MANUEL ANTÓNIO PINA – JORNAL DE NOTÍCIAS, opinião
Dirigentes escolares dizem que a coisa é "escandalosa" mas - confirma o Ministério - "perfeitamente legal". E o director da Faculdade de Medicina do Porto não tem outro remédio senão dizer o mesmo: a situação é "legal, mas injusta e pouco transparente".
É o golpe do baú em versão acesso ao Ensino Superior. Como nas Novas Oportunidades, quem quiser ser médico em suaves prestações e sem esforço mas não tiver unhas para conseguir os 18 ou 19 valores exigidos para entrar em Medicina só tem que ser portuguesmente "esperto". Em vez de se matar a estudar durante os longos anos do Secundário, espera até fazer 18 risonhas primaveras, matricula-se no Ensino Recorrente em algum colégio privado (onde as propinas custam literalmente uma "nota") e faz o Secundário de empreitada: um aninho e "tá feito". E sem qualquer avaliação externa.
O director de um desses colégios - que, só por sua conta, forneceu este ano às faculdades de Medicina vários alunos com 20 valores no Secundário liofilizado - explicou ao "Público" o truque da via estreita para o sucesso. Até se podem, por exemplo, fazer só cadeiras de línguas em vez de ciências, o que sempre tem uma vantagem em relação às Novas Oportunidades: os futuros médicos receitarão Penicilina e não Penissilina.
Tudo "dentro da lei", ao contrário de outro extraordinário caso português de sucesso rápido, o de Alves dos Reis, que optou estupidamente pela ilegalidade.
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