segunda-feira, 2 de maio de 2011

ESCOLHER O TERRENO




ANTÓNIO PEREZ METELO – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

Parece impossível mas - 37 dias depois de se ter demitido ao ver o "seu" PEC IV chumbado no Parlamento, e 23 dias após ter-se visto forçado a pedir uma ajuda externa que sempre disse querer evitar - José Sócrates e o PS aparecem nas sondagens e na opinião publicada mais fortes do que pareciam estar há mês e meio. Como é possível que isto se esteja a dar? Julgo que tem que ver com as negociações em curso com a troika CE/BCE/FMI.

Não faço ideia se o primeiro-ministro leu alguma vez a Arte da Guerra, de Sun Tzu, mas já o ouvi citar repetidamente um dos famosos aforismos do mítico general: a principal decisão estratégica consiste em escolher o terreno em que se quer travar a batalha. E ele fez a sua escolha desde o princípio do ano: a de negociar o caminho de ajustamento das finanças públicas até ao fim da legislatura com a Comissão Europeia e com o BCE, colocando o PSD na posição de ter de reagir entre duas atitudes desfavoráveis: ou tornar-se mera bengala do Governo, discutindo detalhes do que já estava decidido com as instâncias europeias (já que, a correr tudo de acordo com o estabelecido, não haveria novo pretexto plausível para interromper a legislatura), ou abrir uma crise política de consequências incontroláveis internamente. É essa iniciativa de longo alcance político que, compreensivelmente, foi considerada desrespeitosa pelos social-democratas.

Mas é essa iniciativa, ratificada pelos seus pares no Eurogrupo de 11 de Março, que permite hoje a José Sócrates encontrar-se no centro das negociações e ir gerindo as expectativas cada vez mais alarmadas dos portugueses. As manchetes apocalípticas, que se vão sucedendo diariamente, devem soar a música para os ouvidos dos estrategas do PS: quando se passar ao texto efectivo do "Memorando de Entendimento", com os compromissos nacionais como contrapartida ao financiamento garantido durante os próximos dois a três anos, ver-se-á que a experiência grega e irlandesa pode ter levado a medidas mais moderadas e ajustadas à nossa realidade. E, se o pior for evitado, quem aparece como responsável? E o que dirão PSD e CDS? Que esse acordo é insuficiente? Tudo está em aberto!

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