terça-feira, 26 de abril de 2011

Angola: Discurso do Rei - O maquiavelismo político na sua forma pura




KIAMA NGONGO – ANGOLA 24 HORAS

Nota prévia: a arte de governar pela força (para se manter no poder), e o recurso à guerra como instrumento de domínio (interno ou externo) não se compadece com a democracia. Senhor presidente, o mundo mudou, já só falta o senhor!!!
Alguem um dia escreveu que, no fundo de cada ser humano reside uma besta, e que no fundo de cada besta pode residir um político, essa semana conhecemos uma besta.
O maquiavelismo eduardista, representado no ultimo discurso do “pai da nação”, mostrou mais uma vez a estratégia de antecipação (dos resultados eleitorais) e, a engenharia de construção de dodes expiatórios para justificar os erros de governação e os maus resultados das politicas publicas do MPLA/JES. Num acto de demagógia, com alto teor de cinismo, vitimização e pouca verdade, JES revelou a sua faceta de astuto, cínico, gestor de intrigas, malabarista politico e de fraco orador.
Foi um discurso marcado por disparos anarquícos do tipo eu sou culpado, mas sou inocente, pobres somos todos nós, corrupção existe em todo mundo, os juízes são culpados pela má justiça, os professores pelo insucesso escolar, os polícias pela insegurança, e tantas outras pinóquices que já nos habituou o nosso clarividente. JES revelou nas entrelinhas que algo vai (mesmo) muito mal neste paraíso plantado à beira-mar, chamado Angola, em particular, no seio do MPLA (talves a luta pela sua sucessão ja tenha ganhado contornos de guerra palaciana). JES chegou a passar a idea de que tem estado a ver “vultos” do imperialismo a tomarem de assalto as nossas riquezas e de fantoches a tomarem o poder em Angola (como se não bastasse o que estão a sua volta).
Na integra, foi um discurso desastroso, prepositadamente defensivo, e exaltador de sentimentos como forma de chegar ao eleitor e condicionar a sua decisão (de voto). Teoricamente, tratou-se de um show a eduardo; houve um palco, sanfonas silenciosas de político caducos, um excelente coro de abanos de cabeça, efeitos multimedia, uma multidão de crentes e clientes, e, finalmente um tenor travestido de estadista, que ensinava ao povo como ele se transformou de pobre de peixe podre e porrada se refilar a senhor das camangas e do petróleo. O show repartiu-se em varias fases, a começar;
A nova “oposição” (redes sociais): Alguém já disse: “Nenhuma sociedade subsiste sem um inimigo!”. Sabendo disso, e de que alguns angolanos estão (a tentar) fazer copy paste das revoluções magrebianas, correndo com Moubaraks e Ben Alis, JES alertou que nem todos clicks aqui são válidos, e, que não confundam hackers (na internet) com os combatentes da clandestinidade dos anos 60. E, disse mais ....Devemos estar atentos e desmascarar os oportunistas, os intriguistas e os demagogos que querem enganar aqueles que não têm o conhecimento da verdade.
Temos que ser mais activos do que eles para vencermos a batalha da comunicação da verdade, Traduzindo vamos deletar qualquer ficheiro quem se atreva a cruzar o nosso sistema, aqui não é Windows Vista! Aqui é Windows 85, é preciso saber os comandos certos para navegarem nos nossos servidores! OK! Qualquer tentativa de instalarem um programa aqui, vai dar bum, o mesmo sera considerado virus e por conseguinte vamos lhe deletar.
E, não confundam fucinho com toucinho. Revolucionarios com teclados e mouses aqui nao funcionam. O mais interessante é que o “pai da nação” fez uma crítica feroz as redes socias (internet) colocando em risco o negócio da filha, que de vento em popa vai vendendo as placas de modem para o acesso a internet.
Quais são os argumentos que (esses hackers metidos a revolucionarios) usam? Dizem, por exemplo, que há pobreza no país.
A pobreza. Aqui, começa a pobreza do discurso. Dizer, com a mesma facilidade com que respiramos, que não foi o MPLA nem o seu Governo que a criou, e, que reduziu-se a pobreza de 70% a 36%, é antes mais demagogia do que um discurso eleitoralista. Ok, herdamos a pobreza dos tugas... então porque não diz qual a formula que usou para tirar a sua familia da pobreza e de meia duzia de “iluminados” que todos conhecemos? Como é que o senhor JES explica o império econòmico que ostentam os seus colaboradores mais proximos?
Negar responsabilidades governativas é uma postura com traços pouco democráticos e de um servilismo que não deve ser tolerável no debate político democrático. O discurso foi uma fuga, e, em momento nemhum JES reconheceu ser responsável, ficou sempre no vazio; modelos não vingaram, surgiram os processos democráticos, varios paises escolheram, etc, etc. Não houve sequer um nós fizemos, nós tomamos. Ora! o MPLA/JES têm o Estado angolano como sua quinta, tornou os seus filhos milionários com dinheiro público. Então voces não herdaram a herança do colonialismo? O MPLA tem sim as sua impressões digitais gravadas no actual quadro de miseria que o país apresenta.
Corrupção. A maior manifestação da corrupção em Angola chama-se “Poder Absoluto” do nosso rei. A corrupção em Angola é um instituto legalmente reconhecido (pelo próprio rei). Será que estamos esquecidos do padrinho do cabritismo? Da celebre frase de que “cada um come onde trabalha”? Essa frase instituiu oficialmente a “gatunagem institucional” ou o roubo de estado, se quiserem. A própria Presidência da República foi trasforma numa Central de Corrupção e o país numa sociedade anônima.
Ao afirmar que a corrupção existe em todo lado sem pelo menos explicar como é que ela existe em Angola, é como quem encena uma fuga pra frente, tentando manipular as suas próprias responsabilidades e transferir culpas. Ora, todos sabemos que há muita promiscuidade entre o Estado angolano e os novos ricos, entre o eduardistas e a gestão do erário público. A moioria dos nossos ricos prosperam seus negócios à conta do Estado, salivam a pensar na privatização de tudo quanto ainda restou das UEE’s (Unidade Económica Estatal). Entao JES? Como explicar o enriquecimento acelerado de um pequeno núcleo ligado ao poder quem vão abocanhando os maiores e mais lucrativos negócios do país?
O presidente foi desonesto e turvo na questão da corrupção, porque não teve coragem para explicar o fenómeno da corrupção em Angola, ou pelo menos aceitar que o Estado Angolano foi engolido por ela. Não basta dizer que ela existe em todo mundo, porque nem todo mundo é corrupto. Vá perguntar a vizinha Namibia. A corrupção é um dos pressupostos para se ter milhões em Angola. A propósito, quantos kwachas ou outro oposicionista qualquer estão na gestão da Sonangol, Endiama, BCI, BPC? Quantos oposicionistas são socios dos grandes grupos empresarias? Pelo que eu saiba, a maioria é do partido no poder. Por este e outro aspectos, combater a corrupção é combater o MPLA
Eleições. ninguem vai votar neles.... A oposição tem medo das eleições? Eu diria, talves. São afirmações irresponsaveis como essas de que ninguem vai votar neles que amedrontam qualquer concorrente. Numa deturpação do que é a democracia e o que deve ser o respeito pelos eleitores, JES canta victoria antes do pleito. Para mim isso é “desmiocracia”, o poder dos desmiolados. A proposito quem é que se furtou das eleições presidenciais em 2009? Será que ninguem iria votar nele?
O combate que se avizinha “Devemos estar atentos e desmascarar os oportunistas, os intriguistas e os demagogos que querem enganar aqueles que não têm o conhecimento da verdade. Temos que ser mais activos do que eles para vencermos a batalha da comunicação da verdade”.
Ao endeusar a liberdade de expressão a tal ponto que já ninguém consegue alcançá-la, JES introduz a comunicação da verdade. Qual é então a comunicação da verdade? Aquela que vemos na TPA, no Jornal de Angola e similares? Hum?! Aprendemos que todos são livres de expressar o que quiserem desde que não belisquem a susceptibilidade dos demais. Pelo visto isso vai acabar. O TIC trará o TAC… e, é no TIC TAC que bomba vai explodir.
Finalmente, as reacções não se fizeram esperar. Os terroristas baseados na net e não só chumbaram veemente o discurso porque a mentira em confronto com a realidade, tem sempre as pernas curtas. Mas claro, alguns bajuladores, carregados de descerebrado servilismo partidário, coniventes com o statu quo eduardista, não perderam tempo em considerar o discurso como um discurso competente e com sentido de estado (que talves tambem merecia uma marcha de apoio).
Ora, não basta apregoar que o homem é sério, competente e tem sentido de Estado, quando os fatos contradizem tudo isto. Onde está o sentido de Estado quando um Presidente se verga perante a corrupção, e limpas as mãos que nem Pilatos? Onde está a seriedade quando se engendra um diploma legal com único objectivo de defender os interesses de JES e do seu partido, e sobretudo, para assegurar o status quo que nos conduziu até aqui? Ou quando se protege e confia, até ao limite da palavra, dirigentes que publicamente delapidam o estado angolano. Onde está a competência quando se deixa chegar um país ao estado em que uma estrada é inaugurada hoje e dia seguinte nada mais resta do asfalto.
Kiama Ngongo
ww.kissonde.net

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