segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Liberdade Saiu à Rua -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Dia 8 de Novembro, 1974. A Liberdade saiu à rua! Na sala “VIP” do Aeroporto Internacional de Luanda (então Craveiro Lopes) membros da Junta Governativa de Angola deram as boas vindas à primeira delegação oficial do MPLA que se instalou na capital, depois da assinatura do cessar-fogo na chana do Luinhameje.  Da delegação do governo do Almirante Rosa Coutinho faziam parte António Augusto de Almeida, Fernando Falcão (angolanos) e o almirante Leonel Cardoso. Manuel Pedro Pacavira, Aristides Van-Dúnem e Hermínio Escórcio, dirigentes do movimento no interior, também estavam presentes. Lá fora uma multidão de luandenses, mais de 100.000,recebeu os que lutaram vitoriosamente contra o colonialismo.  

Os dirigentes acabados de chegar a Luanda foram depois apresentados no Estádio da Cidadela. Bancadas cheias. Até o relvado estava esgotado de apoiantes do MPLA. A equipa de reportagem da Emissora Oficial (RNA) era constituída por Artur Neves, Artur Arriscado, Manuel Berenguel e Artur Queiroz. 

O Comandante Onambwe falou às massas. Agradeceu o apoio das instituições que em condições dificílimas enfrentaram os independentistas brancos. Citou o Movimento Democrático de Angola (MDA) e a Frente Revolucionária Socialista e Democrática (FRESDA) cujos dirigentes eram Mesquita Brehm, Lizete Furtado Antas e Coutinho Tukutuku que mais tarde se distinguiu no transporte aéreo de armas, desde Ca inda para Luanda, em pequenas aeronaves.

Caso único e nunca visto: Onambwe agradeceu à Imprensa! Alguém se lembrou que os profissionais da comunicação social tiveram que se colocar na primeira linha dos acontecimentos sangrentos, que eclodiram logo a seguir ao 25 de Abril de 1974. 

No dia 4 de Fevereiro de 1975, nas instalações do MPLA da Vila Alice, Agostinho Neto também agradeceu aos jornalistas e condenou o ministro da Informação, Manuel Rui Monteiro, por caçar a carteira profissional a quem denunciou a prisão do General Nataniel Mbumba, por agentes de Mobutu, no Palácio da Cidade Alta, durante a cerimónia da tomada de posse do Governo de Transição. O prisioneiro era convidado do Governo Português!

Por dar a notícia na Emissora Oficial de Angola (RNA) e no jornal português Diário de Notícias fui proibido de exercer a profissão! Mas salvei a vida ao prisioneiro. O Coronel Heitor Almendra e as suas tropas resgataram o líder dos catangueses refugiados em Angola, das instalações da FNLA na Avenida Brasil. Já estava preparada uma viatura que ia levá-lo para Kinshasa!

Hoje o MPLA assinalou o 8 de Novembro nas instalações do Comité Dona Amália, no Rangel. Da delegação do movimento que chegou a Luanda há 50 anos ainda estão vivos Manuel Francisco Tuta (Batalha de Angola), Mbeto Traça, Bento Ribeiro (Kabulo), Artur Pestana (Pepetela) Manuel Hélder Vieira Dias (Kopelipa), Elsa Cachimbinha e o então pioneiro Beto Nelumba. Na cerimónia só estava o agora kota Beto Ndlumba que há 50 anos eras pioneiro. Mais ninguém. O meio século desta data histórica merecia a presença desses militantes e dirigentes. Desconheço se foram convidados e faltaram. 

O Presidente da República delegou no ministro do Interior, Manuel Homem, a presença na cerimónia em nome do Executivo. Este delegou no seu adjunto, Ermelindo Pereira, cheio de medo dos fardados presentes: Maria Eugénia Neto, Amadeu Amorim, Diogo Ventura e os Generais Dino Matross, Kianda e Ingo. Que susto! O homem estava assustadíssimo. Discursou a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião. 

Assim falou a vice líder do partido: “Um breve olhar para a composição da primeira Delegação do MPLA, que desembarcou a 8 de Novembro de 1974 em Luanda, permite às estruturas do Partido retirar algumas ilações. Foi a matriz morfológica do MPLA enquanto organização política. Um Partido de causas, um Partido inclusivo e representativo das diferentes franjas e culturas do nosso povo, alicerçando bem firme as suas bases no seio deste Povo”. 

Também destaco esta passagem: “Os desafios inerentes à mobilização e ao reforço da inserção do MPLA na sociedade são hoje colocados sob novas perspectivas. Mas fica claro que o Partido tem na sua memória exemplos que podem inspirar e dar luzes sobre o que fazer e como fazer ,para lograr os êxitos pretendidos no actual contexto”. Por favor, leiam esta parte do discurso de Luísa Damião ao Exterminador Implacável.

Na delegação do MPLA vinham comandantes da guerrilha, escritores (António Jacinto e Pepetela, que tinha publicado dois anos antes o seu primeiro livro As Aventura de Ngunga), jornalistas (Mbeto Traça e Armando Guinapo), políticos, economistas, professores, sindicalistas, combatentes da Liberdade. Mulheres em luta pela igualdade e a emancipação. E uma criança. Um pioneiro.

Lúcio Lara após a instalação da delegação na Vila Alive presidiu a um comício no Bairro Popular. A CIA contratou bandoleiros para matá-lo. Por pouco não houve uma tragédia porque dispararam para o palco onde estavam os dirigentes do MPLA. Esta parte conto com muitos pormenores no meu livro “Angola a Via Agreste da Liberdade” com prefácio do Almirante Rosa Coutinho.   

Um apontamento de reportagem. O Comandante Manuel Francisco Tuta (Batalha de Angola) foi levado em ombros desde o aeroporto até ao Comité Dona Amália. Uma emoção. Ele contou a sua aventura no programa Contacto Popular, produzido e apresentado por José (ZAN) Andrade e realizado por mim.

A delegação era chefiada por Lúcio Lara, membro do Bureau Político. Do órgão de cúpula do movimento também integravam a comitiva oficial do MPLA Carlos Rocha “Dilolwa”, Ludy Kissassunda, Joaquim Kapango, António Jacinto, Maria Mambo Café, Pascoal Luvualu e Lopo do Nascimento.

A delegação era integrada pelos seguintes membros do Comité Central: Saydi Mingas, Manuel Francisco Tuta “Batalha de Angola”, Jacob Caetano João “Monstro Imortal”, Pedro Maria Tonha “Pedalé”, Henrique Santos “Onambwe”, Ambrósio Lukoki  e Evaristo Domingos “Kimba”. 

Os Comandantes Joaquim Domingos “Valódia”, Garrido “Che Guevara” e Bento Ribeiro “Kabulo”. Elsa de Almeida e Sousa “Cachimbinha”, Mbeto Traça, Armando Guinapo, Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” , pioneiro Beto Nelumba e Galiano da Silva também integraram a delegação oficial do MPLA em 8 de Novembro de 1975 .

As instalações do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) em Maputo foram assaltadas pelos bandidos às ordens do partido PODEMOS e do bolsonarista Venâncio Mondlane, agente da Internacional Fascista. Foi destruído material de apoio aos sinistrados, viaturas novas equipadas para actuarem em zonas de catástrofe. Material de construção, equipamentos electrónicos e saqueado um armazém de víveres. 

Na Zambézia, os pacíficos apoiantes do PODEMOS e de Venâncio Mondlane vandalizaram edifícios públicos e privados. Em Quelimane os manifestantes saquearam casas comerciais, armazéns e repartições públicas. Dezenas de “manifestantes” foram presos em flagrante. Declararam que receberam ordens da direcção do partido derrotado nas eleições.

Venâncio Mondlane convocou uma manifestação para o dia seguinte ao assassinato do seu advogado, Elvino Dias, e do mandatário do partido PODEMOS, Paulo Guambe. Acusou a FRELIMO dos assassinatos. No dia seguinte não apareceu junto dos manifestantes alegando que a polícia lhe cercou a casa. Ao mesmo tempo soube-se que existiam problemas graves no seio do partido e da candidatura presidencial. Todos disputavam o dinheiro que sobrou das campanhas eleitorais. As autoridades encarregadas da investigação e acção penal que encontrem os assassinos, rapidamente. Sigam o rasto do dinheiro que sobrou das campanhas eleitorais de Venância Mondlane e do PODEMOS.

O bolsonarista e agente da Internacional Fascista convocou greves através de vídeos. Fingia que estava em Maputo mas já se tinha mudado para um “resort” de luxo em Joanesburgo. Prometeu que ontem estava à frente dos manifestantes na “grande marcha sobre Maputo”. Não apareceu. Alegando que o querem matar, fugiu para a Europa. Deixa pistas que está em França, Países Baixos, Alemanha, Suécia ou Portugal. Aparece em vídeos fardado à Zelensky instigando aos saques e actos de vandalismo. Lisboa (onde mais havia de ser?) foi palco de uma manifestação de apoio aos bandidos!  

Eu o Povo Moçambicano (Mutimati Barnabé João, aliás João Pedro Grabato Dias, aliás Frey Ioannes Garabatus e nascido António Quadros) está em perigo. A CPLP prima pelo silêncio. A SADC nem um pio. A Internacional Fascista tem muitas cumplicidades.

* Jornalista

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