Artur Queiroz*, Luanda
A minha lista de leprosos morais nunca mais acaba, já vai em mil páginas. Tenho medo de abrir os olhos, ver notícias nos canais televisão, ler jornais, falar com os meus vizinhos. Por tudo e por nada, lá vem mais uma leprosa ou um leproso moral. Basta! Laura Macedo diz que desenha projectos culturais e ambientais. A CIA inventa cada uma! No dia da Independência Nacional ela tinha 13 anos. Viveu a data sem emoção. Ainda bem. Eu estava borrado de medo, pistola com a bala na câmara e uma granada à mão. Para comemorar mais um aniversário da nossa Dipanda escrevinhou contra o MPLA e particularmente contra Roberto de Almeida.
Esta não tem estaleca para leprosa moral. Está muito mais abaixo desse nível rastejante. Mas para melhorar o seu desempenho sempre lhe digo que Roberto de Almeida começou a ser reprimido pelos colonialistas portugueses ainda era estudante. Adolescente! Foi enviado preso para Lisboa. Durante anos frequentou as cadeias do fascismo. Fez exame de sétimo ano (fim do curso complementar) no ginásio do Liceu Salvador Correia escoltado por dois agentes da PIDE. Foi impiedosamente perseguido.
Para os seus poemas serem publicados combinou um estratagema com Carlos Ervedosa (Carlitos) que consistiu em mudar de nome. Assim nasceu o poeta Jofre Rocha, uma das mais importantes vozes poéticas de Língua Portuguesa. Assim escreveram Carlos Ervedosa e o crítico literário Filipe Neiva. Faltar ao respeito a este Homem é o mesmo que excrementar todos os patriotas angolanos. Eu sinto-me cuspido na cara pela Laura Macedo. Toma nota, megera! Vais pagar a afronta. Nunca levei desaforos para casa.
A Luta Armada de Libertação Nacional no Norte de Angola perdeu eficácia devido às contradições insanáveis entre políticos e militares no seio da FNLA. Mas também foi altamente prejudicada por razões tribais. O tribalismo é uma doença tão grave como o racismo.
Na Frente Leste o problema foi mais grave. A estratégia do MPLA era criar vastas zonas libertadas no Moxico, Lunda e Cuando Cubango. A partir daí era aberta uma frente para o mar seguindo a trajectória do Caminho-de-Ferro de Benguela. As forças guerrilheiras já estavam nas matas do Bié. Foi aberta a Rota Agostinho Neto para ligar o Leste à Frente Norte, a partir do Planalto de Malanje e à boleia do Caminho-de-Ferro de Luanda. O General Ndalu tinha a missão de comandar as forças que partiram em direcção ao Norte.
O projecto falhou porque foi lançada a UNITA no terreno, para servir de tampão à guerrilha do MPLA. Nasceu como movimento de libertação de “inspiração maoista”. Teve sucesso nos primeiros meses e depois o balão esvaziou-se. É sempre assim com o populismo e a demagogia. Jonas Savimbi entregou as armas aos colonialistas portugueses. Aceitou enviar os seus melhores comandantes (Majores Pedro e Sachilombo) e os guerrilheiros mais bem preparados para os Flechas da PIDE.
A OUA (hoje União Africana) e o
Comité de Descolonização da ONU recusaram reconhecer o Galo Negro como
movimento de libertação. Savimbi entrou para os lugares cimeiros na minha lista
de leprosos morais. Está entre os primeiros. Eu li em primeira mão as cartas
que ele escreveu aos generais Bettencourt Rodrigues (comandante da Zona Militar
Leste) e Luz Cunha, comandante em chefe das forças armadas portuguesas
As missivas da traição foram desviadas por actrvistas do MPLA do quartel-general da Região Militar de Angola e depois publicadas no jornal Afrique-Asie, graças aos bons ofícios dos jornalistas Augusta Conchiglia e Stefano di Stefani (cineasta).
A UNITA já fez duas conferências sobre a vida e obra de Jonas Savimbi, aquele que atrelou o movimento às tropas colonialistas na luta contra a Independência Nacional. Na segunda conferência, Carlos Kandanda, que recebe e tem mordomias de general, falou sobre a sua intervenção nos combates da traição. Desavergonhado, Mais um para a minha lista dos leprosos morais.
Mais ridículo foi Abílio Kamalata Numa que falou do tempo da traição de Savimbi com os independentistas brancos e os racistas da Áfricas do Sul. Mas sem falar nisso! Paulo Lukamba Gato apresentou Jonas Savimbi como diplomata, político, conciliador e promotor de consensos! Leproso moral mais leproso é impossível. Esteves Kamy Pena foi mais longe mas como é parente do criminoso de guerra, está desculpado. Falou de Jonas Savimbi como “humanista, homem social e chefe de família”. Escondeu que o homenageado mandou enterrar viva Dona Isabel Paulino, a primeira-dama. E matou quase todas as mães dos seus filhos. Coisa leve. Este nem tem categoria para leproso moral. A Clarice Kaputo falou de Savimbi homem de letras! É preciso ter lata.
Carlos Kandanda confessou no portal da UNITA (Club K) que ficou sem interesse de escrever sobre o 49º aniversário da independência porque “a senhora ministra de Estado para a Área Social, Doutora Maria do Rosário Teixeira de Alva Sequeira Bragança, em Malanje, representando o Presidente João Lourenço, fez um discurso abusivo e arrogante, tratando a FNLA e a UNITA de ‘forças negativas e retrógradas’, com um tom crítico e violento, dirigindo-se ao Povo faminto de Malanje, incitando o ódio e a violência”.
O Kandanda diz que dedicou a juventude lutando contra o colonialismo português, na Frente Leste: “Derramei o meu sangue e perdi o meu pé na mina antipessoal do Exército Colonial Português, na nascente do rio Cassai”. Kandanda, essa mina era para os guerrilheiros do MPLA! Mas o Savimbi, para mostrar que lutava contra o colonialismo, mandou os seus homens para aquele lugar. Combinou com a inteligência militar e os generais colonialistas, operações contra a própria tropa portuguesa! Kandanda é um leproso moral distraído. O Estado Angolano paga-lhe a traição continuada.
No seu delírio (drogas duras ou kapuka?) diz que “é absurdo tentar ocultar os Acordos de Alvor”. Mais uma fora do cesto. Grave foi a UNITA e a FNLA terem abandonado o Governo de Transição, para os donos de Holden e Savimbi afastarem o MPLA do processo de descolonização. Para abrirem as portas aos invasores estrangeiros que iam colocar os traidores no poder em Luanda.
A traição ao Acordo de Alvor começou em Janeiro de 1975, quando o Almirante Rosa Coutinho e a sua equipa regressaram a Portugal. A FNLA, com a conivência da UNITA, invadiu a Emissora Oficial de Angola com homens armados. Os invasores partiram estúdios e raptaram António Cardoso, um dos chefes de Redacção.
O Kandada alucinado duvida?
O general Ferreira de Macedo, alto-comissário interino, nesse Janeiro de 1974, distribuiu o seguinte comunicado aos órgãos de comunicação social e que foi lido de hora em hora aos microfones da Rádio:
“Face aos acontecimentos, nos últimos dias, na Emissora Oficial de Angola o alto-comissário em exercício esclarece o seguinte:
1º - Só por intenção de salvaguardar a integridade física do nacionalista angolano António Cardoso, que é também um dos expoentes máximos da cultura angolana, as Forças Armadas dirigiram toda a sua actividade no sentido dos bons ofícios com vista a recuperar incólume o raptado. Não se deixa de sublinhar que os desmandos e as violências contrariam o mais elementar sentido de democracia, porquanto:
Atentam iniludivelmente contra os direitos fundamentais da pessoa humana;
Iindicam a apetência para o exercício da justiça privada;
Embora praticados por elementos de um movimento de libertação, não deixam de ser tipificados como crimes de delito comum, depredação, rapto e sequestro.
2º Não desejam as Forças Armadas Portuguesas, em vésperas da constituição de novo governo, que qualquer foco de perturbação seja alargado para um clima de tensão emocional a degenerar em confrontações, que só poderiam interessar a quem, de momento, pretende travar o Acordo de Alvor.
No entanto, e para que, da forma como as Forças Armadas procuraram sanar o incidente, não se julgue qualquer manifestação de fragilidade.
As Forças Armadas repudiam veementemente os actos arbitrários de que foram vítimas os trabalhadores da Emissora Oficial de Angola e em particular, o escritor António Cardoso, e garantem a sua firme determinação de contribuir para que actos desta natureza se não venham a generalizar”.
O Kandanda não sabe mas logo a seguir à tomada de posse do Governo de Transição, actos como aquele da invasão, destruição e rapto de António Cardoso, repetiram-se em toda a cidade de Luanda. Até à guerra generalizada.
Outra leprosa moral, Fátima Roque, escreveu um livro onde conta como foi o “início oficial dos massacres em Luanda”, depois das eleições de 1992. Desta nem falo. Mandei-a para a minha lista de leprosos morais totalmente apodrecidos. Fala em milhares de mortos da UNITA em Luanda bem sabendo que isso é mentira. Mais de 90 por cento das vítimas eram moradores de Luanda que nada tinham a ver com a UNITA. Oficiais das FAPLA desmobilizados protegeram os dirigentes da UNITA e seus familiares no Hotel Trópico e outras unidades hoteleiras. Foram colocados em segurança na antiga messe de oficiais das tropas portuguesas, junto ao Ministério da Defesa.
A própria Fátima Roque foi colocada em segurança na sede da Cooperação Portuguesa. Eu colaborei na sua protrecção. A traição é o modo de vida dos sicários e das vigaristas da UNITA. Não há nada a fazer. Não é com leprosos morais totalmente apodrecidos, com a honra e a dignidade caindo aos pedaços, que alguma vez vai haver alternância em Angola.
O pastor evangélico Venâncio
Mondlane falhou o golpe de estado
Se ambos tiverem juízo ficam bem na vida. Mas se continuarem a promover o terrorismo urbano ficam sem nada. O comandante-geral da polícia de Moçambique, General Bernardino Rafael, hoje explicou aos moçambicanos que os manifestantes do pastor evangélico e do Forquilha actuam exatamente como os terroristas de Cabo Delgado. O oficial foi claro: “Não toleramos mais o terrorismo urbano”. Estão avisados. Quem libertou Moçambique do colonialismo não vai permitir que a Internacional Fascista se aproprie do gás e do petróleo à boleia do PODEMOS e do pastor evangélico com poses de Savimbi.
* Jornalista
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