DANIEL OLIVEIRA – EXPRESSO, opinião, blogues
Já tenho a boca seca e os dedos gastos de dizer e escrever a mesma coisa: Portugal vai renegociar a sua divida. É só uma questão de tempo. E isso acontecerá em 2012 ou, o mais tardar, em 2013. Porque, nas atuais circunstâncias, esta dívida é impagável e a única coisa que os credores esperam é esmifrar o devedor até ele estar completamente seco. E preparam-se para o incumprimento, tal como fizeram com a Grécia.
Não tenho nenhuma capacidade premonitória, apesar de, com mais algumas pessoas, incluindo alguns economistas marginalizados, sentir por vezes que ando a pregar no deserto. Apesar dos apelos para o fazer enquanto a nossa economia não entrou em colapso terem sido tantas vezes vistos como um apelo ao calote. Agora, a evidência entrou pelos olhos da opinião mainstream. E até já o primeiro-ministro o reconhece. E quando Passos Coelho compreende uma coisa, quer dizer que essa coisa pode ser entendida por toda a gente.
E esta é uma das partes mais estranhas desta crise: a propaganda é de tal forma poderosa e o desnorte é de tal forma generalizado, que até aquilo que entra pelos olhos dentro de um leigo informado é tido como um absurdo até à vespera de se confirmar. E essa é uma das razões porque nos vamos enfiar num buraco sem fundo: negamos qualquer solução até ela deixar de o ser, por ser tarde de mais. Este processo de negação coletiva resulta, nuns casos, de cegueira, noutros de oportunismo. Oportunimo porque há quem queira aproveitar esta crise para, perante um ambiente de "estado de sitio", impor o seu programa ideológico: argumentando com uma suposta insustentabilidade do modelo social europeu, reduzir o papel social do Estado, privatizar quase tudo a preço de saldo e mudar as leis laborais.
Vou então continuar a pregar no deserto: Portugal, se a Europa não arrepiar caminho (e não há qualquer sinal de que o fará), vai acabar por sair do euro. E se esse destino se confirmar, mais vale, antes de acabar o processo de destruição da nossa economia, preparar-se para isso. E sair a tempo de, no meio dessa tragédia social, económica e política (que é, apesar de tudo, reversível), tirar disso algum proveito. A única vantagem, no meio de tantas desvantagens, de sair do euro, é a de usar o instrumento da desvalorização monetária para competir em vez da desvalorização da economia. Mas de nada servirá se, quando chegarmos a esse ponto, já não houver nada para salvar.
Nada do que aqui escrevo, sendo obviamente muito discutível, é escandaloso para quem, mesmo disscordando, esteja minimamente informado sobre o que se está a passar na Europa e em Portugal. Acontece que, mais do que uma suspensão da democracia e do contraditório, parece haver um acordo para a suspensão da inteligência. E quando é possível ouvir, da boca de uma pessoa com as responsabilidades de João Salgueiro, que basta olhar "para os carros que por aí andam" para perceber que os portugueses ainda não estão a fazer sacrifícios a sério, percebe-se até onde está a ir a poupança de neurónios. O debate político e económico não está a ser estupidificado por qualquer incapacidade congnitiva nacional. Manter a conversa ao nível do "taxista" (que me perdoe tão nobre classe profissional pela força de expressão) faz parte da lavagem aos cérebros a que estamos a assistir.
E esta é uma das partes mais estranhas desta crise: a propaganda é de tal forma poderosa e o desnorte é de tal forma generalizado, que até aquilo que entra pelos olhos dentro de um leigo informado é tido como um absurdo até à vespera de se confirmar. E essa é uma das razões porque nos vamos enfiar num buraco sem fundo: negamos qualquer solução até ela deixar de o ser, por ser tarde de mais. Este processo de negação coletiva resulta, nuns casos, de cegueira, noutros de oportunismo. Oportunimo porque há quem queira aproveitar esta crise para, perante um ambiente de "estado de sitio", impor o seu programa ideológico: argumentando com uma suposta insustentabilidade do modelo social europeu, reduzir o papel social do Estado, privatizar quase tudo a preço de saldo e mudar as leis laborais.
Vou então continuar a pregar no deserto: Portugal, se a Europa não arrepiar caminho (e não há qualquer sinal de que o fará), vai acabar por sair do euro. E se esse destino se confirmar, mais vale, antes de acabar o processo de destruição da nossa economia, preparar-se para isso. E sair a tempo de, no meio dessa tragédia social, económica e política (que é, apesar de tudo, reversível), tirar disso algum proveito. A única vantagem, no meio de tantas desvantagens, de sair do euro, é a de usar o instrumento da desvalorização monetária para competir em vez da desvalorização da economia. Mas de nada servirá se, quando chegarmos a esse ponto, já não houver nada para salvar.
Nada do que aqui escrevo, sendo obviamente muito discutível, é escandaloso para quem, mesmo disscordando, esteja minimamente informado sobre o que se está a passar na Europa e em Portugal. Acontece que, mais do que uma suspensão da democracia e do contraditório, parece haver um acordo para a suspensão da inteligência. E quando é possível ouvir, da boca de uma pessoa com as responsabilidades de João Salgueiro, que basta olhar "para os carros que por aí andam" para perceber que os portugueses ainda não estão a fazer sacrifícios a sério, percebe-se até onde está a ir a poupança de neurónios. O debate político e económico não está a ser estupidificado por qualquer incapacidade congnitiva nacional. Manter a conversa ao nível do "taxista" (que me perdoe tão nobre classe profissional pela força de expressão) faz parte da lavagem aos cérebros a que estamos a assistir.
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