ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
Há meia dúzia de dias o líder da Juventude do ANC, Julius Malema (foto), foi considerado culpado no Supremo Tribunal de Joanesburgo, de incitamento ao ódio racial.
Malema foi acusado por uma associação cívica representando um sector da comunidade branca afrikaner, de incitar ao ódio racial por entoar canções (entre outras manifestações) com as palavras “Morte ao Boer” e “Disparem sobre o Boer” em comícios partidários.
Num longo acórdão, o magistrado fez uma resenha da História sul-africana e da luta pelos direitos e liberdades individuais e colectivas, salientando repetidamente que o racismo não pode ser defendido sob qualquer pretexto e que os direitos das minorias devem ser escrupulosamente respeitados, sob o risco de se criarem condições para genocídios.
De facto, de vez em quando a tensão racial na África do Sul atinge níveis preocupantes, sobretudo porque os supostos discípulos de Nelson Mandela esqueceram os seus universais ensinamentos. É pena.
Dos seguidores do dirigente racista branco sul-africano Eugene Terreblanche nada há a esperar. Nada de válido. O mesmo não se pode dizer de Julius Malema (foto), que parece cada vez mais um Eugene Terreblanche negro.
Julius Malema, entre muitas outras tentativas de lançar gasolina para a fogueira, continua a insultar Nelson Mandela, esquecendo – por exemplo – que o ex-presidente sul-africano, pai da pátria e Nobel da Paz, que passou 27 anos nas cadeias sul-africanas por ousar resistir ao regime de minoria branca, afirma que "está nas nossas mãos criar um mundo melhor para todos os que nele vivem".
O ano passado, por exemplo, Julius Malema regressou às copas das árvores e resolveu insultar e ameaçar um jornalista da BBC durante uma conferência de imprensa.
O jornalista confrontou Malema com a vida de luxo por ele usufruída, ao mesmo tempo que condenava a riqueza dos brancos. O líder da juventude do ANC, mostrando o seu nanismo intelectual, não gostou e respondeu, visivelmente irritado.
“Não venhas para aqui com essas tendências brancas. Aqui não. Podes fazê-lo noutro lado. Aqui não! Se tens uma tendência para minar negros mesmo no teu trabalho, estás no local errado! Estás no local errado! E podes sair. Põe-te a andar!”, disse o membro do ANC.
Perante a estupefacção dos presentes na conferência de imprensa, Malema partiu para o insulto mostrando que, de facto, está mais perto de Robert Mugabe do que de Nelson Mandela.
“Lixo é o que tu tens nas calças! Isso é que é porcaria O que tens nas calças é que é porcaria. Ouviste? És um miúdo, não sabes fazer nada”, disse o líder da juventude do ANC, bem ao estilo de Eugene Terreblanche e dos seguidores.
O jornalista começou a arrumar o material para retirar-se e murmurou que não tinha ido ali “para ser insultado”.
“Fora daqui! Sacana!”, vociferou Julius Malema.
Registe-se também, porque ao contrário de Julius Malema, o Congresso Nacional Africano (ANC, no poder) tem gente que pensa com a cabeça certa, condenou em tom enérgico a forma como o presidente da sua Liga Jovem, se dirigiu ao jornalista da BBC.
Em comunicado, o ANC salientou que “o comportamento agressivo e insultuoso em relação ao referido jornalista (Jonah Fisher), e que o levou a abandonar a conferência de Imprensa, não pode de forma alguma ser aceite pelo partido”.
“O comportamento em questão, do presidente da Liga Jovem do ANC, não está de acordo com a cultura e tradições, bem com o código de conduta de um quadro e líder do ANC. Nenhum tipo de alegada provocação dirigida a Julius Malema poderia justificar tal resposta”, diz o comunicado
Falta agora saber se Julius Malema vai continuar a publicamente mostrar que é, pelo menos, tão racista quanto foi em vida Eugene Terreblanche, ou se vai regressar ao local de onde nunca deveria ter saído e no qual devem estar igualmente os discípulos de Terreblanche: uma jaula do jardim zoológico.
*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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