sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

VIOLÊNCIA SEM FIM NA NIGÉRIA REALÇADA NA IMPRENSA GERMÂNICA




Os observadores na Síria e as tensões religiosas na Nigéria foram temas africanos em destaque. O tema da semana na imprensa alemã porém, foi a tentativa de silenciamento da imprensa por parte do presidente da República.

“O terror religioso na Nigéria parece não querer acabar” escreve o Frankfurter Allgemeine Zeitung. No domingo passado a seita radical islâmica Boko Haram fez um ultimato de três dias aos cristãos no norte da Nigéria. Eles deviam abandonar o norte senão sentiriam a “vingança de Alá”. O prazo expirou na quinta feira (5.11) e o Boko Haram marcou a sangue o final do ultimato matando seis cristãos e ferindo outros dez num ataque a uma igreja na cidade de Gome. A Nigéria tem 160 milhões de pessoas, sensivelmente metade muçulmanos - maioritários no Norte - e metade cristãos - os mais numerosos no Sul.

O diário alemão salienta que o Boko Haram evoluiu de uma seita radical para “uma verdadeira ameaça à segurança” e não apenas na Nigéria, mas em toda a região, uma vez que já se estabeleceu nos países vizinhos Camarões e Níger. “O grupo está de tal forma bem organizado que os serviços secretos não se conseguiram infiltrar, de forma que não existem dados exatos quer sobre o número de militantes, quer sobre a sua estrutura”. O que se sabe é que a inspiração deste grupo terrorista é Osama Bin Laden, que “ é adorado como um herói na Nigéria” escreve o Frankfurter Allgemeine Zeitung, acrescentando que “por todo o lado se encontram T-Shirts com o seu rosto”.

Para o diário conservador a radicalização islâmica do norte da Nigéria é consequência direta da “corrupção e incapacidade do Estado de proporcionar condições de vida dignas para os seus cidadãos. O grupo Boko Haram foi fundado em 2002 por Mahammed Yusuf que mais tarde seria morto em 2009 numa esquadra da polícia. O grupo que não passava no início de uma escola corânica com o objetivo de dar escolaridade aos mais pobres, aqueles que não podiam pagar as propinas nas escolas estatais, evoluiu para uma forma de lecionar o Islão que vê como pecado capital qualquer influência ocidental.

Do Darfur para Homs

“A carreira de Mohammed Mustafa al-Dabi enquadra-se na categoria das mais espantosas reviravoltas no palco internacional”, salienta o semanário Die Zeit. “Desde 26 de Dezembro que o general sudanês chefia a missão de observadores da Liga Árabe na Síria, que tem como objetivo entre outros controlar a libertação dos presos políticos e a retirada dos militares das cidades”. Mas, não apenas a oposição síria “questiona o resultado das observações de alguém que tem mais experiência no uso da força contra civis do que na sua prevenção”.

Dabi, foi responsável pelas operações militares no Sul do Sudão ou por outras palavras “pela política de terra queimada de Cartum”, sublinha o Die Zeit. Para este semanário o Sudão está a usar a primavera árabe para marcar pontos diplomáticos. “ Também no Sudão dissidentes tentaram convocar uma primavera árabe, mas os protestos foram abafados logo à nascença pelos serviços de segurança”.

Cartum reagiu no entanto de forma diferente à revolução no país vizinho a Líbia. “Durante a guerra civil o Sudão entregou armas aos rebeldes líbios”, escreve o Die Zeit e apresentou-se ao lado da NATO e do presidente francês Nicolas Sarkozy como “libertador”. O Conselho Nacional de Transição retribuiu o apoio sudanês com uma visita a Cartum.

“Observar, documentar, investigar e tornar público é a forma mais trabalhosa, mas também mais eficaz de intervenção”, frisa o Die Zeit. “Podemos interrogar-nos porque é que ninguém tem a ideia de exigir o mesmo ao Sudão.

Presidente alemão na mira das críticas

A dominar as páginas da imprensa esteve no entanto a suposta tentativa de censura do presidente da República alemão, Christian Wulff.

“Christian Wulff não tem a grandeza de um presidente, escreve o Südeustche Zeitung, “Ele esqueceu-se que não governa uma região ou uma cidade. É verdade que todos os jornalistas locais conhecem esse tipo de pressões por parte de deputados ou de presidentes de câmara que tentam evitar a publicação de um artigo. Mas um presidente da República que põe em causa o principio da liberdade de expressão garantido pela Constituição não é digno de ser presidente.

O Die Tageszeitung vai ainda mais longe, “que hipócrita” escreve. “Christian Wulff publicou um comunicado em que defende o princípio sagrado da liberdade de expressão. O que é no mínimo estranho vindo da parte de alguém acusado de tentar silenciar a imprensa”.

Autor: Helena de Gouveia - Edição: António Rocha

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