WOLFGANG MUNCHAU - ECONÓMICO
O que começou por ser um problema de dívida nos pequenos países periféricos da zona euro ameaça agora a existência da moeda única.
Os líderes europeus não viram a tempestade que se aproximava, não foram capazes de recapitalizar suficientemente o sistema bancário e, quando idealizaram o fundo de estabilização financeira, criaram um mecanismo que apenas pode servir os países pequenos. A sua estratégia fracassou.
Em termos puramente técnicos, a crise da zona euro ainda pode ser resolvida. A criação de ‘eurobonds', apoiadas por uma união orçamental, é quanto basta. Em alternativa, o Banco Central Europeu (BCE) pode alargar o seu programa de compra de obrigações. Ambos os caminhos exigem reformas orçamentais e financeiras. Uma opção mais modesta é reforçar o FEEF. Das várias propostas avançadas, destaca-se um aspecto em comum: teria de ser alavancado para poder operar além do tecto estabelecido de 440 mil milhões de euros.
Os aspectos técnicos são complicados, quer ao nível legal e financeiro quer ao nível político. Isto apesar de o verdadeiro problema ser político. Até recentemente, Angela Merkel reiterou que não haveria ‘eurobonds'. Entretanto, o tribunal constitucional alemão emitiu uma decisão que lhe reduziu ainda mais a margem de manobra política. O debate centrou-se integralmente no que não pode ser feito: não às ‘eurobonds', não à monetização, não aos resgates, não à ruptura, não a isto e àquilo.
Enquanto o mundo discute os próximos passos para resolver a crise, as autoridades europeias ainda se debatem com a implementação da ratificação de alterações menores ao FEEF, acordadas pelo Conselho Europeu a 21 de Julho, e com o debate perverso sobre as garantias exigidas pela Finlândia. Em suma, a política europeia não descola.
Porém, e mesmo que os líderes europeus chegassem a acordo sobre todos os passos necessários para solucionar a crise, só poderiam resolvê-la quando provassem cabalmente que têm total apoio político. Não é provável, pelo menos por enquanto. Para isso, Angela Merkel terá de fazer muito mais do que dizer, uma e outra vez, que o colapso do euro levará ao colapso da Europa. Terá de aceitar comprometer o seu futuro político.
Entretanto, as restrições ao crédito na Europa e o prolongado abrandamento económico global ameaçam mergulhar a zona euro numa nova recessão. Para romper este círculo vicioso, o BCE tem de baixar as taxas de juro e adoptar uma política de financiamento ilimitado a longo prazo. Os governos têm de começar rapidamente a recapitalizar o sistema bancário. A União Europeia desperdiçou dois valiosos anos com ‘stress tests' fraudulentos que puseram em causa a credibilidade da Autoridade Bancária Europeia, da Comissão, dos bancos centrais nacionais e respectivos reguladores. Se tomarmos em linha de conta o abrandamento económico, a subcapitalização dos bancos europeus poderá rondar os 500 mil milhões de euros.
Para lá do muito curto prazo, a zona euro vai ter de assegurar uma alavanca comum ao sistema bancário, não só para bancos transfronteiriços como também para todas as instituições financeiras sistemicamente importantes. Esse sistema deve contemplar supervisão, regimes de resoluções e garantias de depósitos.
No curto prazo, os líderes europeus terão de decidir o que fazer em relação à Grécia, recapitalizar o sector financeiro e ajustar o FEEF de acordo com uma estratégia clara para o futuro da zona euro. Uma solução de curto prazo pode ter impacto positivo junto dos mercados durante uns dias, mas não vai resolver a crise.
- Tradução de Ana Pina
*Wolfgang Munchau, Colaborador do "Financial Times"
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