MARTINHO JÚNIOR
AS DORES E AS LÁGRIMAS DA SOCIEDADE ANGOLANA
Criar
Agostinho Neto
Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a floresta impúdica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a floresta impúdica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
Lembram-se deste poema, um dos muitos que tornaram Agostinho Neto uma referência para a cultura angolana e universal?
A sua carga moral, cívica e emocional trouxe-nos a todos nós obrigações no imenso resgate que há a fazer em benefício do Povo Angolano e de todos os Povos oprimidos do Mundo, por que a necessidade de resgate continua a haver, a vida continua e como tal, a luta continua…
Com ele posso hoje afirmar aqui e agora, com os nove anos de ausência de tiros, que para se atingir a paz social com dignidade, vontade, compromisso, consciência responsável e rebelde, que necessário se torna criar no homem e com o homem, na medida da condição da natureza deste planeta e tanto quanto o possível evitar-lhe a dor e as lágrimas.
Esta semana foi noticiado o caso do assassinato do artista da Televisão Zimbo, o caso do Manuel Trindade…
Uma mãe angolana perdeu seu filho num assassinato trágico.
A dor do desaparecimento físico do seu filho afinal ninguém pôde evitar à pobre mãe, consumado que foi o crime num ambiente social tão precário e com certeza pejado de ilusões e frustrações como foi o da efémera família de seu filho.
Mas outras dores infelizmente sobrecarregaram-na nas horas difíceis e decisivas:
Como se sentiu esta mãe angolana, quando por 3.000 dólares, conforme as notícias, o seu filho não foi sujeito à operação que o poderia salvar, uma operação que implicava uma corrida contra o tempo na eminência da morte?
Com que ansiedade ela viveu a transferência da Multiperfil para o Hospital Militar Principal, com todos os atrasos que isso implicou até à sala de operações e até à recaída final?
Como se tudo isso não bastasse, o jornal O País junto da notícia principal publicou como foi recebida a sua queixa por ameaças de morte à Divisão Municipal da Polícia da Samba, dias antes da fatídica ocorrência, quando eventuais medidas de prevenção poderiam ter impedido um desfecho da natureza do que viria a acontecer…
Quando nos meios de informação pública se fazem até campanhas massivas para se evitarem os acidentes na estrada, o consumo exagerado de álcool, o consumo exagerado de tabaco, a luta contra a malária, a luta contra a SIDA, etc. parece continuar a haver uma ausência de prevenção contra os traumas que, adicionados àqueles que resultam das guerras prolongadas, são causados por uma sociedade capitalista de “mercados” extremos e com as religiões quantas vezes a lançar ainda mais confusão e diversão!
A Polícia Nacional está muito longe dos cuidados que deve ter para com muitos casos e muitos agentes há que só atendem se os queixosos estiverem dispostos a “largar nota”, “paguem gasosa”, conforme voz do povo.
As mães angolanas por quanto tempo ainda têm de suportar dores que lhes poderiam de outro modo ser-lhes evitadas?
A batalha pela criação, a batalha com sentido de vida, em benefício do homem e com o homem, está muito longe de produzir os seus efeitos, sobretudo por que para muitos o homem não é a prioridade e é simples mercadoria!
Quando as gerações mais antigas consumaram e levaram por diante a sua participação no movimento de libertação, foi para que houvesse resgate, sobretudo o resgate com sentido de vida, para lá da luta contra o fascismo, o colonialismo e o “apartheid”, quando a Pátria Angolana pudesse construir em paz a arquitectura dos sonhos que afinal tão presentes ainda estão!
É preciso criar no homem, com o homem e com todas as prioridades e urgências!
Paga-se demasiado caro o fomento duma sociedade doente: uma factura com uma divisória ainda quantas vezes manchada de sangue, uma factura que se aproxima da morte, afastando-nos da vida!
Martinho Júnior - 01 de Maio de 2011
Mãe queixa-se da Divisão da Polícia da Samba
Esperança dos Santos contou a este jornal que no dia em que foi apresentar a queixa contra a agressora do seu filho no Comando da Divisão da Samba da Policia Nacional foi bem atendida. Mas não aconteceu o mesmo no dia 21, quando tentou saber o número do processo.
“Procurei saber qual era o número do processo e fui informada que ainda não tinha sido constituído. Embora tenha sido ouvida um dia antes, notei que naquele dia os funcionários da secretaria estavam a me abandalhar”, declarou a senhora.
Para ultrapassar a situação, a senhora usou o nome de um oficial superior da corporação que é seu parente para ser atendida prontamente. Só assim é que o caso foi encaminhado novamente aos investigadores que constituíram um novo processo.
Como o chefe do Departamento de Investigação Criminal da Divisão encontrava-se adoentado, a queixosa foi aconselhada a aparecer quatro dias depois. Apesar de ter apresentado a queixa sem o consentimento do seu filho, Esperança dos Santos espera que se faça justiça. Alguns dias antes de falecer, o jovem havia solicitado a sua mãe que não denunciasse o caso para evitar escândalos.
“Este é um crime de difícil prevenção policial, se olharmos pelo facto de ter sido praticado entre quatro paredes. Mas, ainda assim, voltamos a lembrar a todas as pessoas da necessidade de apresentarem queixas sobre qualquer tipo de violência que alguém estiver a viver em casa, principalmente as situações de ameaças de morte, independentemente de quem as fizer”, declarou o porta-voz do Comando Provincial de Luanda, Jorge Bengue.
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