segunda-feira, 27 de junho de 2011

PREMIÊ CHINÊS CHEGA À ALEMANHA SINALIZANDO APOIO AO EURO





Alemanha é a terceira estação da comitiva chinesa na Europa. Antes de chegar a Berlim, governantes chineses já deixaram claro que pretendem apoiar o euro comprando títulos de países europeus.

Acompanhado por uma extensa delegação e pela maior parte de seu gabinete, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, desembarcou nesta segunda-feira (27/06) em Berlim. Depois da Hungria e do Reino Unido, a Alemanha é o terceiro país a ser visitado por Wen em sua turnê europeia.

Ainda nesta segunda-feira, Wen será recepcionado pela premiê alemã, Angela Merkel, em jantar para poucos convidados às margens do lago Wannsee, nos arredores de Berlim. Na terça-feira, os gabinetes dos chefes de governo se encontrarão para as primeiras consultas governamentais sino-alemãs.

Wen viaja acompanhado por 13 ministros. O premiê chinês ainda deverá se encontrar com o presidente alemão, Christian Wulff. Ambos os países consideram esse intercâmbio de alta importância e a crise do euro deve ser um dos temas das conversas entre chineses e alemães.

Mesmo antes do início da viagem do premiê chinês, Pequim já deu sinais de que pretende ajudar países da zona do euro financeiramente debilitados. No contexto da visita de Jiabao, os chineses afirmaram ter grande interesse numa solução para a crise de endividamento na Europa.

O porta-voz do Ministério chinês do Exterior, Hong Lei, declarou esta semana que "a China está disposta a ajudar os países europeus também futuramente" e que uma série de medidas já foram tomadas para impulsionar a cooperação econômica – por exemplo, através da compra de títulos de países da zona de moeda comum.

Em Budapeste, primeira estação da viagem pela Europa, Jiabao declarou aos representantes do governo da Hungria que comprará títulos do país e que a China se vê como uma investidora de longo prazo em papéis de países europeus. "Apoiamos a Europa e o euro", declarou.

Fortalecimento do mercado?

Para o especialista em assuntos chineses Eberhard Sandschneider, diretor da Sociedade Alemã para Política Externa (DGAP), a estabilização do euro é de interesse tanto da Alemanha como da China e deverá ser um tema em Berlim. "Mas não há expectativas de curto prazo de que a China vá ajudar a salvar a Grécia e o euro", acresceu Sandschneider.

Ele lembrou que dívidas estatais não são um tema bilateral entre a Alemanha e a China, mas uma questão multilateral, que a China deve discutir com a União Europeia.

Com mais de 3 trilhões de dólares, sendo um quarto em euros, a China possui as maiores reservas cambiais do mundo. Segundo informações próprias, Pequim já comprou, desde abril, títulos de países endividados da zona do euro no valor de vários bilhões de euros. Para o cientista político Gu Xuewu, da Universidade de Bonn, a visita de Wen tem, nesse contexto, um efeito sugestivo.

"Isso pode vir a fortalecer o mercado. A China não ficará indiferente caso a crise em países da zona do euro se acirrar." A visita do premiê chinês pode sinalizar que não somente o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ajudariam os europeus, mas também uma potência emergente como a China, disse Gu.

Peça na rede de consultas

Com Jiabao viajam 13 ministros do Conselho de Estado chinês para as primeiras consultas governamentais sino-alemãs em Berlim. A Alemanha já mantém reuniões desse tipo com outros países, como França, Espanha, Polônia, Itália e Rússia, mas, no caso da China, esta é um forma completamente nova de cooperação. Para Sandschneider, este encontro de cúpula é, a princípio, uma demonstração mútua de importância.

"A rede de consultas entre a China e a Alemanha já é bem estreita, e agora mais uma peça complementa esse mosaico", disse o especialista Sandschneider. Ele diz que essa nova forma de cooperação faz sentido porque vivencia-se repetidamente que, em tempos de dificuldades políticas, tais formas de cooperação institucionalizada são instrumentos bastante úteis.

Direitos humanos como obrigação

As dificuldades entre a China e a Alemanha começaram quando Merkel recebeu o Dalai Lama na Chancelaria Federal, em setembro de 2007. Pequim viu nisso uma afronta e descreveu a reunião como ingerência em assuntos internos. Na sequência, uma série de reuniões oficiais foram canceladas ou adiadas.

Apenas lentamente, as relações bilaterais se reconvalesceram. Durante sua visita à China, em 2010, a harmonia voltou aparentemente a reinar entre Merkel e Wen Jiabao, durante a visita aos famosos guerreiros de terracota na cidade de Xian.

No entanto, Merkel não perde nenhuma oportunidade de abordar as lideranças chinesas sobre um tema desagradável para elas: os direitos humanos. Até agora, os chineses se restringiram a ouvir tudo pacientemente, mas nada mais. Para o cientista político Gu, os líderes ocidentais se veem na obrigação de abordar o assunto para agradar o público interno, e o governo em Pequim já está acostumado com isso.

"O governo chinês constatou que os líderes ocidentais falam com Pequim sobre os direitos humanos mais por motivos políticos domésticos, não querendo necessariamente forçar a China a melhorar a situação", disse Gu. O resultado é o surgimento de uma espécie de conversa em via dupla: fala-se sobre a cooperação econômica, enquanto se reconhece que há queixas sobre a situação dos direitos humanos.

Opiniões diferentes

Ainda não se chegou a um acordo quanto à eficácia de tais negociações. Dois dias antes da partida de Wen para a Europa, o governo chinês libertou na última quarta-feira o artista e crítico do regime Ai Weiwei. O ativista de direitos humanos Hu Jia também foi libertado.

Alguns observadores veem nessa ação um gesto de aproximação com os europeus. Outros consideram que tal interpretação vai longe demais. Para Jean-Pierre Cabestan, da Universidade Batista de Hong Kong, só o momento de libertação dos ativistas pode ter a ver com a visita de Wen, mas "deve-se procurar a razão para além de uma visita à Europa."

Autor: Haiye Cao / Carlos Albuquerque - Revisão: Alexandre Schossler

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