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O vice-presidente da associação Transparência e Integridade, Paulo Morais, afirmou, esta quinta-feira, que grande parte dos impostos que os portugueses pagam estão a "derreter" em mecanismos de corrupção.
"Grande parte dos cerca de 80 mil milhões de euros que o Estado gasta por ano é derretido em mecanismos de perfeita corrupção, alguns dos quais são bem conhecidos", salientou Paulo Morais, em entrevista à agência Lusa.
Segundo Paulo Morais, "bastará focar o aspecto das parcerias público-privadas", nomeadamente a renegociação com as concessionárias das antigas SCUT, que fez com que os portugueses passassem a pagar duplamente mais: em portagens e em impostos para pagar autoestradas que vão ficar ainda mais caras.
O professor universitário de estatística e ex-vice-presidente da Câmara do Porto classificou o exemplo das SCUT "claramente um caso de prejuízo com dolo do Estado português por parte de um conluio entre quem negoceia em nome do Estado e os concessionários que obtiveram a concessão".
"Através de um mecanismo pomposa e eufemísticamente chamado de disponibilidade diária das estradas, garantir rentabilidades da ordem dos 14, 15% dos concessionários sobre preços que, por sua vez, já eram elevados, independentemente do tráfego, é perfeitamente inadmissível", considerou.
Para Paulo Morais, a eventual cessação das novas condições acordadas para as ex-SCUT "é uma questão que tem de ser tratada com urgência, porque por cada mês que passa são milhões de euros que o povo português perde para pagar a uns senhores que conseguiram, à custa da conivência de pessoas no Estado, garantir rendas verdadeiramente obscenas".
O vice-presidente da secção portuguesa da Transparência Internacional voltou a acusar a classe política portuguesa de se ter transformado numa "mega central de negócios", onde reina a promiscuidade entre pessoas que, alternadamente, são titulares de cargos públicos e administradores de grupos empresariais fornecedores do Estado.
"Não faz sentido que os portugueses paguem tantos impostos. Não faz sentido que uma pessoa que leva no fim do mês 700 e tal euros para casa custe à sua empresa, por uma questão fiscal, 1.600", defendeu.
Segundo Paulo Morais, a diferença entre o custo real do trabalhador e o salário que recebe vai em parte para serviços que os cidadãos utilizam, mas também "vai muito dele para mecanismos de corrupção".
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