MARTINHO JÚNIOR
A “CONFERÊNCIA DO PENTÁGONO PARA ÁFRICA”
A 3 de Maio último chamei a atenção para o facto dos Estados Unidos estarem a fazer evoluir o “arco de crise” na direcção oeste, para dentro do continente africano (O “arco de crise” em direcção a África).
Dois meses depois as evidências estão-se a impor, como se tacitamente, numa “outra Conferência de Berlim” à maneira do império e em pleno século XXI, estivesse em curso a “Conferência do Pentágono para África”.
No que eu chamo de “Conferência do Pentágono para África” o esforço de ingerência militar funciona em alguns casos como aríete da pressão, o que significa dizer que quer o AFRICOM, quer a OTAN, constituem a “indispensável ossatura” no sentido das transformações da conveniência da hegemonia.
África todavia está sujeita a outro tipo de ingerências articulares e nervosas muito mais difusas mas também omnipresentes, quer pela via económica e financeira dos poderosos “lobbies” tentaculares em função dos interesses sobre o petróleo e o gás (predominância republicana) e sobre as indústrias de exploração mineral (predominância democrata), quer pela via ideológica-política tirando partido entre outras vocações colectadas, dos conceitos fundamentados em Karl Popper, interpretados pelo tandem James Baker – George Soros e experimentados com as “revoluções coloridas” na Europa do Leste, no Cáucaso, na Ásia Central, no Médio Oriente e no nordeste africano.
Os Estados Unidos na “Conferência do Pentágono para África” estão a reduzir as potências europeias a instrumentos dos seus interesses e conveniências, em especial a Grã Bretanha, a França, a Itália, a Espanha e Portugal.
A Grã Bretanha, quaisquer que sejam os governos de turno, tem-se comportado como um inveterado aliado das sucessivas administrações norte americanas, pois os interesses económicos e financeiros dos bancos de família que compõem a aristocracia financeira mundial têm pé histórico no Reino Unido, como nos Estados Unidos (a matriz é a mesma).
A França, particularmente a partir da chegada ao poder de Sarkozy, abandonando em África as políticas tradicionais do “pré carré”, tem integrado as suas próprias geo estratégias no quadro dos esforços geo estratégicos norte americanos na profundidade da Europa do Leste, do Médio Oriente, da Ásia Central, do Nordeste Africano, do Norte de África e ainda da África Ocidental, utilizando não só a manobra político-diplomática, como também o esforço militar dentro e fora da OTAN.
A Itália, tendo em conta os contextos aparentemente distintos mas geo estrategicamente interligados da Líbia, da Eritreia, da Etiópia e da Somália (suas antigas colónias), tem sido, com Berlusconni, subserviente dos norte americanos, a ponto de renunciar à sua ligação com Kadafi.
Quer a Espanha, quer Portugal, têm ido “por arrasto”, na medida em que a crise a que estão sujeitos se vai aprofundando, garantindo outra frente ao Pentágono para lidar com o continente africano: ali onde se esbate a influência francófone, perdura a influência ibérica, mais fácil de se inter relacionar, em termos de elites com poder político e económico, em África e sobretudo em Angola.
A única potência Europeia que contrasta é a Alemanha, com interesses muito importantes no Leste da Europa e que tem vindo a abster-se em relação a África, tirando partido dos contextos que possui principalmente na África Austral, conjugados pelo quadro do “lobby” dos minerais (África do Sul, Namíbia e agora com alguma expectativa em relação a Angola).
Entre 15 de Fevereiro e 15 de Março de 2010, uma força tarefa aero-naval da Alemanha realizou na África do Sul, conjuntamente com meios militares sul africanos, o exercício “Good Hope IV”, o maior em que essa potência europeia participou depois da IIª Guerra Mundial e fora do âmbito da OTAN.
Na reportagem de AB Sthembiso Makuleni no “site” da South Africa Navy, em relação à cobertura da Iª semana desse exercício bilateral, considerou-se:
“From 15 February to 15 March the seas and skies surrounding Cape Town will be used to conduct military exercises between the South African National Defence Force and German Task Force Group. EXERCISE GOOD HOPE IV is a large-scale, bi-national and joint exercise between the South African Air Force (SAAF), South African Navy (SAN), German Navy and German Air Force which is also the largest exercise undertaken by the German Task Force Group outside of its North Atlantic Treaty Organisation obligations.
The exercise aims to enhance and maintain a comprehensive defence capability within the South African National Defence Force. This also creates a maritime interaction opportunity for the German Navy and Air Force as well as the SA Navy and Air Force. The exercise further enhances the close and trustful partnership that exists between Germany and South Africa”.
Se com os interesses do petróleo e do gás a Alemanha, devido aos seus inter relacionamentos com a Rússia, possui uma geo estratégia própria na direcção da Europa do Leste, perdendo com a guerra em curso na Líbia, no quadro do “lobby” dos minerais, num continente como África (onde esse “lobby” é historicamente muito activo), é sensível a sua aproximação à África do Sul e Namíbia, favorecendo o contra peso da África Austral em relação ao resto do continente, um contrapeso mais visível com o contencioso líbio e com a emergência da África do Sul ora integrada pelos BRICS.
A hegemonia está a chocar sobretudo com os interesses da China e da Rússia, quer na Líbia, quer no Sudão, quer por fim na Síria, durante a presente 1ª etapa das operações.
Os factores da crise manipulados pelos Estados Unidos e seus aliados-fantoche, uma vez que a disputa pelo controlo do petróleo e do gás se tornou geo estrategicamente tão importante, podem ser alargados à Argélia numa etapa intermediária, para numa 2ª etapa atingir o Golfo da Guiné, sobretudo a Nigéria e Angola.
II
Todo o Nordeste Africano e parte do Norte de África está a sofrer os efeitos da 1ª etapa de acções tácitas do que considero como “Conferência do Pentágono para África”, protagonizadas pelos Estados Unidos e seus aliados-fantoche europeus, por uma razão óbvia fundamental: o exercício geo estratégico do seu poder hegemónico, imperial, sobre o petróleo e o gás dessa região, está interligado e é extensivo às geo estratégias em curso nas vastas regiões interconectadas do Médio Oriente e Ásia Central.
Essa é uma das razões para ensaios como o mapa de Holly Lindem em que se redesenha o Médio Oriente, a Ásia Central e uma parte do Nordeste Africano, integrando esta região última no espectro prospectivo dos interesses hegemónicos sobre o petróleo e o gás (“13 christians killed in Egypt; balkanizarion taking place” – http://aangirfan.blogspot.com/2011/03/6-christians-killed-in-egypt.html).
Entre os analistas que melhor se têm debruçado sobre este assunto está Michel Chossudovsky do Global Research do Canadá, que em “A operação líbia e a batalha pelo petróleo” (http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23605), evidenciou ao dissecar as questões geo estratégicas que se prendem ao “caso líbio”:
… “Mais na generalidade, o que está em causa é o redesenho do mapa da África, um processo de redivisão neocolonial, o descarte das demarcações da Conferência de Berlim de 1884, a conquista da África pelos Estados Unidos em aliança com a Grã-Bretanha, numa operação conduzida pelos EUA-OTAN”…
(…)
“A interferência dos EUA na África do Norte redefine a geopolítica de toda uma região. Mina a China e ensombra a influência da União Europeia.
Esta nova redivisão da África não enfraquece apenas o papel das antigas potências coloniais (incluindo a França e a Itália) na África do Norte. Ela também faz parte de um processo mais vasto de deslocamento e enfraquecimento da França (e da Bélgica) sobre uma grande parte do continente africano.
Regimes fantoches dos EUA foram instalados em vários países africanos que historicamente estavam na esfera de influência da França (e Bélgica), incluindo a República do Congo e o Ruanda.
Vários países na África Ocidental dentro da esfera da França (incluindo a Costa do Marfim) estão destinados a tornarem-se estados proxy dos EUA.
A União Europeia está fortemente dependente do fluxo de petróleo líbio.
Oitenta e cinco por cento do seu petróleo é vendido para países europeus.
No caso de uma guerra com a Líbia, a oferta de petróleo à Europa Ocidental poderia ser interrompida, afetando grandemente a Itália, França e Alemanha, as quais estão fortemente dependentes do petróleo líbio.
As implicações destas interrupções são de extremo alcance.
Elas também têm relação direta sobre o relacionamento entre os EUA e a União Europeia”.
No Nordeste de África há regimes que constituem fantoches dos Estados Unidos, como a Etiópia e o Sudão do Sul e outros que, provenientes de suas influências neo coloniais francófones estão “automaticamente integrados”, como o caso do Djibouti.
A Etiópia está de tal maneira alinhada com as ingerências dos Estados Unidos que, apesar das dificuldades sócio-económicas do país, as suas forças armadas têm sido utilizadas para a contenção das resistências na Somália à instalação dum regime neo liberal afeiçoado aos interesses norte americanos.
A Etiópia é também importante para os Estados Unidos, uma vez que é em Adis Abeba que está instalada a sede da União Africana e é Adis Abeba uma séria candidata à instalação da sede do AFRICOM.
A religião etíope é a cristã copta, pelo que nesse aspecto, tendo em conta os contenciosos em curso que promovem poderosos impactos da hegemonia sobre os árabes e o islamismo, é um facto não negligenciável no Egipto e no Sudão.
Em “La balcanización de Sudán: Un nuevo diseño para el Oriente Medio y el Magreb” (http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=22736), Mahdi Darius Nazemroaya revela:
“Las conexiones entre los ataques contra los egipcios coptos y el referéndum en el Sur de Sudán.
Desde Iraq a Egipto, los cristianos del Oriente Medio están siendo atacados a la vez que se alimentan las tensiones entre musulmanes chiíes y sunníes.
El ataque contra la iglesia copta en Alejandría del 1 de enero de 2011, o las consiguientes protestas y disturbios coptos no deben considerarse como hechos aislados.
Ni tampoco la consiguiente furia de los cristianos coptos manifestada contra los musulmanes y el gobierno egipcio.
Estos ataques contra los cristianos están vinculados con los objetivos más amplios geopolíticos de EEUU, Gran Bretaña, Israel y la OTAN en Oriente Medio y en el Mundo Árabe.
El Plan Yinon estipula que si se dividiera Egipto sería también más fácil balcanizar y debilitar a Sudán y Libia.
En este contexto, hay un vínculo entre Sudán y Egipto.
Según el Plan Yinon, los coptos o cristianos de Egipto, que son una gran minoría en este país, son la clave para la balcanización de los estados árabes en el Norte de África.
Así, el Plan Yinon afirma que la creación de un estado copto en el Alto Egipto (Sur de Egipto) y las tensiones entre cristianos y musulmanes dentro de Egipto son pasos vitales para balcanizar Sudán y el Norte de África.
Los ataques contra los cristianos del Medio Oriente son parte de las operaciones de inteligencia que tratan de dividir Oriente Medio y el Magreb.
El momento en el que se producen los crecientes ataques contra los cristianos coptos en Egipto y el lanzamiento del referéndum en el Sur de Sudán no son una mera coincidencia.
Los acontecimientos en Sudán y Egipto están vinculados unos con otros y son parte del proyecto para balcanizar el Mundo Árabe y el Oriente medio.
Deben también estudiarse en relación con el Plan Yinon y con los acontecimientos en el Líbano y en Iraq, así como respecto a los esfuerzos para crear una escisión entre chiíes y sunníes”.
Por isso e por causa do petróleo e do gás, é sensível para o jogo de interesses a independência do Sudão do Sul, dividindo o Sudão entre muçulmanos e cristãos.
O Sudão do Sul buscará a exportação do petróleo e do gás por via dum oleaduto que já está em fase de projecto e se dirigirá a Mombaça, no Quénia, a fim de evitar a exportação via Port Soudan.
O redesenho do mapa de África será acompanhado também com o desenhar de novos oleadutos e gasodutos.
O Sudão foi o primeiro dos conflitos no âmbito da distensão do “arco de crise” na direcção do oeste e para dentro do continente africano.
Está a ser também dos conflitos mais decisivos para o Nordeste de África, influenciando na eclosão das situações de crise para dentro do Egipto e da Líbia, como da crise na direcção da Somália.
O regime de Karthum não teve a criatividade suficiente para fazer face às tensões crescentes no sul e tornou-se incapaz de fazer frente aos interesses da hegemonia sobre o seu próprio petróleo e gás.
Em “La ofensiva de USA en África”, o analista Jesus Chucho Garcia (http://alainet.org/active/48112), explica:
“Sudan y la nueva repartición de África.
No es casual, ni por obra religiosa del conflicto entre musulmanes y cristianos, que se haya producido la repartición de Sudan entre el Norte y el Sur.
La estrategia del Pentágono fue clara desde hace mucho tiempo con sus estudios prospectivos de recursos energéticos en África subsahariana: dividir este continente por sus recursos energéticos creando nuevos territorios o, en este caso, crear una nueva República, Sudan del Sur, donde están las mayores reservas petroleras de ese país, cerca de un 75% y los mejores recursos naturales.
Desde hacia tiempo el afroamericano y exsecretario de Estado Collin Power y el General Scott Gration venían trabajando en ese proyecto global como lo hizo para Irak, Etiopia-Somalia-Djibuiti e intentó en Cuba, Bolivia y Colombia.
Son estrategias globales que al imperialismo le está dando fruto y resultados concretos ante la crisis energética mundial, donde la Agencia Internacional de Energía (AEI), ante la escases de petróleo a tenido que disponer para este mes sesenta millones de barriles de petróleo de sus reservas para solventar la crisis de abastecimiento que se les creo con la Invasión a Libia.
Ellos saben de la potencialidad petrolera de la Nueva Sudan del Sur.
Obama en su salutación al nuevo gobierno sudanés el sábado 9 de julio expresó: Estoy seguro de que los lazos de amistad entre el sur de Sudán y Estados Unidos sólo profundizará en los próximos años. Como Sur Sudanés emprender el trabajo de construcción de su nuevo país, Estados Unidos se compromete en la búsqueda de la seguridad, el desarrollo y nuestro Gobierno puede cumplir con sus aspiraciones y respetar sus derechos humanos.
El Pentágono y el Departamento de Estado de USA para Sudan del Sur ya definieron sus puntos clave para entrar en cintura a este país a través de USAID:
1-Crear un entorno propicio para la promoción de la inversión privada en el sur del Sudán;
2-Fortalecer el sector agrícola para convertirse en un verdadero motor del crecimiento en el Sudán meridional;
3-Desarrollar una plataforma común en la estructura institucional de la comunidad internacional a participar en este nuevo país; y
4- Construir el capital humano necesario para gobernar y prestar servicios”.
Os mestres dos fantoches apoiam dissidentes contra os seus próprios fantoches?
Chama-se a isto alavancagem política, fabricação de dissidentes. O apoio a ditadores bem como a oponentes do ditador como um meio de controlar a oposição política.
Estas acções da parte da Freedom House e do National Edowment for Democracy, por conta das administrações Bush e Obama, asseguram que a oposição da sociedade civil financiada pelos EUA não dirigirá suas energias contra os mestres do fantoche por trás do regime Mubarak, nomeadamente o governo dos EUA.
Estas organizações da sociedade civil financiadas pelos EUA actuam como um Cavalo de Tróia o qual fica incorporado dentro do movimento de protesto. Elas protegem os interesses dos mestres do fantoche. Elas asseguram que o movimento de protesto das bases não considerará a questão mais vasta da interferência estrangeira nos assuntos internos de estados soberanos”.
O Djibouti passou a ser, além de base francesa, base norte americana, não só para as operações na Somália e no Iémen, mas também para melhor controlo das rotas marítimas no Índico Norte, na costa do Iémen, na costa da Somália e no Mar Vermelho (acessos ao Suez).
O regime do Djibouti, testado durante décadas pelo “pré carré”, não teve dificuldades no “novo alinhamento”, até por que passou a receber compensações financeiras adicionais às que já possuía.
Para além dos estados fantoches mas à sua amplitude, os Estados Unidos, não perdendo a influência, alteraram o tipo das ingerências no Egipto, assumindo um papel activo, com a utilização de grupos de pressão ao nível das “revoluções coloridas” que integraram a onda de protestos no derrube de Mubarak, a fim de instalar uma “democracia representativa” dócil e submissa ao seu “diktat”.
É também Michel Chossudovsky, sob o titulo “O movimento de protesto no Egipto: ditadores não ditam, obedecem a ordens”, que a análise se ajusta aos postulados geo estratégios da hegemonia para a Ásia Central, Médio Oriente e Nordeste-Norte de África (www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=22993).
Sobre os fantoches que se levantaram contra Mubarak perfazendo a figura de “cavalo de Tróia” no Egipto, escreveu Chossudovsky nesse artigo:
“Os mestres dos fantoches apoiam o movimento de protesto contra os seus próprios fantoches.
Os mestres dos fantoches apoiam dissidentes contra os seus próprios fantoches?
Chama-se a isto alavancagem política, fabricação de dissidentes. O apoio a ditadores bem como a oponentes do ditador como um meio de controlar a oposição política.
Estas acções da parte da Freedom House e do National Edowment for Democracy, por conta das administrações Bush e Obama, asseguram que a oposição da sociedade civil financiada pelos EUA não dirigirá suas energias contra os mestres do fantoche por trás do regime Mubarak, nomeadamente o governo dos EUA.
Estas organizações da sociedade civil financiadas pelos EUA actuam como um Cavalo de Tróia o qual fica incorporado dentro do movimento de protesto. Elas protegem os interesses dos mestres do fantoche. Elas asseguram que o movimento de protesto das bases não considerará a questão mais vasta da interferência estrangeira nos assuntos internos de estados soberanos”.
Se fosse possível apontar uma seta a partir da tensão do “arco de crise” que se expande para oeste, para dentro do continente africano, a partir da Ásia Central e Médio Oriente, o ponto de intercepção da seta na corda do arco, o que designo como ponto ómega que impulsiona o lançamento da seta, seria precisamente a posição físico-geográfica do Egipto.
A hegemonia programa a longo prazo as suas acções, pelo que sob os pontos de vista cronológico, físico geográfico e geo estratégico é importante analisar a oportunidade da queda do regime Mubarak comparativamente aos sucessos da eclosão da independência do Sudão do Sul (a sul do ponto ómega) e do ataque ao regime de Kadafi na Líbia (a noroeste do ponto ómega).
A análise da evolução da situação em função dos programas afectos à hegemonia não ficaria completa se não levássemos em conta a Eritreia e a Tunísia.
A Eritreia é dos poucos estados que no Nordeste de África procura a independência e dos poucos estados africanos que se voltou para si próprio tirando partido do movimento de libertação que o animou durante de décadas a fim de escolher o seu próprio destino separando-se da Etiópia.
Os Estados Unidos mantêm em relação à Eritreia uma posição de hostilidade e a Eritreia não pode deixar de fazer valer o facto de ser o portão para o Mar Vermelho da Etiópia que ficou um país interior.
A relativa independência da Eritreia é, sob os pontos de vista físico-geográfico e geo estratégico, perfeitamente condicionada e controlável.
A Tunísia é por si um verdadeiro teste à morte das políticas do “pré carré”.
Até ao fim do regime de Ben Ali, a Tunísia foi um aliado preferencial da França num inter-relacionamento ultra conservador que se identificava com o momento post-colonial, mas com a eclosão dos levantamentos populares e o fim desse regime, o que ocorreu quase em simultâneo ao fim do regime de Mubarak no Egipto, a guinada de alinhamento com os interesses da hegemonia tem agora a sua oportunidade.
O processo da Tunísia está em curso e a instalação da “democracia representativa” sustentando governos de turno desenha-se nos próximos horizontes.
Sobre a Líbia, para além do que já escrevi, importa levar em conta o papel de teste em relação à União Africana, com sua balcanização, ou mantendo a actual configuração físico-geográfica.
Com o “caso líbio” o Pentágono e os seus aliados-fantoches europeus e africanos medem as repercussões em outras nações produtoras de petróleo e gás tanto na OPEP, como no resto do continente.
Isso é tanto mais importante quanto a seta que está a ser disparada pelo “arco de crise” do Médio Oriente e Ásia Central está apontada ao alvo da região super estratégica do Golfo da Guiné e África Central, riquíssima em recursos de petróleo e gás, como de minérios estratégicos, água interior e ambientes tropicais que compõem o segundo pulmão do planeta, a bacia do grande Congo.
A Costa do Marfim foi o primeiro sintoma e a Nigéria, apesar do federalismo, pode ser uma das próximas fragmentações.
Em “A estrada para a guerra” (http://www.counterpunch.org/roberts08012011.html), Paul Craig Roberts adianta sobre o Golfo da Guiné:
… “Os investimentos petrolíferos da China em Angola e na Nigéria eram outro dos objectivos.
Para conter a penetração económica da China na África, os EUA criaram o American African Command nos últimos anos da primeira década do século XXI.
Perturbado pela ascensão da China, os EUA procuraram impedir a China de ter fontes de energia independentes.
O grande jogo que no passado sempre levou à guerra está a ser jogado outra vez”.
Para Angola, de acordo com a abordagem deste tipo de cenários prospectivos, a questão de Cabinda, assim como as tendências de fragmentação no leste, podem vir a ser empoladas em simultâneo com os esforços no quadro duma “revolução colorida” adaptada, tirando partido tanto da clivagem entre famílias dominantes como das manipulações contraditórias em curso na sociedade angolana (tirando partido do foço das desigualdades, à maneira dos interesses e conveniências norte americanas, ou seja, sem pôr em causa, antes reforçando, a lógica capitalista).
No Golfo da Guiné e África Central candidatos à balcanização e à separação há contudo vários outros: a fragmentação da República Democrática do Congo pode tornar-se fulcral para o redesenhar do mapa de África à maneira dos interesses da hegemonia e correspondendo à “Conferência do Pentágono para África”…
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