terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Angola: Rafael Marques sobre Isabel dos Santos e suas controvérsias



Deutsche Welle

Em 2007 Isabel dos Santos processou o Jornal italiano "La Stampa" e três dos seus jornalistas pela publicação de um artigo que a acusava de corrupção. Num artigo, Rafael Maques revela o que está por detrás do processo.

“A honra e as mentiras de Isabel dos Santos" é o mais recente artigo publicado por Rafael Marques. No artigo, o defensor dos direitos humanos angolano apresenta factos que comprovariam que, para defender a sua própria honra, a filha do presidente angolano lesou a honra do povo angolano, tal como apresentou argumentos falsos relativos à governação do seu pai. Em entrevista à DW África, Rafael Marques falou sobre o processo de Isabel dos Santos contra o jornal italiano "La Stampa" já que, em breve, a Procuradoria de Turim, deverá decidir sobre o caso:

Rafael Marques: Chega a ser incompreensível como é que a Isabel dos Santos, cujos negócios em Angola são bem conhecidos, possa apresentar uma queixa dizendo que não administra absolutamente nada. E, por outro lado, também quer envolver-se na política, afirmando que o seu pai não é um ditador e que foi eleito em 1979, altura em que vivíamos sob um regime marxista-leninista que não permitia eleições, nem sequer a existência de outros partidos. Em 1992, e isto é de conhecimento universal, o seu pai não ganhou as eleições presidenciais na primeira volta contra Jonas Savimbi e nunca ouve uma segunda volta. Então ela faz uma série de narrações que, falando em nome de poucos angolanos e em honra dos angolanos, mentindo. Isso é grave e é preciso que seja denunciado e que a verdade seja reposta.

DW África: E estas afirmações de Isabel dos Santos, que considera mentira, em que medida põem em causa a credibilidade do presidente?

RM: Não põem em causa a credibilidade do presidente porque o presidente não tem credibilidade nenhuma em Angola. O que a Isabel dos Santos faz é o que o pai faz todos os dias. Se o presidente tem alguma credibilidade é a credibilidade de continuar a assinar os contratos petrolíferos, de manter-se no poder como figura com quem o mundo precisa de negociar. Para além disso, não creio que tenha qualquer efeito na credibilidade do presidente, porque, internamente, o presidente não tem credibilidade. É um presidente que, volta e meia, fala na construção de um milhão e meio de casas e depois nem sequer consegue dar mil ou duas mil casas aos mais desfavorecidos. É necessário que os angolanos tomem, cada vez mais, consciência da necessidade de se afirmarem como cidadãos e de terem uma intervenção pública muito mais ativa, para evitar esse tipo de situações. Situações em que aqueles que se encontram no poder se acham no direito de dizer o que bem entendem, sendo verdade ou mentira, porque não serão desmentidos por falta de órgãos que possam difundir mensagens contrárias àquelas do poder.

DW África: Ao usar estes argumentos falsos como, comprova no seu artigo, pode-se depreender que a senhora Isabel dos Santos não se sairá bem com esta queixa contra o jornal italiano?

RM: Com certeza que não se sairá bem, porque não se pode apelar à justiça para defender a honra apresentando mentiras. É contraditório e contraproducente. E, em certos casos, ela até poderia ser acusada de perjúrio, ou seja, de estar a enganar a justiça. Mas, como é filha do presidente, certamente, isso não vai acontecer. Mas acredito que este caso não venha a ter continuidade, porque os factos estão aí.

DW África: Porquê esta ação judicial contra o jornal italiano quando outros, inclusive o Rafael Marques, têm denunciado a participação de Isabel dos Santos em negócios e nunca foram processados?

RM: É uma questão de arrogância. É essa a arrogância de quem tem muito dinheiro e tem a capacidade de defender a sua honra levando estes órgãos todos aos tribunais. E em Angola, claro que ela não pode fazer isso porque as pessoas sabem da verdade.

Autor: Nádia Issufo - Edição: Carla Fernandes / António Rocha

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