sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ásia e Pacífico - Não só o céu cai em cima da cabeça como o chão foge de baixo dos pés




RENATA HOSTINSKÁ – i ONLINE

No ano passado mais de 30 milhões de pessoas viram-se obrigadas a fugir das suas terras devido a desastres ambientais, como tempestades e inundações, diz um relatório do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD). Muitas delas acabaram por voltar para casa. Outras nunca mais poderão regressar. A zona da Ásia e do Pacífico está a preparar-se para a possibilidade de milhões de pessoas terem de vir a abandonar as suas casas e partir para portos mais seguros - nos seus países ou mesmo além-fronteiras - enquanto os padrões climáticos se tornam mais extremos.

Ao mesmo tempo, a pressão demográfica aumenta: a população da região anda agora em torno de 4 mil milhões de pessoas, ou 60 por cento da população mundial. E continua a crescer. A equação de alterações climáticas que degradam os recursos naturais e as terras aráveis e o crescimento populacional está a ameaçar aquela zona do planeta. E a forçar migrações.

Com a destruição da agricultura de subsistência, a erosão dos solos, a degradação dos recursos naturais, os habitantes das aldeias mudam-se para áreas urbanas já de si lotadas. Em 2020, 13 das 25 megacidades do planeta estarão situadas na Ásia e no Pacífico, sobretudo em zonas costeiras, diz o BAD.

Muitas dessas megalópolis estão construídas em zonas vulneráveis da costa, o que aumenta a população em risco. Mesmo que os eventos climáticos extremos não se tornem mais frequentes, milhões de pessoas sofrerão o impacto directo da subida do nível do mar ao longo deste século. No passado, os habitantes de determinada região recolheriam os seus bens mais preciosos e partiriam para algum lugar mais adequado. Nas infra-estruturas gigantescas actuais junto ao mar, com milhões e milhões de pessoas a viver em regiões ameaçadas (como o Bangladesh ou o Vietname), tal solução deixa de ser viável.

Os países da Ásia e do Pacífico serão afectados pela mudança climática de maneiras diferentes, criando vários cenários de migração, sendo a transfronteiriça das mais prováveis, numa região que já é a maior fonte de migrantes internacionais do mundo.

De acordo com os analistas, em 2050 haverá 200 milhões de migrantes climáticos na região da Ásia e do Pacífico. Exactamente numa zona do globo que já é das mais afectadas pelo impacto das mudanças climáticas: a subida de temperatura, as mudanças nos padrões de precipitação, a intensidade das monções. Tudo isto resulta em inundações, tufões, ciclones tropicais mais fortes.

"A migração passará a ser uma grande resposta adaptativa às mudanças climáticas e será acrescentada ao nível crescente e cada vez mais complexo da mobilidade populacional na região", afirma Bart W. Edes, director da Divisão de De-senvolvimento Social, Pobreza e Género do BAD, no site da organização.

De acordo com os cientistas, só nos primeiros seis meses de 2011 já houve mais desastres naturais que na maior parte dos anos anteriores a 2006. Oito dos 15 países com maior risco de vir a enfrentar três ou mais desastres naturais estão na Ásia e no Pacífico. Se falarmos em dois desastres naturais, então o número é ainda mais dramático, já que metade dos 60 países em maior risco estão nesta zona do planeta.

Excepto a Austrália e a Nova Zelândia, nenhum outro país tem uma categoria especial para definir este tipo de imigrante, que deixa o seu país por causa da subida do nível do mar ou da erosão costeira.

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