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Mindelo, 20 Dez (Lusa) - O Presidente cabo-verdiano defendeu hoje, no Mindelo, que uma "dor muito doída" se apossou de todos os cabo-verdianos, no país e na diáspora, com a morte de Cesária Évora.
No Palácio do Povo, durante as cerimónias fúnebres da cantora cabo-verdiana, falecida no sábado, Jorge Carlos Fonseca disse que o país parou hoje para chorar e "para se irmanar e se fortalecer" na dor pela perda da artista.
"São Vicente, Cabo Verde e o mundo estão de luto. A diva deixou-nos", referiu o chefe de Estado, acrescentando que "Cesária Évora foi um dos raros seres que conseguiu erguer, a nível emocional, uma síntese quase perfeita entre o quase nada e a totalidade universal".
Cesária Évora "foi uma deusa terrena que, a partir da noite do Mindelo, da qual sempre foi parcela integrante, iluminou o mundo, carregou a dor, o sofrimento, os anseios, as alegria, os amores e os desamores da nossa gente, de todos nós", afirmou.
Referindo-se à vida da artista, Jorge Carlos Fonseca lembrou que foi "difícil por vezes, mas rica e vivida com perseverança, grande humildade e extraordinária generosidade", mesmo depois da sua consagração.
"Na impossibilidade de retribuirmos à Cesária o quanto ela nos deu, apenas podemos aprisioná-la nos nossos corações, torná-la deusa feita música, de um país sofrido, combalido, mas eternamente grato a quem tanto fez para dar razão ao poeta que um dia disse 'mon pays est une musique'", acrescentou.
"A grande intérprete de boa parte dos nossos melhores compositores, a voz que nos levou a todos na garupa de Cabo Verde a todos os cantos do mundo, provando que na arte as fronteiras inexistem e que a humana linguagem da emoção não conhece barreira foi, como diria Frank Cavaquim, a esperança mais certa que temos, a eternidade", concluiu.
O ministro da Cultura, Mário Lúcio Souza, argumentou que o país ficou mais rico com o legado de Cize, diminutivo por que também era designada.
Ao discursar em nome da comunidade artística e em representação do governo, Mário Lúcio Sousa lembrou que os europeus descobriram Cabo Verde em 1640 - em 1975 "nós nos descobrimos", precisou -, mas que o mundo descobriu a alma cabo-verdiana com Cesária Évora.
"Cesária Évora é Cabo Verde", concluiu.
A cerimónia oficial, com honras de Estado, decorreu num dos salões do Palácio do Povo, reservado apenas aos familiares, às entidades nacionais e locais, ao corpo diplomático e a convidados.
As cerimónias tiveram início com o coro da Escola Secundária Jorge Barbosa, que entoou o hino nacional e a morna "Sodade", música emblemática de Cabo Verde, eternizada na voz de Cesária Évora.
Ao lado da urna branca, coberta com a bandeira nacional, os artistas presentes despediram-se de Cize interpretando quatro temas, um dos quais, "Moda bô", da Lura, música que a artista gravou juntamente com "a diva dos pés descalços".
Do Palácio do Povo e suas cercanias, onde São Vicente em peso se concentrou esta tarde para o adeus à Cize, os restos mortais seguiram para a Catedral, para a missa de corpo presente, celebrada pelo bispo do Mindelo, Dom Ildo Fortes.
Dali, o cortejo seguiu para o cemitério de São Vicente, onde o corpo de Cesária Évora foi dado à terra no início da noite.
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