Angola totaliza 1.888 casos e 65 mortes desde o início do surto de cólera, no mesmo dia em que foi iniciada uma campanha de vacinação de dois dias para combater a doença que vai abranger apenas províncias mais afetadas.
Angola bateu um recorde de casos e mortes desde o início do surto de cólera com 178 novos casos e seis óbitos nas últimas 24 horas, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.
Destes casos mais recentes, 108 ocorreram na província do Bengo, 56 na província de Luanda, 13 na província do Icolo e Bengo e um na província do Huambo.
Os seis óbitos foram registados no Bengo (4), Luanda (1) e Icolo e Bengo (1).
O surto da cólera afeta oito províncias angolanas. Mas, segundo a ministra da Saúde de Angola, Silvia Lutukuta nem todas estão abrangidas na campanha de vacinação que termina esta terça-feira (04.02):
"Apenas nos grandes epicentros do surto da cólera."
E os grandes epicentros do surto da cólera estão em Luanda, Icolo e Bengo e Bengo.
Entretanto, as reações não se fizeram esperar.
Domingos Cristóvão, especialista angolano em saúde pública explica que não "é possível vacinar toda a população".
"Até porque o stock de produção de vacinas a nível do mundo é de oito milhões. E Angola tem uma população de 35 milhões. Quer dizer que não seria possível vacinar toda a população mesmo que fosse uma medida generalizada para todo o país", relata.
Mas Cruz Matete, secretário-geral do Sindicato Nacional dos Enfermeiros de Angola defende a extensão da vacinação a outras províncias afetadas.
"O Governo deve estender não só nas províncias afetadas, mas a vigilância deve ser estendida a todas as províncias para combatermos esse surto da cólera", defende.
O surto da cólera foi declarado a 7 de janeiro deste ano e já fez, pelos menos, mais de 60 vítimas mortais em mais de mil e oitocentos casos registados.
Combater na raiz
A doença surgiu no bairro Paraíso - zona periférica de Luanda onde o saneamento básico é débil. Domingos Cristóvão volta a alertar a cólera é uma doença, fundamentalmente causada por falta de saneamento básico, defecação ao ar livre e escassez de água potável.
"Essas são as três vacinas que podem combater a cólera em qualquer país: água potável, saneamento básico, defecação por latrinas ou casas de banhos e higiene individual", pontua o especialista em saúde pública.
E Inocêncio de Brito, ativista angolano e coordenador da Associação Mudar Viana - uma ONG que trabalha com as comunidades locais - diz que o Governo devia melhorar o fornecimento de água potável, um problema que assola Luanda nos últimos dias.
"O país está assim a muito tempo. Ultimamente tem estado a se degradar com a falta de água em vários municípios e em vários bairros e, obviamente que a consequência não seria outra", considera.
Por isso, Cruz Matete volta a deixar apelos à sociedade e ao Governo:
"Vamos evidenciar esforços para todos nós, em conjunto, combatermos a cólera. E o Governo deve apoiar os profissionais que estão na linha da frente com todos os meios possíveis para que a cólera seja estancada", conclui.
Deutsche Welle | Manuel Luamba (Luanda), correspondente da DW África | Lusa
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