terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Angola | Dia do Mais Amplo Movimento – Artur Queiroz

<> Artur Queiroz*, Luanda

O Bureau Político do MPLA exortou os angolanos a celebrarem o 4 de Fevereiro “reconhecendo o valor histórico e patriótico deste marco”. Também porque é um momento “para reflectirmos sobre os sacrifícios do passado e fortalecermos o compromisso de continuarmos juntos na construção de uma Angola mais justa, inclusiva e próspera”. É isso mesmo. Todos temos o dever patriótico de ver a data do início da Luta Armada de Libertação Nacional para além das catanas e dos calções pretos.  

O 4 de Fevereiro é a matriz da Revolução Angolana. E o primeiro grande acontecimento político resultante do “amplo movimento” proposto no Manifesto do MPLA ao Povo Angolano. Foi a máxima amplitude, que se repetiu em momentos cruciais da História Contemporânea de Angola. A eleição de Agostinho Neto para Presidente do MPLA em 1962, resulta da Matriz do 4 de Fevereiro. Foi derrotada a candidatura maoista e racista de Viriato da Cruz. 

A refundação do MPLA no interior, em 1974, por Manuel Pedro Pacavira, Hermínio Escórcio e Aristides Van-Dúnem, resultou da Matriz do 4 de Fevereiro. 

Após a Independência Nacional, a derrota dos golpistas em 27 de Maio 1977 foi a vitória da Matriz do 4 de Fevereiro. O golpe militar foi uma tentativa de impor a Um Só Povo Uma Só Nação a hegemonia do grupo etnolinguístico Kimbundu e reduzir o amplo movimento, à sua expressão mais fechada, até sob o ponto de vista racial. O velho sonho de excluir mestiços e brancos. O racismo como política de Estado à moda dos EUA e da África do Sul, sempre olhada como um exemplo de sucesso.

A sucessão de Agostinho Neto resultou da Matriz do 4 de Fevereiro. José Eduardo dos Santos levou o amplo movimento à sua amplitude máxima em várias etapas do seu mandato. Na mudança do regime em 1991, negociando com a UNITA apesar do seu passado de colaboracionismo com os colonialistas e o regime racista de Pretória. Também se viu no primeiro governo do MPLA, após as eleições multipartidárias de 1992. 

O primeiro-ministro Marcolino Moco constituiu um gabinete ministerial com representantes de todos os partidos que elegeram deputados. Amplo Movimento na amplitude máxima. No Protocolo de Lusaka o Presidente José Eduardo mandou para a mesa de negociações Higino Carneiro, um dos seus generais mais importantes. Amplo Movimento no máximo. Na constituição do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). Máxima amplitude no Amplo Movimento.

 Finalmente a escolha de João Lourenço para liderar a lista de deputados do MPLA em 2017 resultou da Matriz do 4 de Fevereiro. O amplo movimento ganhou mais amplitude quando recusou, mais uma vez, a hegemonia do grupo etnolinguístico kimbundu, o que no mosaico cultural e demográfico angolano foi crucial. Os resultados é que estão a matar o amplo movimento. Acontece. A política não é uma ciência exacta e o poder corrompe mesmo.

O amplo movimento atingiu pela primeira vez a amplitude máxima, no 4 de Fevereiro de 1961. Participaram na insurreição armada angolanos de todas as classes sociais, desde funcionários públicos a estivadores, médicos e engenheiros a operários, homens e mulheres, negros, mestiços e brancos, angolanos e portugueses progressistas, gente de todas as religiões, particularmente católicos e protestantes. Ma também de todos os partidos na época.

O cónego Manuel das Neves, ao contrário do que defendem historiadores da carochinha, não era da UPA/FNLA. Não era do MPLA. Não era do Exército de Libertação de Angola (ELA). Não era do Movimento para a Independência de Angola (MIA). Não era do Movimento de Libertação Nacional de Angola (MLNA). Era um patriota tocado pelo Manifesto do MPLA, o amplo movimento nascido em 10 de Dezembro 1956. Tinha contactos com a UPA como teve com as pequenas organizações que se fundiram no MPLA.

Uma das críticas (justas) que fazem aos protagonistas da Luta Armada de Libertação Nacional, da Guerra da Transição e da Guerra pela Soberania e Integridade Territorial é que não partilham as suas memórias e experiências em livros. Manuel Pedro Pacavira escreveu e muito sobre o 4 de Fevereiro. Esteve sempre ao lado do cónego Manuel das Neves na qualidade de membro do MPLA. E conta tudo. Pelos vistos ninguém leu. É escrever para sujar papel. 

O Processo dos 50 foi uma tentativa desesperada dos colonialistas para impedirem que o amplo movimento atingisse a amplitude máxima. Falharam em toda a linha. O 4 de Fevereiro aconteceu mesmo e mudou radicalmente a sociedade colonial. A repressão dos “civilizadores” foi selvática. Mataram milhares de luandenses que nada tinham a ver com a revolta.

Antes da revolução sair às ruas prenderam vários intelectuais, como António Jacinto, Luandino Vieira ou António Cardoso. Depois do 4 de Fevereiro foram enviados para o campo de concentração do Tarrafal. Deportaram para Portugal altos funcionários públicos como o engenheiro Calazans Duarte. A médica Julieta Gandra. Depois do início da luta armada perseguiram furiosamente o cónego Manuel das Neves e os padres Alexandre do Nascimento, Joaquim Pinto de Andrade, Manuel Franklin da Costa, José Gomes Maiato, Próspero Puaty, Martinho Samba e Vicente Rafael. O padre Vicente colaborava com Manuel Pereira do Nascimento na Liga Africana. Educação musical de jovens.

A amplitude máxima do Amplo Movimento aconteceu outra vez após as primeiras eleições multipartidárias de 1992, que o MPLA ganhou com maioria absoluta. Os deputados do partido apoiaram um governo constituído por ministros e secretários de Estado oriundos dos partidos representados na Assembleia Nacional. Só a UNITA não aceitou, partindo para a rebelião armada a fim de matar a democracia ainda no ovo. 

O movimento democrático era tão amplo que a aventura belicista de Savimbi terminou com o seu fim e o fim da UNITA. O que temos agora são sombras e fantasmas na capoeira. Nada que seja de levar a sério a não ser a sua propensão para o banditismo. Um dos ministros de Marcolino Moco era Brito Júnior, que foi preso no 27 de Maio. Vejam bem a abertura do Amplo Movimento.

Hoje aproveito para referir um acontecimento que embora sem importância, mostra a amplitude máxima do Amplo Movimento que esteve na base do 4 de Fevereiro. O jornalista e realizador Ladislau Fortunato publicou um texto sobre Reginaldo Silva onde constam algumas imprecisões que vou corrigir, antes de ir ao assunto. O autor afirma que o biografado iniciou a carreira na Rádio Nacional de Angola em 1975. E associa esta data ao exercício das “funções de liderança” como “Chefe do Departamento da Informação, Chefe da Redacção Central e Chefe da Secção Internacional”.

Até Março de 1975 fui chefe de Redacção da Emissora Oficial de Angola (RNA) e todo os jornalistas ou estagiários eram admitidos por mim. Nunca admiti nenhum estagiário ou jornalista chamado Reginaldo Silva ou Telmo Augusto. Depois fui trabalhar no Diário de Luanda a cuja direcção pertenci até Junho de 1976. Nunca entrou lá um Reginaldo Silva ou Telmo Augusto. Só tínhamos dois estagiários, um deles, Filipe de Sá. De Julho de 1976 a Fevereiro de 1977 trabalhei no Jornal de Angola e nesse período não havia nenhum Reginaldo Silva na Redacção.

Agora o pente é mais fino. Até Outubro de 1975 fui presidente da direcção do Sindicato dos Jornalistas. O Conselho Técnico e Deontológico é que emitia as carteiras profissionais. Existiam em todo o país 115 jornalistas e 48 de equiparados (estagiários de primeiro e segundo ano). As empresas não podiam admitir jornalistas nem estagiários sem o título profissional. Até Outubro de 1975 Reginaldo Silva não era jornalista nem estagiário. Li, escrito pelo próprio, que foi preso no 27 de Maio 1977. Mais um que foi preso, torturado e escapou por um triz ao fuzilamento. Mas este é um exemplo (como Brito Júnior) da máxima amplitude do Amplo Movimento. A sacar está ao nível dos generais da UNITA.

Dando como verdadeiro que foi director de Informação e chefe de Redacção na Rádio Nacional de Angola, só pode ter exercido esses cargos após o golpe de estado do 27 de Maio 1977. Os vencedores deram a um golpista derrotado, os máximos cargos no mais importante órgão de comunicação social angolano, a RNA. Se os amigos dele tivessem ganho, quem lhe deu trabalho estava seguramente morto. Porque os golpistas odiavam e odeiam a amplitude máxima do Amplo Movimento. Honra e Glória ao Heróis do 4 de Fevereiro, matriz da Revolução Angolana.

Luaty Beirão e Hitler Tshikonde agora escodem-se atrás de uma coisa chamada Hendeka. Torram dinheiro (donde vem?) a fazer “sondagens” para saber se os angolanos perdoam a João Lourenço e sua família! Claro que não publicam as fichas técnicas. Aquilo são delírio de kapuka e charros de boi. 

João Lourenço também torra milhões a comprar espaço na Jeune Afrique e na CNN. A ordem é rica e poucos os beneficiários do dinheiro do Estado. É fartar, vilanagem! 

* Jornalista

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