sábado, 25 de junho de 2011

HÓSPEDES DE GUERRA





AZAEL MOYANA – O PAÍS (Moçambique)

As variedades existentes em cada tipo de máscara estão intimamente ligadas à dança  Mapiko, que carrega um significado religioso

As variedades existentes em cada tipo de máscara estão intimamente ligadas à dança  Mapiko, que carrega um significado religioso. É esta dança que será exaltada, este sábado, pela comunidade Makonde, residente em Maputo, durante a celebração dos 36 anos da independência de Moçambique.

Numa diversidade rítmica que caracteriza o Mapiko, cujo som vem de um conjunto de batuques que têm a função de marcar o compasso da dança, comando do movimento dos bailarinos, a comunidade Makonde, residente em Maputo, celebra em apoteose o 36° aniversário da Independência Nacional. Hoje, 25 de Junho de 2011, na frondosa mangueira da zona militar (capela), este grupo étnico empresta o seu talento artístico com um mistifório de Mapiko do bairro Ferroviário das Mahotas, Boane e Manhiça. São cerca de 10 grupos que vão dar corpo à tertúlia. Trata-se, porém, de uma data simbólica, não só para a nação moçambicana, mas, especialmente, para esta comunidade que em datas festivas relativas à revolução concentra-se para exaltar o nome e a memória daqueles que deram sangue por um Moçambique independente.

A festa dos Makondes

Atanásio Nyusi ou simplesmente “Shot”, como é carinhosamente tratado, revelou que “para nós, comunidade Makonde, o dia 25 de Junho são suas datas numa só, primeiro, porque foi a 25 de Junho que houve a unificação de três famosos movimentos políticos, nomeadamente, MANU, UNAMI e UDENAMO, que culminou com a fundação da Frelimo, em 1962. Segundo, por ser o dia em que se conquistou a Independência Nacional. É assim que o Makonde se identifica com esta data, pelo facto de a guerra ter começado na nossa região, porque Tanzania é perto de Cabo Delgado. As pessoas fugiam via Suazilândia, mas o destino era Tanzania e sempre desciam até Cabo Delgado, daí que tal como a história evidência melhor, a comunidade Makonde foi hóspede da Luta de Libertação Nacional”, explicou Shot, para depois acrescentar que “não quero dizer, no entanto, que os outros povos de Moçambique não sofreram com a guerra, e nem tirar mérito a quem quer que seja, mas os makondes viveram ao lado do fogo cruzado entre o colono e a força moçambicana.

Recordo-me que os portugueses, em 1970, meteram a ofensiva ‘‘Nó Górdio”, dirigida por Kaúlza de Arriaga, onde a orientação militar era de eliminar todas as pessoas que tinham tatuagens no rosto, ao invés de capturá-las - essas pessoas eram os Makondes. Esta é uma das razões que fez com que a Frelimo mandasse encerrar as sessões de tatuagens sob pena de se eliminar de vez a comunidade makonde”.

Com um semblante meio desanimado, mas alegre para mais uma sessão de Mapiko, Txot revelou ainda ao nosso jornal que “36 anos depois da guerra, os grupos culturais da comunidade Makonde sentem-se realizados, apesar de o país ser pobre. A realização cai ao de cima, porque o objectivo da luta armada era conquistar o nosso direito de viver livremente, daí que o makonde sempre celebrou as datas festivas que identificam a sua região. O dia 25 de Junho é mais forte para nós, porque nos recorda uma vivência com a guerra, que não estavámos mais a aguentar, sendo que é o 25 de Junho que fez os makondes chegarem à Maputo”.

Por trás do Mapiko

Por outro lado, o nosso interlocutor revelou alguns segredos do Mapiko. Shot conta que na dança Mapiko são usadas máscaras que se dividem em dois tipos: facial (só cobre o rosto) e capacete (que cobre toda a cabeça). “As variedades existentes dentro de cada tipo de máscara realçam o facto das mesmas estarem intimamente ligadas à dança Mapiko, que tem um significado religioso e cerimonial ligado ao ritual de iniciação masculina. O conjunto máscara e dança formam uma coreografia muito rítmica e cadenciada, transmitida pelo dançarino que se apresenta vestido com trajes convincentes, coberto de objectos sonoros (chocalhos), acompanhado por vários percursionistas, criadores dos seus próprios tambores, cobertos de peles de animais. Esta dança tem como pano de fundo um grupo de cantores (homens e mulheres)”, conta Shot, para depois acrescentar que “Mapiko é uma junção de musica, dança, escultura e teatro, representando gradualmente o imaginário relativo à existência do mundo sobrenatural e à convicção na ligação lógica entre o dançarino principal e as suas crenças.

Importa referir que este sábado, a turma dos Makondes começa a amarrar o Mapiko e o ritual começa com a entoação de canções e batucadas, isto por volta das 16h00. É, portanto, nesta altura que a festa entra na sua melhor fase e é nesta altura que o Mapiko sai para espalhar o seu charme artístico.

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