Artur Queiroz*, Luanda
Primeiros dias da Independência Nacional. Luanda era um deserto com dois oásis, o Baleizão e a residência do casal Rute/Ndozi, na vizinhança do Palácio. Ali não me faltava amizade e pão na mesa. No Diário de Luanda a carga era pesadíssima. Ninguém acredita que seis profissionais (dois eram fotojornalistas) punham na rua diariamente o jornal! Nem eu queria acreditar. Obrigado Netita. Obrigado, meus irmãos Ndiozi e Tarique, só deixaram de me proteger porque a morte vos impediu. Aguentei os desafios profissionais porque tinha essa protecção.
Em casa do Comandante Ndozi funcionava uma tertúlia rara, juntava-se a amizade com a vontade férrea de conduzir Angola à Independência Nacional. Ao serão aparecíamos na vivenda do Bairro de Saneamento. Netita abria-nos a porta esfuziante de alegria e amizade. O Comandante Ndozi recebia-nos com música de James Brown ao qual chamava Liambeiro. Também me punha esse rótulo mas eu não era génio da música.
Entre os convivas estavam sempre Carlos Rocha (Dilolwa), Armando Guinapo, com sua sobrinha que lhe trançava carinhosamente a longa barba, mais os Comandantes Eurico e Kianda. Grandes noites! A meio do serão do gira-discos saía o som de um merengue. Netita e Ndozi dançavam primorosamente. Dilolwa exclamava: Isto é muita música e muita dança!
No dia 8 de Novembro de 1975 um mensageiro de Lopo do Nascimento convocou-me para uma reunião de emergência. Lembro-me que o encontro foi numa vivenda no Bairro de Alvalade. Penso que nessa época era a sua residência. A emergência era esta: “Se os invasores chegarem a Luanda, vamos para Cabinda e lá proclamamos a Independência Nacional. Ao mesmo tempo Agostinho Neto convoca a guerra popular prolongada. Precisamos de uma boa equipa para a Rádio e um jornal”. Depois deu-me pormenores da operação de retirada. Eu tinha que retirar também.
Dia 9 de Novembro de 1975. Fui a Kigfangondo fazer uma reportagem. Recebido pelo Comandante Kianda. Com ele estava o oficial Dinho Martins, meu amigo de longa data. Fizeram-me o ponto da situação. Eis que chegou o Comandante Ndozi. Ar preocupado, proferindo uns monossílabos. Lembrei-me do encontro com Lopo do Nascimento. Pedi-lhe um minto de atenção e sem mais ninguém a ouvir, disparei:
- Os invasores vão chegar a Luanda?
O Comandante Ndozi fulminou-me com o olhar e depois de dizer que eu estava a ficar burro afirmou:
- Aqui não vai passar ninguém! Podem chegar a Luanda pelo ar, pelo mar, por Catete, pelo Sul, mas por aqui não!
De regresso à Redacção do Diário de Luanda, antes de começar a batucar na máquina de escrever disse à multidão de cinco: Já ganhámos a guerra! Vamos preparar um número especial da Independência.
Verdade. Por Kifangondo ninguém passou. Quem tentou, morreu. Pelo ar e pelo mar ninguém chegou. No Ebo estava montada uma barragem de fogo. Os karkamanos e seus sicários da UNITA não chegaram a Luanda nem antes bem depois de 11 de Novembro de 1975.
Hoje recebi esta mensagem de um
dos filhos do Comandante Ndozi: Meu tio Artur Queiroz que tanto estimo. Tenho
estado a escrever um pouco e quero partilhar consigo o meu texto de reflexão
sobre o Dia da Dipanda. Espero poder falar mais com o tio e saber de facto toda
a História não só do Pai mas também de Angola.
Um forte e carinhoso abraço.
Com a mensagem veio este texto.
Luta Inspiradora Futuro Digno
DAVID MUANGA MOISÉS
Para mim, como bom Angolano e filho de um guerrilheiro, meu pai, o General Ndozi, esta data representa muito mais do que um ponto na linha temporal. É um lembrete eterno da coragem inabalável e dos sacrifícios incalculáveis feitos por tantos heróis anónimos que sonharam com a liberdade de Angola.
A data da Independência Nacional é um dia de profunda reflexão, um momento em que lembramos e honramos todos os que dedicaram as suas vidas, esperanças e os seus fu turos para que pudéssemos estar aqui hoje, livres e soberanos.
Resta-nos perpetuar esse legado. Devemos honrar os sacrifícios daqueles que vieram antes de nós, mantendo vivos os valores que sustentaram a sua/nossa luta.
A nossa missão é continuar a construir uma Angola mais justa, mais forte e próspera, onde cada conquista seja um tributo às batalhas travadas e à resiliência do nosso povo.
Que cada dia seja um novo passo
em frente, reafirmando o compromisso de nunca esquecer as vozes que ecoam do
passado e nos inspiram a lutar por um futuro digno da sua memória.
Hoje os sicários da UNITA eleitos deputados apareceram na Assembleia Nacional
com umas camisolas onde se lia “Unidos Contra a Pobreza”. O abuso tem limites.
A tolerância é finita. A pobreza em Angola tem a marca indelével do Galo Negro.
Os invasores estrangeiros tiveram sempre o apoio do Savimbi. Partiram tudo.
Escorraçaram as populações das suas terras. Minaram os trilhos das lavras e as
picadas. Destruíram pontes e vias férreas. Destruíram a autoridade do Estado.
Destroçaram equipamentos sociais. Isto durou entre 1975 e 2002. Os
destruidores, os sicários, acham que em 22 anos é possível recuperar de tanta
destruição.
Os sicários da UNITA na Assembleia Nacional acreditam que reconstruir um país é tão fácil como disparar, rebentar bombas, roubar diamantes, traficar droga e diamantes. Atenção! Já estão a cantar a fraude eleitoral. O Poder Legislativo tem dois anos e meio para aprovar legislação que acabe com a cantoria. Basta de conivência com o banditismo político.
* Jornalista
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