domingo, 29 de dezembro de 2024

DESEJOS ANTIGOS PARA 2025 -- Carvalho da Silva

Carvalho da Silva * | Jornal de Notícias, opinião

Desde há muito tempo que a paz e a democracia não estão tão ameaçadas e tão interdependentes como nesta entrada do ano 2025. Os grandes fatores que originam as guerras são, no fundamental, os mesmos que corroem a democracia.

O poder económico e financeiro tornou-se avassalador e subjuga a política numa dimensão nunca vista. A organização, a direção e a administração das comunidades, das nações e dos estados - o primado da política - são orientadas por uma espécie de confraria do cifrão. Já não se trata de aquele poder influenciar o poder político: agora, ocupa diretamente as cadeiras deste. Esta realidade é evidente em diversos países, e é paradigmático o que está a acontecer nos Estados Unidos da América. Veja-se a formação do novo Governo, o papel atribuído a Elon Musk e seus pares, ou a escolha de embaixadores, por exemplo, as “credenciais” do indigitado para Lisboa.

Como aqui expus na última crónica, são profundas as tensões resultantes das mudanças geopolíticas e geoestratégicas em curso à escala global. Há grandes interesses que se conflituam e demasiadas loucuras belicistas. Povos e nações que querem ter papéis mais relevantes e surgem com regimes políticos diferentes e, por certo, alguns pouco recomendáveis. No “Ocidente” alastra o desrespeito pelas instituições e escondem-se dos povos delicados desafios que temos pela frente. Ora, a falta de verdade não ajuda a democracia, nem contribui para a paz.

Muitos dirigentes políticos têm responsabilidade no esvaziamento da democracia. Seguem fundamentalismos financeiros e orçamentais que obstruem a construção de resposta aos problemas reais das pessoas e cavam desigualdades. Daí nasce marginalização, pobreza, miséria, descrença na democracia e aumento de conflitos.

Quando governantes não respeitam o papel das instituições de intermediação institucionalizadas na sociedade, como os sindicatos e outras entidades coletivas, lançam gasolina sobre fogueiras que consomem a vida democrática, acicatam divisões e polarizações. Uma sociedade marcada pela promoção de inimizades, que coloca todos contra todos, desagua em soluções políticas autoritárias.

Existem compromissos coletivos que podem e devem ser seriamente revisitados. Realço os que constam da Declaração de Filadélfia (1944), que estabelece, “o trabalho não é uma mercadoria” e, mais ainda, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Nesta estão inscritos princípios de enorme atualidade: as dimensões que ancoraram a igualdade entre todos os cidadãos, incluindo a da personalidade jurídica; as liberdades e a recusa de toda e qualquer discriminação; o trabalho a segurança e proteção sociais como direitos universais fundamentais.

Estes compromissos foram estabelecidos para dar dignidade à pessoa humana, evitar injustiças, descalabros humanitários e novas guerras. Tomemo-los em mãos em 2025.

*  Investigador e professor universitário

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