segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Paul Krugman: ROMNEY, OBAMA E OS EMPREGOS DOS EUA




Paul Krugman - de Nova York, EUA – Correio do Brasil, opinião

Romney alega que Obama vem sendo um destruidor de empregos, enquanto ele teria sido um empresário que os criou. Disse à Fox News: “(Obama) perdeu 2 milhões de empregos, mais que qualquer outro presidente desde Hoover”. E declarou sobre seu período trabalhando na firma de participações acionárias Bain Capital:

– Ajudamos a gerar mais de 100 mil empregos.

É verdade que hoje há 1,9 milhão de norte-americanos empregados a menos do que havia quando na posse de Obama. Mas o presidente herdou uma economia em queda livre; não pode ser culpado por perdas de empregos nos seus primeiros meses de governo, em 2009, antes de suas próprias políticas terem tido efeito.

Entre janeiro e junho de 2009, a economia norte-americana perdeu 3,1 milhão de empregos; desde então, ganhou 1,2 milhão. Não é o suficiente, mas não tem a menor relação com o retrato traçado pelo republicano.

O que Romney alega sobre Obama não é literalmente falso, mas induz ao engano. Mas mais surpreendente é a alegação de ter criado 100 mil empregos. De onde ela vem?

Segundo a campanha de Romney, é a soma dos empregos ganhos em três empresas que ele “ajudou a fundar ou fazer crescer”: Staples, The Sports Authority e Domino’s.

O Washington Post chamou a atenção para dois problemas: a contagem é baseada em “cifras atuais, não do período em que Romney trabalhou na Bain”, e “não inclui perdas de empregos em outras companhias com que a Bain esteve envolvida”. Qualquer desses problemas já invalida a alegação inteira.

De todo modo, não faz sentido olhar mudanças na força de trabalho de uma empresa e achar que servem para medir a geração de empregos na América (do Norte) como um todo.

Suponhamos, por exemplo, que sua rede de papelarias eleva a sua fatia no mercado, às expensas de redes rivais. Você passa a empregar mais pessoas, enquanto a concorrência emprega menos. Qual é o efeito final sobre o emprego?

Melhor: suponhamos que sua empresa tenha crescido em parte não por superar a concorrência, mas, sim, por adquirir as rivais. Agora, os empregados dessas empresas são seus. Você gerou empregos?

Pode-se indagar se não é igualmente incorreto dizer que Romney destruiu empregos. Sim, é. A queixa real é que destruiu empregos bons.

Quando a poeira assentou após o downsizing nas empresas que a Bain reestruturou – ou depois de essas companhias terem falido -, o número total de empregados nos EUA era mais ou menos igual ao que teria sido de qualquer maneira. Mas os empregos perdidos pagavam mais, com benefícios melhores.

Romney e pessoas como ele não destruíram empregos, mas enriqueceram enquanto ajudaram a destruir a classe média norte-americana. E é essa realidade que se pretende obscurecer com todo o papo furado sobre empresários geradores e democratas destruidores de empregos.

*Paul Krugman é professor de Economia em Princeton e Prêmio Nobel 2008.

Artigo publicado originariamente na edição do New York Times, de 03 de Janeiro de 2012 - Tradução: CdB

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