sexta-feira, 8 de julho de 2011

Brasil – Tragédia: DESLIZAMENTO DE TERRAS EM SP FAZ DOIS MORTOS


Deslizamento de terra na divisa entre São Paulo e Diadema (Daniel Teixeira/AE)

ANDRÉ VARGAS - VEJA

Acidente aconteceu na divisa com Diadema, na manhã desta quinta. Um menino de três anos e uma grávida de 17 morreram; duas pessoas ficaram feridas

Subiu para dois o número de mortos no deslizamento de terra que ocorreu na manhã desta quinta-feira na Estrada da Saúde, no Morro dos Macacos, em São Paulo, próximo à divisa com Diadema. Bombeiros resgataram, por volta de 16 horas, o corpo do menino Yohan de Jesus, de três anos, que estava desaparecido. A mulher grávida que morreu no acidente foi identificada como Tamires dos Santos Ferreira, de 17 anos. O adolescente Igor, de 15 anos, irmão de Yohan, foi resgatado com vida. Uma menina de 16 anos também foi retirada do local por moradores. Ambos sofreram ferimentos leves e já foram liberados do hospital.

O deslizamento ocorreu por volta de 11h30, atingindo nove casas. Destas, três foram completamente destruídas. Bombeiros permanecem no local, apesar de não haver informações de outras vítimas. Os próximos passos serão a ajuda na estabilização do terreno e, posteriormente, a retirada das equipes do local. De acordo com o coronel Jair Paca de Lima, coordenador-geral da Defesa Civil,  dez casas serão demolidas e 59, interditadas. Segundo Paca de Lima, há risco de novos deslizamentos.

Ao todo, sessenta bombeiros de São Paulo e de Diadema, em vinte viaturas, trabalharam na operação de resgate, com apoio de três cães farejadores. Yoham estava na cozinha na hora do deslizamento. O resto da família estava no quarto. Abalada, a mãe dos meninos, Gisela Souza, não conseguiu acompanhar o resgate. O avô das crianças, Pedro Tadeu de Jesus, estava no local. "Vi pela TV e vim correndo para cá". 

Marido de Tamires, o pintor Tiago Pinho Rocha, de 17 anos, estava fora de casa trabalhando na hora do acidente. A mãe, que morava com o casal, também estava no trabalho. Tamires estava sozinha. "Eu liguei direto para ela, mas ela não atendeu", disse, desolado. O jovem contou que eles estavam procurando uma casa para morar. Já tinham sido avisados pela prefeitura que moravam em área de risco. "Ninguém quer ficar. Estamos aqui por falta de opção. Só que eles não podiam ter continuado as obras antes de todo mundo sair", afirmou.

Depois de perder tudo no acidente, Tiago deve ir com a mãe para a casa de uma tia. Ele diz não ter sido procurado pela Defesa Civil até agora. 

Causas - A primeira suspeita sobre as causas do acidente recaiu sobre as obras de urbanização da prefeitura de São Paulo, que estão sendo feitas no local há um ano. A prefeitura descarta essa possibilidade e diz que o acidente ocorreu por causa da "geologia instável" - o terreno, íngreme, tinha muita terra solta. Somente a perícia vai poder definir o que houve. 

Paca de Lima, da Defesa Civil, afirmou que existe a hipótese de a água despejada das casas que ficam acima da obra ter escorrido até a encosta e formado, ao longo dos dias, um bolsão que provocou a movimentação da massa de terra.

Os moradores, no entanto, têm outra teoria. Aline Hanna Silva, prima de Yohan, morto no deslizamento, e de Igor, que ficou ferido, contou que, há três semanas, os moradores da parte de baixo do morro sentiram as paredes e os móveis de casa sacudirem enquanto os operários movimentavam tratores. Eles teriam ido até o canteiro reclamar e pedir que não fossem mais usadas máquinas na obra.

Cerca de 2.000 famílias moram na parte do bairro Eldorado onde fica o local atingido pelo deslizamento. Segundo a prefeitura, a área, de mananciais, foi ocupada irregularmente nos anos 1980. Das 500 famílias que estavam em área de risco, 422 já foram removidas e 80 não foram retiradas ou não quiseram sair. "Não sabemos ainda a causa do acidente", disse o secretário municipal de habitação, Ricardo Pereira Leite. 
   
Pânico – A dona de casa Andressa Arquelina Carmo Marques, de 22 anos, escapou por pouco da tragédia. Ela estava em casa com os dois filhos, um menina de 3 anos e um menino de 1 ano e meio, quando ouviu um estrondo. “Pensei que a casa estava caindo”, contou. “Tentei abrir a porta da cozinha, mas não consegui. A terra travou a porta.” 

O filho de Andressa estava na cama e chegou a ser atingido pela terra, mas ela conseguiu pegá-lo no colo e, com a ajuda dos vizinhos, saiu de casa com as crianças, a salvo. O imóvel teve as paredes destruídas pela força da terra.

Andressa mora no local há três anos e disse que, em 2009, houve um deslizamento na região. Ela vive no térreo do sobrado da sogra, a costureira Maria Edna Soares, de 41 anos, que está decidida a abandonar o bairro: “Não entro em casa nem para pegar minhas roupas. Vou embora.”

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