sexta-feira, 27 de maio de 2011

Cabo Verde: Para alguns, o regresso ao "banho de caneca", para outros, nada mudou




JSD - LUSA

Cidade da Praia, 27 mai (Lusa) -- A falta de água na Cidade da Praia, que dura há quatro dias, não alterou grandemente os hábitos da população da capital cabo-verdiana, onde o "desenrascanço", para uns, e o dia-a-dia normal, para outros, coabitam na sua plenitude.

Sem água nas torneiras, o popular e tão luso "desenrascanço" é a prova de que apenas é necessário um pouco de imaginação para os que estão a ser mais afetados. Entre a classe média alta, as banheiras estão cheias e os garrafões de cinco litros acumulados, para que o precioso líquido nunca falte.

Basta ter água e surge o tão conhecido mas já pouco utilizado "banho de caneca", que acabou, afinal, por vulgarizar-se nos últimos dias, sobretudo para aqueles que já se tinham esquecido do "luxo" que é ter água nas torneiras de casa, algo que não chega a muitos milhões de pessoas no continente africano.

Mas o facto é que, apesar do corte de seis dias na distribuição de água à capital de Cabo Verde, que congrega mais de um quarto do total do arquipélago, o dia-a-dia da maioria da população praiense pouco ou nada mudou.

No Sarradinho, bairro na Achada de São Filipe, a norte da capital, a quase totalidade da população não tem água nas torneiras, abastecendo-se nos autotanques disponibilizados pela câmara municipal local ou nas raríssimas nascentes com que a "mãe natureza" bafejou os habitantes da zona.

Para os banhos, a população utiliza um alguidar, um balde e uma lata. Entra-se de pé no alguidar, enche-se a lata com a água do balde e despeja-se pela cabeça abaixo.

As crianças são primeiro e é rápido. Que o diga Gilson, de quatro anos, que a Lusa surpreendeu ao final da tarde em pleno "banho de caneca". E é despachado. Com apenas três anos, sabe os passos a dar. Sozinho, lava-se, esfrega-se, molha-se, tudo sem ajuda.

Mais, para o banho basta um balde meio cheio. Dois litros e meio de água, metade de um garrafão, é suficiente. A seguir a Gilson, isso mesmo prova-se quando as irmãs Janira, de oito anos, e Angelina, de seis seguem o mesmo procedimento. Com 7,5 litros de água, estão os três despachados.

A água é bem utilizada e racionada, sem luxos, e a poupança, num arquipélago onde em todos os hotéis é pedida "grande moderação" no gasto/consumo de água, até pode entrar nas contas ambientais.

Paradoxalmente, falta agora saber o que fazer, quando a água voltar às torneiras, daqui a dois dias.

As banheiras nas casas dos bairros novos, os tambores, os depósitos e os garrafões são muitos e está tudo cheio e a vontade de deixar ir tudo pelo cano abaixo aparenta ser a solução.

* Foto em Lusa

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