Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Eduardo Catroga afirmou hoje que não sabe quanto vai ganhar como presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP. Provavelmente, tal como o seu grande amigo Cavaco Silva, o que ganhar não vai chegar para as despesas.
Pelos vistos o anunciado salário de 45 mil euros/mês, ou seja mais de 639 mil euros anuais, ainda está sujeito a acertos…
Catroga, ao contrário de Cavaco Silva, falou aos jornalistas no final da Assembleia-Geral de accionistas extraordinária da EDP, e considerou a sua escolha para liderar o órgão fiscalizador da eléctrica "natural", defendendo que a polémica em torno do seu nome foi "artificial".
Soubessem os súbditos portugueses que Eduardo Catroga nem para as mais elementares despesas vai ganhar e, creio, estariam caladinhos ou até já teriam iniciado uma campanha para ajudar o pobre presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP.
Creio até que essa campanha de solidariedade, tão peculiar aos portugueses, deveria também incluir – entre outros - Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Faria de Oliveira, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Mexia, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões ou Duarte Lima.
Quem não conhece a realidade do reino lusitano a Norte, embora cada vez mais a Sul, de Marrocos, até pode julgar que a qualidade de vida dos reformados portugueses está abaixo da média da Europa Ocidental. É falso. Mas mesmo que fosse, sempre está uns pontitos acima do que se passa no Burkina Faso, não é senhor Aníbal Cavaco Silva?
Dizem as estatísticas, feitas exclusivamente para atazanar o sumo pontífice Pedro Miguel Passos Relvas Coelho, que dois terços dos portugueses considera que o valor da reforma que têm é insuficiente para suprir as necessidades (para pagar as despesas, segundo Cavaco Silva), uma proporção que aumenta entre as mulheres e as classes sociais mais baixas.
Sinceramente parece-me pouco plausível. Acredito, isso sim, que os portugueses são uns mal agradecidos. Pelo menos não lhes é dito, para já, (utilizando a frase do ministro angolano Kundy Paihama) que comam farelo “porque os porcos também comem e não morrem”.
Não lhes é dito, por enquanto. Creio, contudo, que um dia destes – se calhar pela boca do pobre presidente da República - vão mesmo ter de escolher entre as duas únicas alternativas possíveis: viver sem comer ou investir em farelo.
A seguir à Hungria e à República Checa, Portugal é o país europeu onde as pensões são as mais baixas e seriam precisos em média mais 110 euros por pessoa para fazer face às despesas domésticas básicas, uma realidade que mais uma vez tem maior incidência nas classes sociais mais baixas.
E se assim é, como exemplo bem poderiam aumentar as reformas de Cavaco Silva e Eduardo Catroga em mais 110 euros…
Este tema recorda-me, vá lá saber-se a razão, João Rendeiro, o antigo presidente do Banco Privado Português, que recebeu, em 2008, três milhões de euros em remunerações e nesse mesmo ano o BPP solicitou o auxílio do Banco de Portugal para evitar a falência.
Se Portugal é baixo em quase tudo, está por baixo (quase sempre de cócoras) em quase tudo, até por uma questão de coerência deve continuar assim. Não é isso, senhor primeiro-ministro? Não é isso, senhor presidente da República?
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: VALE TUDO NO (IM)POLUTO REINO LUSITANO
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