terça-feira, 14 de janeiro de 2025

MENTIRA COMPARADA - Diarrumbas e Corações no Lixo

J. Bazeza, Luanda

Ao chefe o que é do chefe, aos desgraçados o que é dos desgraçados. A situação na Sanzala passou os limites. Até o Mafioso, que vive bem, não acreditou nem está a acreditar no que se está a passar na Sanzala. Boca Azul comprou passagem no azulinho e foi ao Muceque desabafar com o seu amigão Mafioso. Encontraram se num turenge. Bar mesmo, com balcão, mesas, cadeiras e uma mboa servindo a clientela. Por precaução decidiram falar em língua do Nagrelha, Prado Paim, Praia, Bangalô, Kabocomeu e Kiela, apenas para citar sambilas.

Depois de acordarem a língua de trabalho, o Boca Azul começou por dizer que os nguvulus da Sanzala continuam a intrujar o chefe e este, inocentemente (será mesmo inocente?), adora ser intrujado por muadiés que dizem ser da sua linha de confiança. Mas os desgraçados da Sanzala já não caem nas conversas molarengas. Só aceitam está aqui a obra! Está aqui a água jorrando na torneira! Estão aqui os salários dignos. Está aqui a escola. Está aqui o posto de saúde. Vou fazer ou prometo acontecer já era!

Boca Azul deu exemplo de uma intrujice que passa na Sanzala. Num dos bairros, os desgraçados estão a ser atacados com diarrumbas. Diarreias aguadas repetitivas. A culpa é dos muadiés que autorizaram os desgraçados a viverem ali como bois. Nunca se importaram com o saneamento básico, com o fornecimento da água, com a assistência médica. Limpeza suburbana.

As diarrumbas matam crianças, mulheres e ngavives já mesmo muito velhos. O Boca Azul jurou a pés juntos e fazendo figas que as diarrumbas até já matam executivos, presidentes e presidenciáveis. A cólera é mesmo democrática. Pânico, medo, receio estremecido. E do nada apareceu uma comissão multisectorial para impedir mais mortes com diarrumbas líquidas e permanentes.

Mafioso tirou a palavra ao Boca Azul e zuelou que no Muceque os mambos não são assim. Quando está a surgir um bairro, nguvulus está lá. Mete chafarizes, posto médico, escola e brigadas de limpeza para evitar as diarrumbas afamadas de cólera, que matam sem dó nem piedade.

Boca, depois de receber o passe da palavra, deu esclarecimentos sábios. A comissão dos multisectoriais integra a responsável máxima da saúde, um cabomborito das águas, o chefe da administração e um chaveiro da comunicação social. Este tem bué de chaves para abrir cofres!

Mafioso não acreditou e perguntou ao Boca se o represente das Águas, sabe que o fornecimento desse precioso líquido é um direito social para qualquer pessoa. Todos sabem. Mas como a desgraça bateu ali, vai o cabomborito. O manda chuva preferiu ler os papéis e tomar café no gabinete. O muata da comunicação social garantiu que os Media vão sensibilizar os desgraçados em língua nacional para a prevenção das diarrumbas. Abaixo a cólera!
Grande lata retorquiu Boca Azul! Ele viu a responsável da saúde a diangular bem. Falando mesmo para falar, enfeitada com a sua peruca de artista de variedades. Coitada, tudo sobra para ela. Quem está a meter cisternas de água no Muceque teve 50 anos para construir chafarizes, urbanizar as ruas, construir balneários públicos.

Assim falou o Boca: Pague quem não fez e autorizou que uma lixeira fosse lugar para viverem pessoas humanas. O falhado sabe muito bem o que fez!

A responsável da Saúde cuida da Sanzala. Tem a solidariedade partidária. Os compinchas escondem a mão depois de esbofeteá-la. Então ela pôs a peruca e foi falar com o chefe. Diangular é com todos. Falou assim: Chefe a situação das diarrumbas está sob controlo. Os desgraçados já estão a beber da boa água. Já metemos boas retretes para cagar cólera, já apoiamos os óbitos, os medicamentos foram entregues às administrações. Há avisos em língua nacional e em português arranhado.

O Mafioso teve de reconhecer que quem governa não dá dignidade às pessoas desgraçadas, cujos trisavós, bisavós, avós, pais, maridos deram a vida pela Dipanda e a paz estão na dibinza. Totalmente desgraçados. Mafioso disse que isto é revoltoso. Quando as diarrumbas baixarem, as solteiras nunca mais arranjam par vivo e os solteiros ainda menos.

Quanto à sensibilização em línguas nacionais na Sanzala, Boca disse que pelo menos num órgão público da comunicação social essa não vai pegar. Ali tem administradores ngunas. São tão maldosos que atiraram com o coração para o lixo. Dá mesmo vontade de matar esses muadiés com bombas! Calma aí, estamos na democracia das diarrumbas. 

Mafioso sabe muito. Lembrou que um tal Eduarlista (não é eduardista apoiante do saudoso Zé Du) decretou o adiantamento salarial de um jornalista sénior para tratar da saúde. Mas não é tudo. Um estiloso, o Bessa Ngana, ficou tão vaidoso como o seu homólogo Eduarlista e já não atende telefonemas daqueles que estiveram com ele na primeira linha, em momentos difíceis.

Boca Azul não acreditou e disse que no Muceque isso é impossível. Os jornalistas têm dignidade, porque uma empresa jornalística só existe porque há jornalistas. Mas o Mafioso atirou mais esta: Recentemente, por ordem do ministro ou do secretário de Estado da Comunicação Social, jornalistas que se encontravam doentes no mês de Dezembro não beneficiaram de cartão de compras. Aí o Boca lagrimou e apenas perguntou: Quem assim procedeu dorme mesmo bem? Tem família ou quadrilha de bandidos?

Mafioso abanou a cabeça, benzeu-se e agradeceu a João Lourenço por não estar a desfazer-se com diarrumbas líquidas afamadas de cólera. E resolutamente garantiu que vai exibir outros filmes.

A Mentira, mal comparada, tem perna curta mas muita credibilidade pelo menos num órgão público de comunicação social. Sim chefe, vossa excelência manda, comanda e se for preciso o jornal demarca-se do prejuízo. Jornalismo da Diarrumba!

Sem comentários:

Mais lidas da semana