quarta-feira, 12 de junho de 2024

Aparências e Realidades – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A ministra Teresa Dias deve ser competentíssima e uma peça vital no Executivo de João Lourenço. Tem a pasta da Administração Pública Trabalho e Segurança Social desde 2020 e continua no cargo de pedra e cal. As centrais sindicais acusam-na de arrogância e ouvidos fechados ao diálogo, comportamento impróprio de quem faz parte de um governo apoiado pelo MPLA. Levou com greves gerais. A contestação foi adiada porque aumentos salariais irrisórios são melhores do que nada. Entre a ministra e os sindicatos há tudo menos paz social.

Teresa Dias está em Genebra, Suíça, a participar na Conferência Internacional do Trabalho. Ao discursar destacou a importância da justiça social, “para assegurar a paz e a segurança universal”. Explicou que graças ao Presidente João Lourenço, em Angola existe harmonia social. Os trabalhadores são tratados como se fossem beneficiários do Grupo Carrinho. O qual não. O ridículo nunca matou ninguém. Mas não fica bem uma ministra do Executivo Angolano expor-se de uma forma tão descarada.

Abel Chivukuvuku acusa “o regime” de impedi-lo de participar na vida política angolana. Em 1992 encharcou-se com kapuka e ameaçou reduzir Angola a pó, se a ONU proclamasse os resultados eleitorais. Imitando o tom de Savimbi disse no Huambo ante os Media nacionais e internacionais: “Se os resultados eleitorais saírem vamos balcanizar Angola!” Depois da ameaça regressou a Luanda e com Salupeto Pena, Ben  Ben, Alicerces Mango, Jeremias Chitunda e outros dirigentes do Galo Negro. Decidiram tomar o poder pelas armas. Estava outra vez toldado pela kapuka. Foi salvo do linchamento popular quando o golpe deu para o torto. Mas ficou gravemente ferido. Os médicos do Hospital Militar salvaram-lhe a vida. 

Chivukuvuu participa na vida política de Angola desde que teve alta do Hospital Militar. Primeiro como deputado da UNITA. Depois fundou a coligação CASA-CE. Foi corrido pelos seus pares porque o dinheiro ficava colado às suas manápulas, às dos seus familiares e amigos. Escorraçado tentou fundar um partido. Não conseguiu. A Lei dos Partidos é para cumprir. Regressou à UNITA e integrou a sua lista de deputados. Foi eleito. É deputado. Só alguém com um exagerado carregamento de kapuka pode afirmar que “o regime impede-me de participar na vida política”. Tom Waits, um músico que muito aprecio, criou um tema que se chama “o meu piano anda a beber demasiado”. O Chuvukuvuku está a caminho da valeta!

A TPA apresentou um general português (Agostinho Costa) a comentar a guerra na Ucrânia. Confesso que gostei da sua análise. Um colega dele faz comentários para a CNN Portugal e diz coisas que deviam dar pelo menos tantos anos de prisão, como aqueles que a partir de agora vão levar os sicários da UNITA, quando vandalizarem equipamentos sociais. Tanto quanto sei, o homem precisa do dinheiro que lhe pagam, porque a senhora sua esposa anda a aviar trolhas na mata de Monsanto e ele quer resgatá-la. O amor é louco.

O meu ponto é este. Puxei pela memória e encontrei dez Generais Angolanos experimentados nas guerras contra o colonialismo e os invasores estrangeiros. Todos eles frequentaram as academias militares soviéticas. Conhecem bem a doutrina militar russa e o teatro de operações, até porque alguns fizeram a sua formação superior na Ucrânia, quando era uma república soviética. No início da operação militar especial, um desses Generais aceitou ser o meu conselheiro para os assuntos da guerra. 

Alguns meses depois das operações ele disse-me isto: “O que está a acontecer na Ucrânia é grave. O ocidente manda armamento de várias origens e isso cria graves problemas de logística. Assim já perderam a guerra”. Outro dia perguntei-lhe por que razão a Federação Russa não usava o seu arsenal para partir tudo, desde aeroportos a pontes, viadutos, portos, vias férreas. E ele, calmamente, respondeu: “Fica mal à Federação Russa escalar a guerra. Nenhum General russo vai cair nisso. Se houver escalada vai ser do ocidente”. 

A TPA podia dar voz ao meu conselheiro para os assuntos militares. Aos Generais que derrotaram os colonialistas e os invasores estrangeiros. Aos vitoriosos da Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Um General que frequentou as academias soviéticas derrotou os karkamanos no Triângulo do Tumpo. Um General que mandou fama (até foi distinguido com um prémio) nas academias soviéticas rebentou com os karkakamanos na Cahama. Um general que deu cartas nas academias soviéticas foi um dos principais artífices do Protocolo de Lusaka.  Alguns até são ou foram diplomatas.

Estes especialistas angolanos são silenciados ou são eles que decidiram ficar em silêncio? Em qualquer dos casos está mal. Todos tínhamos a ganhar com as suas intervenções.

A coligação AD, governo em Portugal, teve uma derrota estrondosa nas eleições para o Parlamento Europeu. Vou repetir: Estrondosa! Para enganar o eleitorado jovem, escolheram para cabeça de lista um rapazinho que aparece na televisão e antes andava nas bordas do CDS (extrema-direita engravatada) por razões passionais como o Paulo Portas. O partido desapareceu nas eleições que deram maioria absoluta a António Costa e ao Partido Socialista. O rapazola, um tal Bugalho, emigrou para o comentário político, um serviço de recados bem pago. Mal o governo de Montenegro tomou posse, começou a fazer campanha eleitoral para ganhar as eleições europeias. O Bugalho perdeu estrondosamente.

Na noite das eleições o moço estava radiante com a derrota. Nem nos seus sonhos mais dourados imaginou abocanhar um tacho tão bom. O chefe da AD, Montenegro, diz que o seu governo, sem votos, sem maioria e sem tino, vai durar até à eternidade. Salazar, comparado com ele, era um menino de coro com asas e tudo.

França, Alemanha e Bélgica andam aos papéis e queixam-se da extrema-direita feia, porca e má. Já ninguém respeita os engravatados! O mundo está mesmo muito perigoso. Macron anunciou com ar sério que combinou com Biden sacar os fundos russos depositados nos bancos europeus e norte-americanos para “ajudar a Ucrânia”. Eles dão voltas e mais voltas, kapangas, bassulas, guerras e latrocínios mas no fim vão dar ao mesmo: Roubo!

As grandes potências ocidentais fizeram um plano de latrocínio para África na Conferência de Berlim. Ainda funciona em alguns países. Guiné Conacri, Mali, Burkina Faso, Níger e República Centro Africana decidiram escorraçar os ladrões. A França ficou sem os anéis. O partido da senhora Le Pen levou os dedos. E agora Macron quer roubar o dinheiro dos russos.

O que passa pela cabeça de um finório atoleimado para acreditar que as autoridades russas vão aceitar o roubo? O desespero vai atirar a ladroagem para o abismo. Já faltou mais!

* Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana