Correio do Brasil, com Prensalatina - de Havana
Ao comemorar 53 anos da Revolução, com o ingresso triunfal do exército guerrilheiro comandado por Fidel Castro, Ernesto Che Guevara, Raúl Castro, hoje presidente de Cuba, e Camilo Cienfuegos, em Havana, em 8 de janeiro de 1959, data comemorada neste domingo, o país encontra-se imerso na atualização de seu modelo econômico. O processo foi desenhado para garantir a continuidade e o fortalecimento do sistema socialista adotado pela ilha.
No Ano Novo de Janeiro daquele mesmo ano, a luta armada que tivera início quatro anos antes deslocou a velha filosofia que promovia a qualidade de vida de um reduzido grupo com o poder econômico e político e mudou o status das grandes massas despossuídas. O sistema capitalista se viu confrontado com a real possibilidade do comunismo triunfar no continente americano.
Essas transformações se conformam num palco hostil, considerando que sete em cada 10 cubanos nasceram sob os efeitos do bloqueio econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos contra a ilha, medida unilateral que tem limitado profundamente o desenvolvimento do país. No entanto, o governo estabelecido propôs-se superar a pobreza herdada durante mais de 400 anos de colonialismo, apesar da hostilidade dos vizinhos norte-americanos.
Uma das primeiras medidas de benefício social foi a Lei da Reforma Agrária, que proscreveu o latifúndio com a nacionalização das propriedades de mais de 402 hectares e entregou a terra a dezenas de milhares de camponeses. A ação acentuou a hostilidade de Washington, pois companhias norte-americanas possuíam importantes propriedades e interesses tanto no campo como em outros setores do país caribenho.
Seguiram-lhe outras de corte progressista, entre elas uma campanha que em pouco mais de um ano converteu Cuba no primeiro território livre de analfabetismo da América Latina. Cifras oficiais indicam que em 1959 só existiam 25 mil titulados, faltavam escolas para mais de meio milhão de crianças, 10 mil professores estavam sem trabalho; era quase inexistente o ensino médio e cerca de 30 por cento dos cubanos não sabiam ler nem escrever. Em contraposição, com o início do curso escolar 2011-2012, no dia 5 de setembro, abriram suas portas mais de 60 universidades da ilha, com uma matrícula de cerca de 500 mil alunos, segundo publicou o site Cubadebate.
Na atualidade, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconhece que 99,8% dos cubanos maiores de 15 anos sabem ler e escrever. O direito ao trabalho, à saúde, à cultura e ao esporte também se converteram em premissas da sociedade cubana; pela primeira vez, um governo preocupou-se em eliminar os obstáculos herdados da pseudo-república tais como a drogadicção, o crime organizado, a prostituição e o abuso infantil. A este respeito, a Assembléia Nacional do Poder Popular aprovou no final do ano que para 2012, mais de 17 bilhões de pesos serão destinados a educação, saúde, cultura e outras esferas sociais, montante que supera a metade das despesas previstas na atividade orçada da ilha.
Cifras oficiais indicam, ademais, que a taxa de mortalidade infantil no país se encontra abaixo de cinco para cada mil nascidos vivos e a esperança de vida é de 78 anos. As políticas empreendidas desde o próprio ano de 1959 fazem possível que Cuba mostre hoje logros face aos objetivos das Nações Unidas para 2015.
– Em Cuba, as metas previstas na Declaração do Milênio têm sido cumpridas praticamente em sua totalidade e em alguns casos superadas com sobras – afirmou o chanceler Bruno Rodríguez no ano passado ante a plenária de Alto Nível da ONU.
Rodríguez assinalou também que o compromisso do país caribenho ultrapassa suas fronteiras, ao contribuir com o desenvolvimento social de outras nações do Terceiro Mundo. Na ordem interna, Cuba, atualmente com 11,2 milhões de habitantes, também conseguiu sucessos culturais e esportivos que a situam ao nível dos países desenvolvidos. Obteve o segundo lugar nos Jogos Pan-americanos Guadalajara-2011, com 58 medalhas de ouro, e defende o acesso pleno à cultura e ao esporte no meio de importantes desafios econômicos, políticos e sociais.
Anos de crises econômicas nos 90, dificuldades de liquidez e dívida com provedores internacionais, obrigaram Havana a ajustar seus planos econômicos e a potencializar a eficiência empresarial. Estas iniciativas vieram acompanhadas de medidas, tais como a entrega em usufruto de terras e a ampliação do trabalho por conta própria, que já emprega quase 360 mil pessoas. Enquanto em 2010 o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 1,9% em relação ao anterior, para o fechamento deste se vislumbra um aumento de 2,7%. De qualquer forma melhor, mas ainda abaixo do valor projetado de 3%. O descumprimento do plano de construção e montagem para investimentos foi apontado pelas autoridades como a causa do não cumprimento integral da meta privista.
No final de ano os cubanos receberam a boa nova de que o turismo, a locomotora da economia, marcou recorde de visitantes ao superar os 2.531.745 visitantes do período anterior. Para 2012, o país prevê um incremento de seu PIB de 3,4%, projeção aprovada pelo Parlamento. Assim mesmo, a luta contra a corrupção e a ineficiência converteu-se em eixo essencial do governo do presidente Raúl Castro. Hoje, quando muitos países sofrem as conseqüências da crise financeira internacional e continua a hostilidade contra a ilha, Cuba está disposta a fazer o esforço para seguir adiante e conservar os benefícios de mais de meio século de socialismo.
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