Artur Queiroz*, Luanda
Por volta das eleições do General Humberto Delgado foram ao Negage uns sujeitos de má catadura, pistolas em punho e prenderam meu Pai que era o procurador do candidato da Oposição portuguesa à Presidência da República. Fizemos um miango do outro mundo e eu mordi um deles que me empurrou. Levei logo um murro/coronhada que até vi estrelas. Ai é? Fui cortar um ramo de cafezeiro que tinha ovos e esfreguei-o no agressor. Mais coronhada!
Depois fui à tonga do senhor João Ferreira e apanhei feijão maluco! Espanei a cara do coronhador. No meio da nossa gritaria levaram o Papá mas ficaram cheios de comichão. Desesperados de tanta coceira. Até se rebolavam no chão. Uns tempos depois chegou o Natal e estávamos todos tristes. A Mamã chorava. Desde então nunca mais quis saber das boas festas.
Não há mal que dure para sempre nem bem que nunca acabe. Agora estou amansado. O milagre é da primeira-dama Ana Dias Lourenço, que me comoveu com a roda do amor nos hospitais. Fiquei um pouco nervoso porque sua excelência falava aos soluços e di lento, o estilo do casal presidencial. Agora ando entretido com as brinquedotecas inventadas pela excelentíssima senhora, que espalha brinquedotecas por todo o país. Eu vou atrás dela e distribuo comprimidos para curar a malária. Mais carradas de pão.
Antes que me esqueça: Se os membros do Comité Central e do Bureau Político do MPLA me escolherem para candidato à Presidência da República em 2027 (sou um jovem octogenário!) já sei falar como João Lourenço. Bebo uns copos e fico com aquele tom pastoso, entrecortado por soluços. Estou pronto para servir o país, pelo menos ao nível do filho de enfermeiro, eu que sou filho de bombista.
Neste natal salafrário estou
desorientado. Passo os dias a escrever e hoje sonhei que estava a escrever!
Escrevendo a dormir! E não conseguia corrigir os erros porque o computador
perdeu a tecla “delete”. Isto já é um estado terminal. Se vou marchar que não
seja
As meninas deputadas do Chega também se safam mas como estão mal fornicadas têm de se apresentar todos os dias na mata de Monsanto para darem beijinhos aos trabalhadores da construção civil emigrados do Sahel, do Golfo da Guiné e da África Austral, que têenham um mangalho até ao joelho (Estou cada vez mais ordinário, até no natal).
O espírito do natal salafrário faz milagres. Querem saber?
A partir deste momento sou membro da Igreja de Jesus Cristo de União Internacional da Lei Espiritual Cura e Profecia. O Chefe da Nação é sua excelência Afonso Nsango Manuel, mais que deus.
Sabem quem ensinou João Lourenço a governar? Foi sua santidade Afonso Nsango Manuel.
O meu novo senhor é o Comandante em Chefe da Lei Espiritual, Afonso Nsango Manuel. Sabem quem ensinou João Lourenço a ser general? Foi ele. Eu vou ser empossado como anjinho papudo numa cerimónia pública em que troco pastas com Mara Quiosa, Paulo Pombolo e João Lourenço. O MPLA passa a ser o meu olimpo.
Na secção das curas vai ser profetiza sua excelência a ministra da Saúde, Sílvia Paula Valentim Lutucuta. Dona Vera Daves faz o papel de Anjo do Mal. Te arrenego Satanásia!
Os sicários da UNITA assinalaram o natal salafrário com uma confissão que me deixou muito tranquilo. Adalberto da Cista Júnior garante que “a nova divisão administrativa é para disfarçar a queda irreversível do regime”. Estás absolvido de todos os teus pecados, bom rapaz.
O Galo Negro está fora do regime democrático e canta a sua queda irreversível. Sabem o que vem aí? O regime da Jamba! O racismo. A traição como modo de vida. A kamanga para torrar o dinheiro roubado. As mamãs e seus bebés atirados para as fogueiras. A destruição do país peça a peça, equipamento social a equipamento social, lavra a lavra, casa a casa.
Sou um crente. O MPLA, uma vez libertado do filho de enfermeiro e sua camarilha bajuladora, vai travar os inimigos da democracia.
Aceitem um abraço deste vosso irmão neste natal salafrário. Feliz na tola e boas festas no corpo todo.
* Jornalista
Sem comentários:
Enviar um comentário