< Artur Queiroz*, Luanda >
A editora Centelha de Coimbra mudou o nome para Fora do Texto e publicou em 1989 o livro Guia Romântico para Senhoras Casadas. Em 1992, saiu a obra Técnicas de Engate. Esta até tem manuais de instruções, um para cada situação. A colecção tem um nome sugestivo: Coisas do Carvalho. Eu sou o autor dos dois livros, uma homenagem à Literatura de Escárnio e Maldizer. Tenho na gaveta o original Deus Anda à Boa Vida e a Polícia Tomou Conta da Ocorrência mas como a editora acabou, dificilmente será publicado. Vou deixar o Padre Eterno em paz, na sua velhice caquética.
A doutora Maria Luísa Abrantes (Milucha), educadora honorária da St. Joseph Indian School, South Dakota, EUA, escreveu ao jornalista Jorge Eurico uma espécie de resposta à sua crónica “O Prisioneiro de Sua Excelência”. O preso em causa é Carlos São Vicente. O excelente é João Lourenço. Já disse e repito quantas vezes for preciso: Desde que vi um porco andar de bicicleta, nada mais me admira. Um dia em Pequim vi três porcos andando na mesma bicicleta. Nada mais, mesmo nada me admira desde então. Até que vi uma bicicleta andar de porco e aí nem as decisões ditatoriais e arbitrárias de João Lourenço me admiram, mesmo estando em rota de colisão com o MPLA, meu partido.
A reposta da educadora honorária
revela um indisfarçável ódio à família de Agostinho Neto e particularmente à
filha do Fundador da Nação, a médica Irene Neto. Vamos fazer mais como? Os
colonialistas genocidas deixaram sementes
Graças aos cursos, recursos e doutoramentos que coleccionou, a doutora Maria Luísa Abrantes descobriu que a AAA Seguros era uma empresa pública e nunca foi colocada na lista de privatizações. Em breve vou concluir uma investigação jornalística sobre o “Caso São Vicente”. Mas informo a educadora honorária que a AAA Seguros nasceu como empresa privada. Teve sempre uma gestão privada. A Sonangol perdeu a posição de accionista maioritária porque vendeu grande parte das suas acções e não foi aos aumentos de capital da empresa.
Faço esta correcção com toda a simpatia. E para provar a minha consideração à doutora Maria Luísa Abrantes, recém-casada, vou oferecer-lhe o meu livro Guia Romântico para Senhoras Casadas. É muito útil. Ensina esposas a criarem extensões maritais. O marido tem falhas? Arranja-se uma extensão que preencha essas lacunas. Ainda há deficiências conjugais? Mais uma extensão, outra e outra. O ciclo fecha-se com uma extensão que faz a ponte de regresso ao marido falível. Um período de descanso e novo ciclo de extensões. É o eterno fluir matrimonial.
Nas eleições de 1992, ainda Maria Luísa Abrantes não era educadora honorária nem doutora, fez campanha agressiva contra o candidato presidencial José Eduardo dos Santos e o partido MPLA. Apresentava-se como uma pobre mulher a quem mataram o marido no golpe do 27 de Maio. Mostrou de forma exuberante a sua ligação ao fraccionismo.
Desgraçadamente o eleitorado só deu um deputado ao partido dos golpistas e, graças a essa eleição, um secretário de Estado no governo de Marcolino Moco (MPLA). Mudam-se os tempos, mudam-se os à vontades. A doutora Maria Luísa Abrantes está bem acompanhada. O casal presidencial também foi fraccionista. E alguns ajudantes do chefe igualmente. O triunfo da traição.
Isaías Samakuva, depois de cumprir o serviço militar nas forças dos racistas de Pretória, apanhou boleia na Paz do Luena e chegou a líder do Galo Negro. Depois da grande tareia militar à UNITA, vieram as tremendas tareias eleitorais. Samakuva foi substituído por Adalberto da Cota Júnior. Agora está de regresso mas desajeitado. Entrou em cena com uma declaração de derrota. Diz que em Angola só há “paz militar”. Como foi ele que, após a assinatura do Acordo de Bicesse, escondeu milhares de homens e as melhores armas em bases secretas do Cuando Cubango, também foi o grande derrotado de 2002.
Rafael Marques, empregado de João Lourenço e sabe-se lá de quem mais, diz que a lei contra as falsas notícias é uma declaração de guerra. Tem razão. Uma declaração de guerra do Jornalismo ao banditismo mediático. Estamos no bom caminho. A fabulosa Imprensa Livre do Século XIX começa a ser honrada. Luísa Rogério tem que dar uma ajuda e não permitir confusões entre o Jornalismo e as actividades das empresas de marketing, comunicação e imagem. Ainda agora o Jornal de Angola apresentou Paula Simons como jornalista quando a senhora exerce, há décadas, actividades absolutamente incompatíveis com o Jornalismo.
O ministro Rui Falcão cometeu um erro gravíssimo. Diz que muitos angolanos que emigraram e se intitulam quadros, não passam de molduras. Não esperava erro tão grosseiro de um dirigente do MPLA. Camarada, elas e eles não passam daqueles preguinhos que servem para pendurar os quadros nas paredes! Preguinhos. E para eles tenho uma informação. Entre 1974 e 1975 os colonialistas genocidas, a mando da Casa dos Brancos, Lisboa, Paris, Bona e Londres desmantelaram Angola. Empresas fechadas. Serviços públicos encerrados. Milhares de quadros técnicos e operários especializados foram embora. E guerra para cima dos que ficaram!
Muitos lutaram de armas na mão. Muitos outros aguentaram todas as privações. Quem não aguentou partiu. Muitos voltaram assim que a condições melhoraram. Outros ficaram nos países de acolhimento. Esses não podem agora reclamar benesses e mordomias.
Se acham que valem alguma coisa, voltem e ajudem a reconstruir Angola (trabalho para cem anos!). Mas fiquem sabendo que em Portugal há 55 mil angolanos registados. Se todos voltarem carregados de licenciaturas, mestrices, doutorices e sejam educadores honorários, não chegam para suprir metade das necessidades da província do Moxico Leste. Por isso a ministra Luísa Grilo tem razão. Temos muitas carências mas só fazem falta os que estão. Foram esses que esmagaram o regime racista de Pretória e puseram fim à rebelião armada de Jonas Savimbi em 2002. Estão a passar mal mas não se rendem!
*Jornalista
Na imagem: Artur Queiroz
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