terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Gigante de Maputo e o Anão – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A República de Angola deixou de ser popular e socialista porque aderimos, entusiasmados, à democracia representativa. Nas eleições multipartidárias ninguém se apresentou a defender o anterior regime. Estávamos todos convencidos de que esse era o preço que tínhamos de pagar pela  paz e a reconstrução nacional. Hoje é fácil ver erros onde na época só víamos acertos e virtudes.  Mas para não repetirmos tragédias passadas, temos de tirar lições da História.

As primeiras eleições multipartidárias foram organizadas de uma forma exemplar. A ONU e a Troika de Observadores (Portugal, Rússia e EUA) blindaram de tal forma o processo eleitoral que era impossível a fraude. O regime democrático tinha todas a condições para triunfar. Ninguém me tira da cabeça que foi um engodo para acreditarmos no sistema. Terrível engano de alma. Tremenda fraude. 

Todos confiámos que a ONU e a Troika de Observadores davam uma garantia básica: Quem despisse a camisola da democracia era excluído ou obrigado a respeitar as regras democráticas. Abriu a campanha eleitoral e logo percebemos que isso não era verdade. A Comissão Nacional de Eleições começou a ser boicotada pela UNITA. O boicote chegou ao extremo de ser impedida a campanha eleitoral dos partidos concorrentes em zonas sequestradas militarmente pelo Galo Negro. Nessas áreas, as estruturas da Comissão Nacional Eleitoral foram impedidas de funcionar. 

Nas ruas de Luanda e das principais cidades angolanas a UNITA exibia o seu poderio militar! Mas em Bicesse ficou acordado que Governo e Galo Negro desarmavam! As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) foram extintas. A UNITA escondeu 20.000 homens e as suas melhores armas em bases secretas no Cuando Cubango. E aproveitou a campanha eleitoral para espalhar esses militares armados por todas as províncias. À custa do Acordo de Bicesse, a UNITA ocupou militarmente todo o país em vez de desarmar. A ONU não viu. A Troika reagiu com muita conversa mas zero acções. Savimbi despiu a camisola da democracia na cara dos árbitros!

Contados os votos, a ONU declarou que as eleições foram livres e justas. O MPLA venceu com maioria absoluta. Imediatamente a UNITA cantou fraude. Uns anõezinhos políticos foram ao Huambo jurar fidelidade a Jonas Savimbi e difundiram a cantiga da fraude eleitoral. Alguns nem conseguiram eleger deputados. O PRD, que reuniu os golpistas do 27 de Maio de 1977 e uns restos da Revolta Activa, elegeu um deputado mas os seus dirigentes também cantaram a fraude! Claro que houve. Em vez de um deputado elegeram um e meio. O partido foi roubado em meio deputado!

Da cantiga da fraude, a UNITA partiu para o golpe militar armado em Luanda. Os golpistas foram derrotados estrondosamente. Os padrinhos de sempre convenceram Savimbi a partir para a rebelião armada. Durou de 1993 até Fevereiro de 2002. Desde então, sempre que há eleições em Angola, a UNITA canta a fraude. Tem sempre uma Ana Gomes ou um João Soares prontos a escarrar vómitos de colonialistas ressabiados sobre Angola. Internamente, a criadagem de George Soros, Biden e Trump, também cantam a fraude. Ficam baratuchos. 

As eleições de 2027 estão condenadas. A cantiga da fraude já está gravada e bem afinada. Só falta saber quem a Casa dos Brancos, Lisboa e Bruxelas nos vão atirar às canelas. Um Guiadó? Um Gonzalez Urrutia? Um Venâncio Mondlane? Eles têm muita mão-de-obra. Entre os sicários da UNITA há monturos deles. O Bloco Democrático tem poucos mas sempre prontos a estender a mão à esmola. O Chivukuvuku recebe já, seja qual for o comprador. Nunca se esqueçam que foi o primeiro chefão da UNITA a comer dos cofres públicos até rebentar e o que sobra vai no mar.

Angola e Moçambique são países irmãos. MPLA e FRELIMO são partidos irmãos. Maputo também é palco da cantiga da fraude nas sucessivas eleições. Nas últimas, a FRELIMO ganhou em toda a linha mas a canção da fraude foi substituída por terrorismo puro e duro. A operação começou há muito tempo, em Cabo Delgado. Sabem quem começou? Isso mesmo, o Estado Islâmico, instrumento da CIA para o trabalho sujo de roubar petróleo e gás.

Nas últimas eleições, a Casa dos Brancos e Bruxelas pegaram num deputado da RENAMO (a UNITA de lá), pastor evangélico fanático, militante fascista, e fizeram dele candidato à Presidência da República. Criaram um novo partido para dar cobertura à fraude, o PODEMOS. Ainda estavam a ser contados os votos já o fantoche reclamava a vitória e logo com 70 por cento. Tudo falso. 

Os deputados eleitos já tomaram posse. Amanhã toma posse o Presidente Daniel Chapo. A Casa dos Brancos e  Bruxelas continuam a partir tudo e a matar. Exigiram aos seus fantoches que não comparecessem na tomada de posse do Presidente eleito.

Amanhã apenas estão presentes dois Chefes de Estado, o Presidente Ramaphosa, da África do Sul, e o Presidente Umaro Sissoco Embaló, da Guiné Bissau. Este salvou a honra da CPLP. Quem diria! Mas estão presentes em Maputo 33 delegações estrangeiras. Angola está presente com o ministro de Estado Adão de Almeida. 

O Presidente João Lourenço preferiu ir a Paris falar com Macron. Um encontro de desesperados mas ao mesmo nível. Como eu compreendo o Corredor do Lobito nesta corrida para o abismo. Ao lado de Daniel Chapo parece um anãozinho fugido da Branca de Neve. Anão em Angola está bem, está bem. Mas no estrangeiro não convém fazer essa figura. Ninguém gasta dinheiro em passeatas ao estrangeiro para ficar mal na fotografia. Um baixinho ao lado do gigante Chapo não dá!

O Almirante António José Condesse de Carvalho (Toka) foi o primeiro embaixador de Angola em Moçambique, quando os dois países aderiram à democracia representativa. Visitei-o na sua casa em Maputo e enquanto comíamos catatos ele fez uma das suas análises futuristas: “Moçambique vai pagar muito caro as suas riquezas naturais!”

Aí está. Paga tão caro as gigantescas reservas de petróleo e gás que até o Presidente da República de Angola e do MPLA lhe vira a cotas na hora em que mais precisa da solidariedade e dos amigos.

* Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana