domingo, 15 de janeiro de 2012

Catroga justifica nomeações para a EDP com ligações a Macau, excepto a de Celeste Cardona



Público

Em entrevista ao Expresso

Os nomes propostos para o conselho geral e de supervisão da EDP, conhecidas no domingo, motivaram acusações de interferência política ao longo da semana. Eduardo Catroga, em entrevista ao Expresso, justifica cada uma das polémicas nomeações com ligações ao Oriente e a António Mexia. Todas, menos a de Celeste Cardona.

“Não sei como é que o nome [de Celeste Cardona] aparece. Nos outros nomes encontrei a lógica a Macau, nesse não sei se tem”, afirma o antigo ministro das Finanças (do terceiro Governo de Cavaco Silva). Foi esta resposta de Eduardo Catroga, depois de os jornalistas do semanário terem insistido três vezes na nomeação de Celeste Cardona.

Na primeira pergunta em que é questionado sobre a antiga ministra da Justiça (do Governo de coligação PSD-CDS liderado por Durão Barroso), Catroga começa por admitir que “houve surpresas”, mas deixa cair o nome de Celeste Cardona. Prefere falar sobre a ausência de Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros dos governos de José Sócrates, que diz ter estado na lista inicial – “e eu achei óptimo”, diz.

Na segunda, é questionado se os nomes como os de Celeste Cardona e de Paulo Teixeira Pinto o surpreenderam. “Teixeira Pinto já foi membro do CGS [conselho geral e de supervisão], não me surpreende”, responde. “E Celeste Cardona?” Eduardo Catroga: “Não faço comentários. Não sei como é que o nome aparece”.

“Eram caras que os chineses conheciam”

Além de Celeste Cardona, de Teixeira Pinto e do próprio Catroga, as nomeações de Vasco Rocha Vieira, Ilídio Pinho e Jorge Braga de Macedo também causaram polémica. “Comecei a perguntar-me, porquê este nome? Tinha lógica do ponto de vista dos chineses, eram caras que eles já conheciam”, observa.

“E foi esse o critério, que também foi utilizado na remodelação do conselho executivo. Pessoas que se dão muito bem com o presidente executivo, António Mexia, e que os chineses conhecem. Estou a falar de Marques Cruz, um homem de Macau e que já andava a falar com os chineses antes da privatização. Miguel Stilwell foi quem analisou do lado da EDP as propostas industriais. Foi ele que discutiu com os chineses. Eles conheciam-lhe a cara”, sublinha.

Para o conselho geral e de supervisão, diz Eduardo Catroga, o critério foi idêntico. “Rocha Vieira tem todo o sentido, foi o último governador de Macau. Ilídio Pinho também tem ligações a Macau e é accionista da EDP. Braga de Macedo [tal como Catroga, ministro das Finanças do terceiro governo de Cavaco Silva] aparece, na minha opinião, porque tinha ligações com a Ásia e com a China.”

Sobre a própria nomeação, para a presidência do conselho, Eduardo Catroga diz ter sido convidado “pelos accionistas de referência da EDP”, negando qualquer contacto com membros do Governo sobre este assunto. “Inicialmente falaram-me os três principais accionistas portugueses – grupo Mello, grupo Espírito Santo e BCP – e eu disse que estava disposto se o presidente do CGS passasse a ser independente dos accionistas, ao contrário do que acontecia. Quando a Three Gorges ganhou a privatização, voltaram a perguntar-me se estava disponível para falarem disso aos chineses.”

“Quando houve a assinatura, o chairman da Three Gorges convidou-me para almoçar. Disseram-me que eu tinha o perfil adequado: era independente, já estava há seis anos no CGS, era conhecido no meio financeiro e económico e tinha um bom currículo”, recorda. Sobre a sua independência política, em resposta ao “conflito ético” denunciado pelo PS, Catroga lembra ainda: “Eu nem sou do PSD”.

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