhares de milhões no Caminho-de-Ferro e Benguela, desde o canal ferroviário até às estações e material circulante. A República Popular da China foi parceira deste projecto milionário.

Os comboios começaram a apitar entre Lobito e o Luau. Uma vitória estrondosa do Executivo Angolano e do seu parceiro asiático. As infra-estruturas reconstruídas mais as que foram construídas de raiz, puseram de pé a “mina de dinheiro” que esteve durante cem anos nas mãos de estrangeiros. Tinha chegado a vez de os angolanos usufruírem daquela riqueza, de valor inestimável. O qual não. As mafias do costume, os colonialistas de sempre, agora com falinhas mansas e disfarçados de parceiros, vão abocanhar tudo e deixam uns trocos na mão estendida de João Lourenço.

A criação do CFB no tempo de Robert Williams deu makas mundiais em Lisboa. O governo estava a oferecer tudo e mais alguma coisa ao abutre que já se empanturrava com as riquezas da Zâmbia (Rodésia do Norte) e do Congo Belga. Um sindicato de bandidos para rapinar o mais possível. De Londres chegaram ordens aos lacaios de Lisboa para darem ao mentor do projecto, tudo o que ele quisesse. A monarquia portuguesa, de joelhos ante os seus senhores, obedeceu. 

O Directório Republicano rasgou vestes em público contra a submissão do governo da coroa. O poeta Guerra Junqueiro, irado, escreveu textos onde referia a Inglaterra como “uma impúdica bacante”. Não adiantou nada. Em 1903 o governador Cabral Moncada inaugurava a ponte ferroviária sobre o rio Cavaco (Benguela) e logo a seguir foi ao Lobito lançar a primeira pedrada na construção do porto do Lobito, que iniciou as operações comerciais em 1928. E o Robert Williams a facturar à custa dos portugueses e dos angolanos. 

Em 28 de Novembro de 2001, o contrato de concessão assinado com Portugal chegou ao fim. O Estado Angolano tomou posse do Caminho-de-Ferro de Benguela, com todo o seu património. Mas entre 11 de Novembro de 1975 e essa data os sicários da UNITA tinham partido tudo. Até pequenos pontões foram pelos ares. Os comboios não circulavam. O canal ferroviário estava totalmente destruído. As estações ferroviárias tiveram a mesma sorte. Não ficou pedra sobre pedra. As obras no âmbito da Reconstrução Nacional estavam programadas mas o criminoso de guerra Jonas Savimbi iniciou uma rebelião armada em finais de 1992 e nada foi feito.

Após o 4 de Abril de 2002, o Presidente José Eduardo dos Santos deu instruções para que a Reconstrução Nacional começasse pelas estradas, portos, aeroportos e vias férreas. Os sicários da UNITA tinham destruído tudo! Num esforço nunca antes visto no mundo começaram, ao mesmo tempo, as obras de reabilitação das vias férreas entre Luanda e Malange, Lobito e Luau, Namibe e Menongue. Milhares de quilómetros de canais ferroviários. Milhares de milhões investidos em material circulante. Um feito extraordinário!

O Caminho-de-Ferro de Luanda tem 541 quilómetros dos quais 434 da capital a Malange. Os restantes são ramais. O CFB, do Lobito, na província de Benguela, até ao Luau, na província do Moxico, tem um canal ferroviário com 1.866 quilómetros de extensão. É a joia da coroa. O Presidente João Lourenço engendrou um esquema piramidal e entregou o ouro aos bandidos. Dou de barato que o fez por ignorância. O Caminho-de-Ferro de Moçâmedes começa no porto do Namibe, avança para a Huila e acaba em Menongue, capital do Cuando Cubango. São 756 quilómetros desde o deserto à grande montanha da Chela e correndo pelas chanas do Sudeste de Angola. São 3.153 quilómetros

Quem diz que os governos do MPLA, desde 22 de Fevereiro de 2002 (Dia da Restauração da Liberdade) até agora nada fizeram, bom sujeito não é. Tem lixo na cabeça ou pensa com o pé. Foram construídas novas cidades. Os últimos números apontam para 85 mil habitações, só nas 24 centralidades. Não estou a incluir os bairros sociais e os “zangos”. Façam as contas. Mais dois milhões de pessoas receberam casas novas. Digam em que país do mundo aconteceu isto. 

Após 22 de Fevereiro de 2002 foi reconstruída a rede viária nacional. Milhares de quilómetros! Arrancaram programas para concretizar as políticas sociais dos sucessivos governos. Milhões em investimentos públicos. A secular cidade de Luanda viu nascerem modernos edifícios. Luanda Sul é a marca da nova urbe. Milhões de investimentos. Surgiram empresas e grupos empresariais de nível mundial. As angolanas e os angolanos em pouco tempo até se esqueceram que enfrentaram as agruras dos 13 anos que durou a Guerra pela Soberania e Integridade Territorial. Mais os dez anos da rebelião armada de Jonas Savimbi e seus sicários. 

A partir de 2017 tudo começou a ser desmantelado com a desculpa esfarrapada do “combate à corrupção”. Quem construiu a nova Angola foi perseguido. Alguns foram presos. Grandes empresas que criavam riqueza e postos de trabalho foram destroçadas. Grandes empresários perseguidos e arbitrariamente presos (Carlos São Vicente). O MPLA foi virado do avesso e vou deixar um aviso. Se a sua base social de apoio continua a ser violentada, se a sociedade castrense continua a ser abandalhada, se não forem adoptadas políticas que compensem o desgaste da governação, em 2027 não há pedra sobre pedra.

Se este é o objectivo, felicito os destruidores do MPLA. Se a política externa é mais confusa do que os mais confusionistas militantes, um dia destes não temos amigos. A prova do algodão vem no dia 25 de Abril de 1974. O Presidente Lula da Silva foi chamado de ladrão na Assembleia da República Portuguesa, pelos nazis do partido Chega. Os 50 anos da Revolução dos Cravos são comemorados na Casa da Democracia, com 50 nazis que foram eleitos deputados. Mais os engravatados mas que são igualmente extremistas de direita ainda que sejam governo.

 Os colonialistas ressabiados estão em força no parlamento português. O Presidente Lula da Silva acaba de anunciar que já não vai a Lisboa. Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor Leste têm de ser solidários. Ninguém deve ir a Lisboa conviver com os esclavagistas e fascistas de ontem ou os seus filhotes ressabiados. Vamos ver o que vale a CPLP.

* Jornalista

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