MB – LUSA
Bissau, 05 mai (Lusa) -- A ONG SOS Criança Talibé da Guiné-Bissau lançou hoje uma campanha de sensibilização, de três dias, para consciencializar os pais sobre os riscos de mandarem os filhos aprender o Corão no Senegal, e de combate ao abandono escolar.
Em declarações à Agência Lusa, Ciro Biai, presidente da SOS Criança Talibé, afirmou que os dois problemas, envio de crianças para o Senegal, onde alegadamente vão aprender o Corão, e o abandono escolar, sobretudo na época da apanha do caju, preocupam a sua organização, por isso decidiu agir.
"Decidimos iniciar uma campanha de sensibilização junto dos pais das crianças, levando nessa ação, os chefes tradicionais, lideres religiosos e as autoridades regionais e do governo central", disse Ciro Biai, ao explicar a ação que irá decorrer na região de Bafatá, zona mais afetada pelo tráfico de crianças.
A iniciativa, que decorre a partir de hoje até sábado, acontecerá em Banbadinca e Cossé, dois locais onde o tráfico de crianças para o Senegal é mais acentuado, sublinhou Ciro Biai.
Para este ativista dos direitos das crianças, o tráfico de menores para o Senegal "já não é motivado por questões religiosas", mas sim "pelas dificuldades de garantir sustento da família".
"Muitos pais têm mais de 20 filhos e geralmente, quando não conseguem sustentá-los, então decidem pura e simplesmente livrar-se dos menores, mandando-os para o Senegal. Quer dizer, fogem das suas responsabilidades", defendeu o presidente da SOS Criança Talibé.
Os pais mandam os filhos para o Senegal com o pretexto de lá irem apreender o Corão. Isto é pelo menos o que dizem para justificar o facto na aldeia onde vivem, mas na realidade sabem que a criança vai para lá trabalhar para os seus supostos mestres corânicos, explicou o presidente da SOS Criança Talibé.
De acordo com Ciro Biai, há ainda um outro problema associado ao tráfico de menores guineenses para o Senegal, o do abandono escolar durante a época da apanha do caju (entre os meses de abril e junho) e o desrespeito dos pais pela importância da escola portuguesa.
"Muitos pais daquela zona (região de Bafatá e Gabu, no leste do país) não querem saber da escola portuguesa para nada. Dizem que preferem mandar o filho para a apanha do caju, porque daí vem o sustento, ou então que a escola portuguesa não vale nada porque os miúdos depois não conseguem emprego", contou Ciro Biai.
"Um senhor de uma aldeia em Bafatá confrontou-me com esta teoria. Disse-me que tem lá em casa dois rapazes que andaram na escola do português, mas nem escrever uma carta conseguem e ainda por cima não têm emprego", acrescentou Biai.
Para uma melhor compreensão do fenómeno, desrespeito pela escola convencional, a SOS Criança Talibé decidiu incluir na comitiva que irá realizar a campanha de sensibilização os técnicos do Ministério da Educação para que "possam ouvir eles mesmos o que o povo pensa do ensino no país", realçou Ciro Biai.
"Para essa gente vale mais mandar um filho apreender o Corão do que mandá-lo para a escola convencional, porque pelo menos depois saberá redigir uma carta em árabe ou poderá ser um Marabout", afirmou Biai, reportando a tese da maioria dos pais que defendem o envio das crianças para o Senegal.
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