PEDRO TADEU – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião
As classes dirigentes do lado ocidental do planeta puseram-se de acordo sobre a forma como deveriam pôr os trabalhadores - os pobres e a classe média - a pagarem a crise em curso, mas estão divididas sobre como pedir sacrifícios aos ricos.
Para os primeiros, inventam-se impostos extraordinários, sobem-se as cobranças nas taxas ordinárias, deteriora-se a protecção social e os serviços do Estado. Mesmo com protesto nas ruas, onde o há, o poder aplica cruamente estas medidas em nome de um imperativo interesse nacional.
Para os segundos, a discussão eterniza-se, inconclusiva: sobre a metodologia a seguir, sobre a inutilidade dessas medidas, sobre a definição do grau de riqueza, sobre o tipo de riqueza a taxar, sobre o perigo da fuga de capitais, sobre a proporção do esforço que se deve pedir aos ricos, sobre o perigo para a economia, sobre a demagogia e, até, injustiça da sua aplicação. Volta mesmo o mais estúpido dos argumentos: os pobres (e a esquerda) são uns invejosos!
O nosso lado provinciano, entretanto, descobriu que não temos ricos em número suficiente para pagar impostos extraordinários que se vejam, coitados de nós! Soa-me, é verdade, isso a bizarro quando desfolho, na revista Caras, fotos de casas de luxo ou quando observo automóveis a desfilar debaixo da janela onde trabalho, na Avenida da Liberdade em Lisboa, o centro financeiro deste país. Mas devo conformar-me e, talvez, aceitar que quem tem dinheiro para conduzir um carro de 150 mil euros não é rico, é vaidoso, e esse pecado católico nem paga imposto.
Bastou, em Portugal, Américo Amorim dizer que não era rico, era trabalhador, para a inicial - e igualmente provinciana - unanimidade favorável à aplicação de uma ideia de um multimilionário norte-americano passasse a ser zurzida pelos cronistas da paróquia. Isto apesar da evidência de que se o esforço da comunidade para combater a crise não for verdadeiramente solidário entre todas as classes sociais, serão os próprios ricos vítimas disso.
Amorim, de facto, trabalha muito e tem todo o direito de orgulhar-se disso e de marcar a diferença que o separa de outros afortunados que não criam riqueza alguma. Amorim é o homem mais rico de Portugal por mérito, por esforço, por talento, por capacidade. Merece todo o respeito. Mas, como cidadão português, como patriota, deveria defender que cada português participe no esforço de salvação do País na proporção directa das suas possibilidades financeiras. Incluindo ele próprio.
Esta discussão não é, portanto, técnica e, muito menos, ideológica. É, apenas, moral.
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