Carlos Morais José – Hoje Macau, opinião, editorial
Doze anos passaram. E equivocam-se os que pensam e afirmam ter Macau perdido a sua identidade, pois nunca ela foi tão forte, na sua diferença, na sua originalidade e até, se quisermos, na presença da lusofonia. Sobretudo, se pensarmos na qualidade dessa presença. Finalmente livre do fantasma de ter sido administração deste território, a comunidade portuguesa encontra hoje um espaço de criatividade e afirmação, longe da modorra histérica de Portugal, que a relança como farol da contemporaneidade no Macau de hoje e do futuro.
Os portugueses são a Europa da cultura, do bom gosto e também da normalidade nas relações, como mais nenhum outro povo ocidental aqui conseguiu ou conseguirá. Trazemos a literatura e o vinho. A liberdade e o estilo. Eventualmente, o amor… Que mais se pode pedir a um povo que se desloca de um lado ao outro do mundo?
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Doze anos depois, o que dizer da governação da RAEM? Passou, é certo, a fase de aprendizagem, em que a “falta de experiência” foi abundantemente utilizada para justificar os erros. Já não pega. Contudo, poder-se-ão assacar erros terminais? Certamente que não. Aliás, os sucessivos governos pecam mais pelo que não fazem do que, propriamente, por fazerem mal o pouco em que se cometem. Torna-se inexplicável como pode um Executivo, com o orçamento mais luxuoso do mundo, manter a sua população privada de uma estrutura de apoio social que permita prescindir do engodo dos cheques anuais. E, na sua inexistência, de como não se vislumbra uma estratégia coerente para o futuro.
Não se compreende, nomeadamente, como pode uma cidade destas ter níveis ambientais lamentáveis, um sistema de saúde público vacilante e tantas outras contradições que espelham algum desnorte governativo.
Entendemos o caso Ao Man Long como um sintoma de uma doença de um sistema que, sem ser a causa directa, facilita ou possibilita ainda a emergência destes fenómenos, cuja irradicação só será realmente conseguida através de uma profunda reforma metodológica.
Ora este caso que, ao invés de ter sido resolvido de forma adulta e frontal, continua a pairar como um fantasma nas instâncias administrativas e decisórias, tem obstruído grande parte da criatividade política e refreado a audácia governativa. Ainda recentemente, restos e vestígios do caso foram de novo chamados à colação, lançando algum pânico e mal-estar num Governo que ainda parece refém deste passado mal resolvido. Esta situação deve e tem que acabar, para o bem comum.
O que o Governo precisa rapidamente de sinalizar é que se interessa realmente pelo futuro desta população e não que remenda o barco cada vez que um tripulante faz um furo. Precisa de despoluir a península de Macau e criar mais e melhores acessos à Taipa, sem a transformar num espaço mal amanhado. Precisa de proteger Coloane. Precisa de garantir a saúde viária da cidade. Precisa de diversificar realmente a economia. Precisa de não se enredar no logro em que se transformou o conceito de indústrias criativas. Precisa de… fazer tantas, tantas coisas…
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Kim morto, Kim posto. E, ao contrário da maior parte dos analistas, não me parece que tudo ficará na mesma. Ou seja, a sinificação do país terá agora de ocorrer de forma galopante. É assim que leio os pesares e as homenagens de Pequim à dinastia norte-coreana. A China aposta no longo prazo mas uma coisa é certa: não lhe apetece prescindir da sua influência, agora e no futuro, naquela parte da península coreana. Daí que tenha aturado as desfeitas dos generais dos Kim.
Quem foi esperto, no meio disto tudo, foi Kim Jong-nam, o filho mais velho e velho conhecido de Macau. Ele não está para estas coisas das lutas de poder e das políticas e prefere gastar o dinheiro extorquido ao povo pelos casinos e hotéis de luxo do mundo. Eles deviam era ser todos presos…
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Doze anos passaram. E agora, assim do nada, saiu um artigo em Portugal, no jornal i, que insulta quem exerce em Português a profissão de jornalista em Macau. É giro porque nunca li um elogio ao facto de nós por aqui mantermos vivos língua e valores ao fim de uma dúzia de anos. Diz muito sobre Portugal.
Mas não pode ser cada jornalista individualmente a manifestar-se, pois é para isso que somos representados. Num caso que gera unanimidade e em que toda a classe foi humilhada, é imprescindível que a direcção da AIPIM – Associação da Imprensa em Português e Inglês de Macau – tome uma posição sobre o assunto junto do referido diário. Se não o quiserem fazer, não se expliquem: demitam-se.
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