quarta-feira, 30 de abril de 2025

Angola | Para Já Servir a Fome – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

A desnutrição crónica afecta quatro em cada dez crianças angolanas com menos de cinco anos, uma das mais elevadas taxas a nível mundial, segundo o relatório do Programa Alimentar Mundial (PAM) referente ao ano passado. Este ano a situação não melhorou. Em algumas províncias até piorou. Basta abrir os olhos e ver. No final vou traduzir esta parte para linguagem Braille  e enviá-la ao Conselho de Ministros onde está a maior concentração de invisuais do planeta Terra e arredores.

O Tenente-General Isaías Sambangala na data da Independência Nacional tinha cinco aninhos e provavelmente era uma das crianças angolanas sofrendo de “desnutrição crónica”. À sombra do partido UNITA subiu, subiu, subiu e agora é dirigente do PRA-JA Servir Angola. Emprestou à organização de Abel Chivukuvuku três milhões de dólares, uns trocos, para aquisição de 21 viaturas destinadas aos secretários provinciais do partido. 

O generoso prestamista informou que também já financiou a UNITA. Na vida à civil ele é dono da empresa ID. Sambangala Comercial e Filhos Lda. Maninho Sambangala! Manda só três mil dólares e fica com o troco para comprares comida às crianças angolanas com “desnutrição crónica”, forma elegante e fina de dizer FOME. 

Das três, uma ou as três. Uma: Sambangala fez carreira durante a rebelião armada de Jonas Savimbi. Porque quando o regime racista de Pretória foi esmagado no Triângulo do Tumpo ele ainda só tinha 18 verdes anos. Nessa altura, quando muito era um principiante. Duas: À boleia da guerra contra a democracia, Sambalanga entrou a fundo na kamanga e por lá continua a encher-se de dinheiro subtraído às crianças com “desnutrição crónica”. Três: Sambalanga é testa de ferro das forças ilegítimas que querem destruir Angola e o regime democrático. Está tão bem disfarçado que até foi eleito deputado na lista nacional da UNITA.

Luanda em Abril de 1975, há 50 anos, estava a ser desmantelada. Tal como Angola. Ante a indiferença do Alto-Comissário, do Colégio Presidencial e do Governo de Transição. As máquinas das fábricas eram metidas em caixotões e levadas para os portos de Luanda e do Lobito. Pequenos e grandes electrodomésticos também eram encaixotados e “exportados” para Portugal. Automóveis ligeiros, viaturas comerciais e até camiões foram levados. Tudo o que tinha algum valor foi encaixotado e transportado nos porões dos navios da Marinha Mercante Portuguesa (na altura era potente!). As tropas invasoras do Zaire, a norte, e do regime racista de Pretória, a sul, saquearam todos os bancos.  

Por esta altura, há 50 anos, Luanda não tinha uma farmácia a funcionar. Um supermercado. Restaurantes, bares, esplanadas, cinemas e recintos de diversão nocturna foram fechando até nada mais existir. Tarique Aparício resistia no seu Baleizão. Pouco mais existia no que diz respeito à restauração e hotelaria. Escolas fechadas. Alguns médicos angolanos e portugueses garantiam um mínimo de assistência. Depois foram reforçados com médicos e outros técnicos de saúde cubanos. Luanda só ficou com os luandenses que não fugiram. As grandes cidades angolanas ficaram desertas. As populações que puderam, abandonaram o país ou refugiaram-se na capital. Uma tragédia humana de proporções gigantescas.

Do dia da Independência Nacional em diante, Angola só tinha armas (poucas) e combatentes (muitos) para enfrentar as tropas invasoras. Nem tínhamos cantineiros para pesarem um quilo de fuba ou de peixe seco. Taxistas, nem um. Machimbombos das várias linhas urbanas desapareceram. Comércio e indústria, nada. Serviços públicos foram para Portugal com os funcionários portugueses, que eram mais de 90 por cento. Os angolanos que ficaram, abriam as portas das repartições públicas mas pouco podiam fazer. Mesmo assim consegui registar o meu filho Kropotkine (nasceu em Setembro de 1975) na conservatória do Kinaxixi, que tinha três funcionárias. 

Entre a tomada de posse do Governo de Transição e a Independência Nacional, Angola foi saqueada até ao tutano. Tudo encerrado. Não tínhamos quadros técnicos e operários especializados para suprir as necessidades da cidade de Luanda. Uma operação concertada com Lisboa e sob o comando da Casa dos Brancos. 

No dia 25 de Abril 1975 decorreram em Portugal as primeiras eleições democráticas para a Assembleia Constituinte. O Partido Socialista venceu. Mário Soares, em conluio com o embaixador dos EUA em Lisboa, o oficial da CIA Frank Carlucci, organizou a ponte aérea que retirou de Angola mais de 80 mil trabalhadores especializados, técnicos médios e superiores. Foram estimulados a abandonar o país antes da Independência Nacional. 

O êxodo foi acompanhado do reforço da guerra contra Angola. No norte, as tropas zairenses foram reforçadas com matilhas de mercenários e o Exército de Libertação de Portugal (ELP), restos do regime colonialista genocida. No sul, o regime racista de Pretória arregimentou forças da FNLA, UNITA e Esquadrão Chipenda. Era a solução final.

Agostinho Neto decretou a Resistência Popular Generalizada e pediu apoio a Fidel Castro, que montou a Operação Carlota. Antes o Marechal Tito tinha apoiado as FAPLA com armamento. As eleições realizaram-se nos campos de batalha e mais de 90 por cento do Povo Angolano votou no MPLA, lutando contra os invasores estrangeiros. Desde então e até 2002, guerra para cima dos angolanos! 

Em 2008, a Casa dos Brancos exportou a pior crise do sistema. Ainda está tudo falido. Teve origem no mercado imobiliário dos EUA. Os peritos dizem que é a pior crise económica desde a Grande Depressão. Começou em meados de 2007 com a crise do “subprime”, que se agravou com a falência do banco  Lehman Brothers, em Setembro de 2008. 

Os colonialistas genocidas estão filados nos recursos naturais de Angola, desde sempre. Face às falências generalizadas, querem mesmo levar tudo sem pagarem nada. João Lourenço dá uma ajuda à Casa dos Brancos, ante a indiferença da direcção do MPLA.  A direcção do partido tem o dever de honrar o passado e socorrer o Povo Angolano.    

* Jornalista

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