Martinho Júnior, Luanda
UMA CONTÍNUA INGERÊNCIA NEO COLONIAL - OPÉRATION CORYMBE!
Ao longo de 2011 a França envolveu-se em vários teatros operacionais de características distintas em África: a norte (Líbia), a leste (Djibouti e áreas adjacentes, incluindo a Somália e o Índico norte) e a Oeste (Golfo da Guiné – Costa do Marfim) com particular ênfase em dois países: a Líbia e a Costa do Marfim.
Sobre a Líbia produzi vários artigos evidenciando os interesses e a profundidade das ingerências numa região onde a França não tinha presença continuada e agiu ao abrigo duma Resolução do Conselho de Segurança da ONU.
No quadro da Costa do Marfim as operações são completamente distintas: há um histórico da presença militar francesa no país (para além das Resoluções da ONU), que tiveram continuidade a partir de 2002 através de duas operações de geometria variável: a “Opération Lycorne”, em terra e a “Opération Corymbe” utilizando meios navais.
Na Costa do Marfim a presença francesa é uma redundância duma estratégia envolvente, que se desprega do Senegal a Angola, tendo como pontos principais de apoio o Senegal e o Gabão, de forma a garantir uma patrulha permanente no Golfo da Guiné, onde a França possui interesses disseminados pelos campos petrolíferos de muitos países, incluindo Angola.
De forma rotativa a França faz deslocar navios da sua marinha de guerra para o Golfo da Guiné, havendo a tendência nos últimos anos de se passar dos avisos de longo raio de acção, para os navios multi funções com capacidades operacionais adequadas de forma a encontrar múltiplas motivações de ligação e operação.
Essa geoestratégia possui portanto vários rótulos que são cosmética em relação à própria presença militar: combate à pirataria, combate ao tráfico de droga, instrução de marinhas africanas aos níveis julgados convenientes, presença de bandeira (à semelhança das “partnership missions” da USNavy)…
De facto há uma consistente e prolongada presença francesa no Golfo da Guiné, ao jeito da continuidade da “Françafrique”, eminentemente neo colonial por que consiste num sistema de vigilância sobre os interesses franceses, sobretudo os petrolíferos, assim como um potencial imediato de ingerência para além do Gabão e do Senegal (continuam a ser 8 os países africanos que mantêm acordos militares com a França).
É nesse contexto que a França estendeu a Angola o raio de acção da “Opération Cprymbe” e procura captar o interesse dos angolanos.
O discurso de Sarkozy na cidade do Cabo, em 2008, deu o mote às actuais geo estratégias da “Françafrique”, estimulando a ingerência neo colonial.
A estratégia francesa no Golfo da Guiné integra por seu turno conexões inevitáveis:
1 – Com os dispositivos da NATO, da qual a França faz parte, em especial no flanco sul (a sul de Cabo Verde) da área tradicional dessa Organização.
2 – Com o AFRICOM, tendo em conta o crescendo das actividades dos Estados Unidos no ocidente africano, incluindo o Golfo da Guiné.
A França estimula as relações militares e dos seus próprios serviços de inteligência, arregimentando para essa causa os países africanos, em particular aqueles que com ela possuem acordos históricos formulados após as suas independências de bandeira.
A vinda a Angola do « transport de chalands de débarquement » Siroco (L 9012) com escala em Luanda entre os dias 27 e 30 de Janeiro, é um reforço ao esforço de atracção que os países da NATO e os Estados Unidos, via AFRICOM, estão a realizar para com Angola, tirando partido da relativa estabilidade angolana, reconhecido produtor de petróleo, uma estabilidade que contrasta com as tensões noutros produtores, incluindo a Nigéria, o país mais decisivo do Golfo da Guiné.
A TOTAL tem participado nas estratégias do petróleo « offshore » e muito recentemente o seu Director Geral em Angola, a propósito do programa inovador PazFlor (« Grandes desafios tecnológicos acontecem em Angola » - Jornal de Angola – em entrevista anunciou:
« Cheguei em Setembro, para exercer as funções de director-geral da nossa filial em Angola e tive a oportunidade de me encontrar com o senhor Presidente, quando ele recebeu em audiência uma delegação da nossa empresa, por ocasião da inauguração do Pazflor, em Novembro último.
Claro que não pudemos deixar de falar sobre o Projecto Pazflor.
Este projecto, agora já a produzir, ficará na história da indústria petrolífera mundial como um projecto que conseguiu combinar grandes inovações tecnológicas com o respeito pelos custos e pelo cronograma.
O Pazflor é o primeiro a fazer a separação submarina gás/líquido em grande escala para produzir dois tipos de petróleo numa única instalação de produção a bordo dum navio chamada FPSO (Unidade Flutuante de Armazenamento e Exportação).
Só o projecto Plazflor representa um investimento global de nove mil milhões de dólares norte-americanos, cerca de 4500 pessoas trabalharam nele, realizando um total de 32 milhões de horas de trabalho em quatro continentes.
Os grandes desafios tecnológicos na indústria petrolífera estão, pois, a acontecer em Angola e é estimulante para a Total participar nessas inovações”.
Cheguei em Setembro, para exercer as funções de director-geral da nossa filial em Angola e tive a oportunidade de me encontrar com o senhor Presidente, quando ele recebeu em audiência uma delegação da nossa empresa, por ocasião da inauguração do Pazflor, em Novembro último. Claro que não pudemos deixar de falar sobre o Projecto Pazflor.
Este projecto, agora já a produzir, ficará na história da indústria petrolífera mundial como um projecto que conseguiu combinar grandes inovações tecnológicas com o respeito pelos custos e pelo cronograma. O Pazflor é o primeiro a fazer a separação submarina gás/líquido em grande escala para produzir dois tipos de petróleo numa única instalação de produção a bordo dum navio chamada FPSO (Unidade Flutuante de Armazenamento e Exportação).
Só o projecto Plazflor representa um investimento global de nove mil milhões de dólares norte-americanos, cerca de 4500 pessoas trabalharam nele, realizando um total de 32 milhões de horas de trabalho em quatro continentes. Cheguei em Setembro, para exercer as funções de director-geral da nossa filial em Angola e tive a oportunidade de me encontrar com o senhor Presidente, quando ele recebeu em audiência uma delegação da nossa empresa, por ocasião da inauguração do Pazflor, em Novembro último. Claro que não pudemos deixar de falar sobre o Projecto Pazflor.
Este projecto, agora já a produzir, ficará na história da indústria petrolífera mundial como um projecto que conseguiu combinar grandes inovações tecnológicas com o respeito pelos custos e pelo cronograma. O Pazflor é o primeiro a fazer a separação submarina gás/líquido em grande escala para produzir dois tipos de petróleo numa única instalação de produção a bordo dum navio chamada FPSO (Unidade Flutuante de Armazenamento e Exportação).
Só o projecto Plazflor representa um investimento global de nove mil milhões de dólares norte-americanos, cerca de 4500 pessoas trabalharam nele, realizando um total de 32 milhões de horas de trabalho em quatro continentes.
A absorção por parte de Angola de novas tecnologias de exploração de petróleo e gás é evidente, mas isso têm implicações múltiplas de ordem económica, financeira, sócio-política e geo estratégica.
Os sucessos de Angola na indústria do petróleo estão a funcionar como um catalizador para outro nível de geo estratégias atraindo as esferas de influência ocidentais ao nível de suas super estruturas.
De certo modo e com isso é lançado um repto ao estado Angolano : até que ponto vai funcionar a « harmonia » em sua própria sociedade e nos relacionamentos internacionais ?
Se na sua sociedade as assimetrias e os desequilíbrios são por demais evidentes (não será a indústria do petróleo que contribuirá para as atenuar, muito pelo contrário), nos relacionamentos internacionais a emergência angolana observada no seu espaço físico geográfico, atrai também os interesses e o poder dos BRICS, o que nos aspectos militares e de inteligência influi na conjugação de geo estratégias entre Angola e a África do Sul, com a Argentina e o Brasil, no espectro do Atlântico Sul, potencialmente concorrentes aos esforços da NATO – AFRICOM.
O petróleo como estimulante em Angola, implica a formação duma casta, até por que a indústria petrolífera não absorve quantidades expressivas de quadros ou de trabalhadores, uma casta que de certo modo se distancia do resto da sociedade, tudo isso funcionando a contento das « novas elites » e de alianças externas ocidentais conservadoras e em alguns casos, como nos sectores dos petróleos e diamantes, intimamente associadas à globalização neo liberal promovida pelo unilateralismo do império, tal como à fotmação de suas preferidas elites.
As armas do norte, com toda a persuasão à mistura, para garantir os fluxos de matérias primas do sul e, se necessário o emprego da força sempre que haja a necessidade de garantir a rapina !
Com a presença do TCD Siroco em Luanda, sublinha-se o significado do Ambriz e de Cabo Ledo nas conexões militares entre Angola a NATO e o AFRICOM, atraindo Angola às arquitecturas e engenharias ocidentais de ingerência em África de acordo com os programas e geo estratégias neo coloniais !
Foto : O TCD Siroco em Luanda – foto do Jornal de Angola
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