quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Relações da Líbia com sul de África serão mais agressivas, diz investigador da Guiné-Bissau




FP - LUSA

Bissau, 24 ago (Lusa) -- As relações da Líbia com os países a sul do Sahara, nomeadamente a Guiné-Bissau, vão mudar, principalmente "o olhar, que vai ser crítico e agressivo", defende o professor Fafali Koudawo, reitor de uma universidade na Guiné-Bissau.

Doutorado em Ciências Políticas, reitor da universidade Colinas de Boé, investigador de origem togolesa, reconhece que a Líbia de Khadafi investia muito na Guiné-Bissau mas também diz que isso era apenas "uma infinitésima parte" do que era investido noutros países, como o Senegal ou o Burkina Faso.

Em entrevista à Agência Lusa, quando questionado sobre como serão as relações da Líbia com a Guiné-Bissau, numa altura em que os rebeldes reivindicam a tomada de Trípoli, respondeu: "As relações da Líbia com África não vão ser as mesmas nos futuros anos".

E explica que os rebeldes "até agora não têm nenhuma relação positiva com o sul do Sahara", pelo que vão olhar para os países da região com desconfiança, conotados que estão com o Khadafi, de quem recebiam apoio.

Mas também porque foram os rebeldes que decidiram, "até de uma maneira arrogante", ignorar a União Africana (UA), que com eles se quis encontrar e que eles sempre recusaram. "A UA foi humilhada pelo Conselho Nacional de Transição (rebeldes), que dizia que era um clube de gente que recebe dinheiro de Khadafi".

Na verdade, lembra, a UA foi criada tendo como um dos seus mentores o próprio Khadafi, e foi criada em Sirte, terra natal do coronel líbio.

Mas não só. Diz Fafali Koudawo que muitos sul-saharianos foram mortos na Líbia na zona controlada pelos rebeldes, "porque toda a gente que tinha pele escura era considerada mercenária a soldo de Khadafi".

Depois é preciso não esquecer que são pessoas que vão chegar ao poder "com a bênção do ocidente, da Europa, Estados Unidos, Nato, e vão ter de ter relações privilegiadas com esse clube antes de olhar para o sul, que é considerado por eles ainda não digno de confiança".

O sul do Sahara foi a última aposta de Khadafi, que começou por tentar "conquistar" o mundo árabe, depois os países vizinhos e só depois os países do sul do continente, onde investiu financeira e politicamente, "ocupando espaços" e criando relações íntimas com muitos deles, a Guiné-Bissau incluída.

Neste jogo político a Guiné-Bissau pouco representa e "com certeza se as relações mudam com o resto do continente mudam também com a Guiné-Bissau", que não perde muito em relação ao que perdem outros países mas que mesmo assim representa bastante tendo em conta as fragilidades do Estado.

"Mas um país deve saber substituir as suas fontes de receita. Penso que neste caso a Guiné-Bissau já reatou melhores relações com a comunidade internacional e saberá tirar proveito do facto de ter de novo um olhar positivo da comunidade internacional", defendeu.

Até agora a Líbia tem sido um dos principais parceiros da Guiné-Bissau, com apoios que vão da ajuda orçamental a equipamentos, alimentação, formação e bolsas para peregrinos se deslocarem a Meca.

Desde a posse de Malam Bacai Sanhá como Presidente foram vários os aviões que chegaram ao país carregados de computadores, geradores, viaturas e outro material.

Questionado sobre se a Guiné-Bissau e o seu Presidente deviam tomar uma posição, Fafali Koudawo garante que um país deve sempre posicionar-se de maneira construtiva, tendo nomeadamente em conta a liberdade, não apoiando um regime que é hediondo para o seu próprio povo.

*Foto em Lusa

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